Dulce Maria Baptista é professora adjunta na Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia com uma leitura do primeiro caderno do jornal que assino. Os outros cadernos ficam para depois. Em seguida, procuro realizar as tarefas que estabeleci de véspera. Assim, se devo proceder a uma revisão de literatura, é isso que pretendo fazer. Se se trata de uma leitura prévia, idem. Se vou redigir um texto introdutório, também, já que tento “escapar” do improviso e da dispersividade. Mas trata-se, antes de mais nada, de uma tentativa de me organizar, tendo em vista que não tenho temperamento propriamente disciplinado, e a produção acadêmica, de um modo geral, impõe normas de apresentação e prazos. Quando escrevo ficção, dou preferência ao final da tarde.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Consigo trabalhar melhor no final da manhã e no final da tarde, até às 20h. Se necessário, escrevo até mais tarde, porém trabalhar de madrugada é realmente muito sacrificado, e evito. Se é possível considerar esse um ritual, preciso de silêncio absoluto. Nada de música (embora adore música), de televisão, de campainha. Me isolo completamente. Em seguida, penso em possíveis tópicos, e tento desenvolver as ideias a partir desses tópicos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados, de acordo com cada projeto específico. Em geral, a meta é o texto completo; já experimentei fixar a meta diária em número de páginas, porém não chego a esse nível de disciplina, e então a tal meta se torna fonte de frustração.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita baseia-se na clareza sobre o que quero escrever. A partir do estabelecimento preciso do tema, do objetivo e da metodologia – quando é o caso – parto para a consulta a fontes. Faço minhas anotações e busco insights que ajudem na organização das ideias. Concluída essa etapa inicial – e considerando que podem surgir novas fontes no meio do processo todo – não sinto maiores dificuldades em começar a escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Procuro não ficar angustiada, mas reconheço que é difícil. Fico tentada a jogar tudo fora e partir para outra atividade bem diferente, como, por exemplo, caminhar, ouvir música, ir ao cinema.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Dependendo da complexidade e do tamanho do texto, faço até dez (!) revisões cuidadosas, o que não significa que ao ser publicado, o texto não contenha alguma falha. Dificilmente mostro meu trabalho para alguém antes de publicar, inclusive porque as pessoas estão, em geral, muito ocupadas. A menos que se trate de trabalho em coautoria.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo no computador, e conforme vou avançando na escrita, salvo cada parte no pendrive, imprimo trechos para fazer leituras mais detidas e anotações que possam alterar o sentido do texto. Minha relação com a tecnologia é de usuária. Acho que a escrita no computador é um excelente fator de economia de tempo, de conservação do que é escrito, e como base para posteriores consultas e referências.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Primeiramente, acho que leio bastante, inclusive jornais e revistas. De romances e contos atuais a clássicos, leio tudo que me cai nas mãos. Tento me manter atualizada. Leio literatura científica e especializada de minha área. Gosto de observar a realidade cotidiana, e acho (quando se trata de ficção) que a realidade quase sempre supera a fantasia. No meu entender, não há como cultivar a criatividade sem buscar a informação, sem observar a natureza, ou sem falar com as pessoas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Acho que houve um amadurecimento natural, em termos de interesses e de técnica. Se pudesse voltar, creio que escreveria sobre outro tema.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Pretendo escrever um livro didático, mas ainda não foi possível iniciar. Quanto à segunda pergunta, acho que o difícil é escolher – e às vezes de obter – o livro que se deseja ler. Para escolher, é preciso ter clara a prioridade do momento, já que vivemos em um mundo caracterizado por abundância de informações, estímulos, publicações de todos os tipos. Em ocasiões específicas, ocorre procurar um livro e ele está esgotado, e não se encontra disponível nem mesmo na editora. Não há um caso particular do que eu gostaria de ler e não existe. O meu desafio é justamente o contrário: dar conta de ler o que está diante de mim.