Edivan Costa é antropólogo, cientista social e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente acordo tarde. Sento para tomar meu café da amanhã, leio notícias e respondo os primeiros e-mails do dia. Verifico necessidade de organizar algo da casa e logo em seguida vou para academia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu percebo que sinto melhor no período da noite e madrugada. Geralmente preparo meu café muito forte e sem açúcar, acendo alguns incensos e sento sob minha mesa do escritório. Escuta uma música animada para relaxar, respondo e-mails e leio notícias. Eu fico mais relaxado e já inicio meu trabalho sobre minhas leituras e escritas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Isso é muito variável. Eu não acredito em meta para escrita. Eu prefiro manter meu ritmo de leitura. As vezes escrevo muito em um dia, por exemplo, várias páginas e em outros escrevo apenas um parágrafo. Acredito que seja importante manter exercício diário da escrita. Eu não gosto de metas para escrita por resultarem em uma pressão e que pode gerar frustações por não manter uma suposta meta de escrita.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Iniciar escrita é mais difícil, todavia, este momento é o melhor por possibilitar conhecer a estrutura do texto. Eu costumo dizer que a parte mais difícil do texto é sempre as primeiras linhas porque não sabemos por onde iniciaremos. Acredito na importância que pesquisas, leituras e escrita como tríade que necessita manter unificada por uma complementar a outra. Isso nos permite que nós possamos saber por onde estamos nos guiando no processo de elaboração do texto. Geralmente as notas ocorrem no decorrer das leituras, pesquisas e escrita por isso tento incluí-las em todo momento em meu texto. Eu sou um antropólogo que gosta sempre de escrever uma nota por facilitar ao meu leitor sobre conteúdo da minha escrita. As notas são importantes, pois permite ter noções macro e micro da minha escrita. No meu caso, incluir as notas na estrutura do meu texto facilita minha escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Muitos pesquisadores tem medo da procrastinação por ser considerado algo muito ruim. Eu já acho que procrastinar é algo bom por possibilitar “desligar” da pesquisa. É necessário compreender que sentar em frente ao computador não é significado que poderá escrever várias laudas. Acho que desmistificar a procrastinação possibilitará tirar um peso que nos pesquisadores carregamos. Minha expectativa é sempre escrever no mínimo cinco linhas por dia. No inicio será difícil, depois leio o que escrevi e observo as necessidades de realizar correções. Vejo que posso complementar uma informação especifica daquelas cinco linhas que escrevi. Talvez realizar uma citação de outro autor que justifica meu ponto de vista. Depois disso percebo que já escrevi mais de cinco linhas, já escrevi uma página. Precisamos escrever aos poucos para ter avanços que ajudará lidar com as travas da escrita.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Busco sempre que possível revisar meus textos por ser necessário. Um texto nunca estará pronto para publicação. Toda vez que realizamos revisão percebemos as necessidades de incluir algo aqui, desenvolver certo conteúdo ali, explicar um pouco mais logo mais adiante etc. Certa vez quando eu estava na graduação um professor disse que um texto nunca estará pronto, mas estará viável para apresentação. Além disso, os colegas pesquisadores são muito importantes no processo de escrita. É costume escutar que processo de escrita é solitário, mas acho que é possível reverter essa concepção. Acredito que a escrita não deve ser um processo solitário, precisa ter parceiros que possam realizar leituras críticas, observações e indicar aquilo que não tenha ficado compreensível. Eu gosto de apresentar meus trabalhos aos meus colegas antes da publicação por conseguirem detectar algo de “errado” que não consegui perceber. Eu também adoro quando meus colegas pedem para que eu possa avaliar os trabalhos deles antes de serem publicados. É nesse momento que aprendo por possibilitar criar sugestões, avaliar os argumentos, realizar correções e elogiar a escrita. Não é possível produzir Ciência de modo solitário por ter necessidade de outros pesquisadores como nós. Nas ciências humanas e sociais o debate é fundamental para avanços da Ciência.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sou de uma geração que cresci com tecnologia e por isso não tenho muito espanto por ela. Eu conheço pesquisadores que preferem realizar rascunhos em papeis e outros no computador. Isso varia de pesquisador para pesquisador. Eu prefiro escrever logo no computador por facilitar meu processo de escrita, mas como disse… É variável de pesquisador para pesquisador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm de muitos lugares. No decorrer da minha trajetória acadêmica pesquiso aspectos das migrações chinesas. Nesse caso, gosto de manter presente em meus trabalhos de campo. Eu costumo dizer que realizo etnografia sem saber que estou realizando. A realização do trabalho de campo permite conhecer ainda mais seu objeto de estudo. Como antropólogo, eu observo a necessidade da leitura de trabalhos etnográficos. Eu já venho observando que nos últimos tempos existe pouca leitura de trabalhos etnográficos. Acho importante a leitura de trabalhos etnográficos por auxiliar na leitura da nossa escrita. Acho bom para processo de escrita e saudável para nossas mentes conversar com nossos pares na Universidade e nos congressos. Eu creio que na mesa de bar com algumas cervejas nossos colegas nos ajudam ainda mais refletir e nos manter mais criativos. O debate acadêmico é importante e precisa ser sempre mantido. Logo, como disse anteriormente: a Ciência não é produzida no isolamento.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Quando olho para trás observo que minha escrita melhorou e quando penso no futuro percebo que minha escrita mudará ainda mais. Nossa escrita é uma eterna metamorfose que ficará melhor no decorrer do tempo. Eu penso que quando mais escrevemos – mesmo que possa parecer difícil – nos fortalece no processo de escrita. Nós devemos olhar para nossos primeiros textos e observar nossa escrita. Assim, podemos perceber que nossa escrita mudou no decorrer dos anos. Mudar é sempre bom e ainda teremos muito tempo em nossa vida como pesquisadores para mudar nossa escrita. Eu diria para mim mesmo seu pudesse voltar à escrita dos meus primeiros textos seria para continuar lendo. A leitura nos auxilia aperfeiçoar nossa escrita.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho vários projetos que pretendo colocar em prática. Ter contato com novas culturas e experiências sociais sempre me estimulam como antropólogo. São vários livros que gostaria de ler, todavia, nos últimos tempos a literatura mexicana desperta meu interesse. Eu tenho muitas obas da literatura mexicana para serem lidos.