Douglas MCT é escritor, autor de O Coletor de Almas, a série de livros Necrópolis e o recente Betina Vlad e O Castelo da Noite Eterna.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não sou de acordar cedo, mas não consigo começar o dia sem um cafezinho. Além de outras tarefas da rotina, da academia no final da tarde e do entretenimento que não abro mão (como cinema e séries, que eu consumo bastante), tiro uma horinha pelo menos para avançar na leitura do livro da vez.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Geralmente sento no começo da noite para escrever, sempre acompanhado de alguma trilha sonora de filme para colaborar na atmosfera criativa, e uma caneca (não xícara, porque é muito) de café. E vou longe pela madrugada, até o sono chegar ou o sol subir, então me recolho.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou um autor completamente indisciplinado, não sigo nem estipulo metas, menos ainda números de caracteres por dia, como muitos dos colegas da área. Caótico é elogio. Escrevo todos os dias, mas a medida disso varia bastante de acordo com o tempo (principalmente o tempo), o estado físico, o estado psicológico e o clima (frio ou chuva sempre me inspiram mais). Posso escrever um parágrafo num dia, ou 10 páginas noutro e trabalho muito melhor com prazos. Talvez por ser oriundo da publicidade, eu renda duplamente quando os prazos estouram.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu pesquiso e anoto as ideias de personagens e ambiente paralelamente num primeiro momento, depois escrevo um resumo geral da obra (seja livro ou HQ) e em alguns casos desenvolvo a ficha dos principais personagens, para não perder detalhes nem cometer erros de continuísmo. Em seguida, parto para a escrita. Durante esse processo, eu também vou anotando cada nova ideia que surge pelo caminho, nomes etc, em um arquivo do Docs.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Já estou há vinte anos nessa, então aprendi a lidar melhor com tais problemas. O tamanho de um projeto não altera em nada para mim, porque eu determino prazos (ou determinam para mim) e isso facilita a condução, pois monto uma grade com as prioridades e vou tocando o barco. Como trabalho em mais de um projeto por vez, salto de um para o outro caso aconteça bloqueio em um deles. E mesmo assim, escrevo. Se não tiver bom, a segunda ou a décima leitura vão indicar isso e eu ajustarei. De qualquer maneira, outras leituras de livros e quadrinhos, e filmes e séries (com o mesmo tema e tom do que estou escrevendo no momento) também colaboram para eu sustentar minha “inspiração” em dia. E eu não me dou moleza, afinal.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso ao menos umas três ou quatro vezes, mas as releituras já
ultrapassaram dez. Isso sim varia do tamanho de um projeto. Contos geralmente
ficam na margem, mas meus romances ganharam leituras incansáveis. Geralmente,
eu gosto muito de debater meu livro em fóruns fechados entre alguns amigos
autores (em Grupo de Facebook ou e-mail), ou em encontros num café, o que
sempre rende bastante bem para a obra. Em algumas obras, procuro opinião
de um leitor beta, ou mais de um, como foi no caso do meu último romance, que
lidava com questões mais específicas e eu precisava de olhares do outro lado.
No mais, tanto livros quanto contos, estão
sempre passando por um copy antes de ir pro editor, o que também é um grande
benefício para a história. Em casos de roteiro para desenhos animados ou
projetos de audiovisual, existe uma cadeia maior de pessoas opinando.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A minha relação é 100%. Não escrevo a mão desde os 13 anos, inclusive detesto. Anoto todas as ideias base em um arquivo do Google Docs, e inclusive escrevo contos, novelas e pequenos romances nessa plataforma. Mantenho todos os arquivos no meu Dropbox. E sempre trabalho escrevendo com o site de Sinônimos e do Dicionário em aberto. No mais, digitalizo extremamente rápido e meu rendimento é bom. O digital ainda permita que eu escreva de qualquer máquina, seja de casa, do trabalho ou da casa da namorada e de amigos, além de aplicativos do smartphone se necessário.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Creio que o fato de eu ser eclético me permita ter ideias variadas, vindas de fontes distintas. Assisto muito a filmes, séries e animações de qualquer período ou país, por pura paixão que carrego desde a infância, o mesmo vale para minhas leituras de quadrinhos e livros. São repertórios importantes para uma pluralidade maior na minha produção. Conhecer e conversar com pessoas ajuda muito também na hora de criar um personagem verossímil. Até mesmo notícias de jornais e portais colaboram para clarear uma alguma ideia que esteja ali escondida. E por fim, geralmente minhas ideias vem quando estou embaixo do chuveiro.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu notei uma diferença enorme na minha escrita de um livro lançado em 2010 e outro em 2012, por exemplo, e percebo que é uma evolução constante, mas cada vez mais vou definindo um estilo narrativo, que já é característico para quem acompanha minhas obras. Eu creio que me tornei um autor mais objetivo e que dependo menos de ferramentas diversas (que são bonitas e cheias de recursos incríveis, mas que travam a produção). O uso preciso e objetivo da tecnologia facilitou muito meu processo de escrita. A leitura de novas obras, a redescoberta de antigos autores, e a participação cada vez maior em eventos na última década, me abriram a mente para novos elementos e possibilidades, que colaboraram direta ou indiretamente na minha escrita e narrativa, o que vem me deixando cada vez mais satisfeito com meus textos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho dezenas projetos iniciados, que ainda não continuei e outros tantos que gostaria de fazer. Alguns perderam o sentido ou o meu o interesse com o passar dos anos, enquanto que outros seguem na ânsia aqui, recebendo novas anotações a cada período. Cada projeto acontece no momento certo, tanto em meu momento enquanto autor, quanto do mercado e vou tocando assim. No momento, estou finalizando o extremamente pedido Necrópolis 3 (que era pra ter sido lançado em 2013, veja só), enquanto desenvolvo o roteiro de uma HQ spin-off da minha outra série, Betina Vlad e os Sobrenaturais. No mais, iniciei um projeto colaborativo e multimídia, que vai fantasiar em cima da mitologia mesoamericana, junto de J.M. Beraldo e Bruno Nunes Ribeiro.
O livro que eu gostaria de ler e ainda não existe, é Os Ventos de Inverno, do George R. R. Martin. E certamente novos contos de Conan, o Bárbaro, de Robert E. Howard (que poderia ter escrito infinitas novas histórias se não tivesse partido tão cedo).