Eduardo Borges Espínola Araújo é mestre em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como não consigo dormir antes das 2h, encontro certa dificuldade em acordar cedo. Acordo por volta de 8h e, ainda na cama, leio os boletins de notícias que recebo em meu e-mail. A roupa que usarei para trabalhar no dia seguinte eu deixo separada ainda de noite. Depois de me arrumar, tomo café enquanto organizo meus afazeres diários. Busco manter uma lista do que preciso fazer ao longo do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Acredito ser bem mais produtivo ao longo da manhã e à noite, sobretudo de madrugada, quando as distrações são poucas. Em preparação, rascunho no papel o que desejo escrever, separando as ideias e traçando as ligações entre elas. Só consigo passar à escrita depois de elaborar um roteiro e um parágrafo introdutório.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro escrever uma página ao longo de todos os dias do ano. Como o meu processo de escrita é muito truncado, escrever uma página por dia já é uma vitória.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo de escrita é burocrático, para não dizer custoso. Depois de jogar as principais ideias no arquivo, cada uma correspondente a um parágrafo, passo a desenvolvê-las sempre ao lado das minhas anotações. Finalizado um trecho, procedo à releitura, à caça de palavras repetidas e à correção de erros corriqueiros. Somente depois consigo começar o próximo parágrafo. A circunstância de não gostar de citações diretas dá um bom trabalho, também. Ao contrário de toda essa burocracia, a passagem da leitura à escrita é espontânea. Se feitas as principais leituras, compiladas as minhas notas e organizado o roteiro inicial, passo imediatamente à escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Para lidar com minha ansiedade, faço um planejamento mensal que procuro cumprir ao máximo. Mas, quando sinto que aquele dia não vai render, simplesmente cuido de afazeres outros para não perder tempo. Faço outras leituras, organizo as notas, preencho as referências… Para contornar o perfeccionismo no processo da escrita, estipulo um número máximo de linhas por parágrafos e de páginas por capítulos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Assim que termino a redação do texto, trato de fazer alguma outra atividade para descansar o olhar. Finda a primeira revisão, encaminho meu trabalho geralmente a amigos, cujas sugestões eu sempre aproveito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Esboço o primeiro parágrafo à mão. Depois, começo a redigir no computador – sempre no mais absoluto silêncio possível. Além do próprio word, eu não uso qualquer outro recurso tecnológico.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm sobretudo de conversas com amigos e professores. Tento manter o hábito de ler diariamente colunas e artigos jurídicos, que geralmente trazem análises mais frescas sobre os últimos acontecimentos e debates.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua dissertação?
Nunca fui de escrever em termos rebuscados, mas hoje tenho certa aversão a adjetivos desnecessários e redundantes. Acredito que minha escrita tornou-se mais objetiva. Se pudesse voltar à escrita da minha dissertação, certamente redobraria minha atenção com relação a isso.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto que gostaria de fazer é um “manual de direito anticonstitucional”. Ali, exploraria as origens do constitucionalismo moderno, atentando às suas raízes aristocráticas e suas pretensões conservadoras. Até que ponto o constitucionalismo é efetivamente democrático? Acredito que menos do que gostaríamos. Além do manual, gostaria de ler um livro que aprofundasse os paralelos entre o direito e a teologia. Tenho interesse por essas análises, a exemplo de direito e magia, de direito e estética, de direito e psicologia…