Domingo Gonzalez Cruz é poeta e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou poeta. Minha escrita começa antes da escrita, percebendo a leitura do mundo, na qual incluo também a leitura escrita. Se não é poesia, leituras, pesquisas criam esse trajeto, com livros, principalmente. Não trabalho só como poeta e escritor. Trabalho com crianças e adolescentes em oficinas de criação, isso envolve outras dinâmicas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Meu ritual de escrita consiste em reescrever os textos ou os poemas, principalmente antes das 9 horas da manhã. Ou após longo tempo de engavetamento acompanhado pela leitura do mundo…
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Registro minha visão individual sobre o mundo, e também a coletiva, dos meus contemporâneos. Mas existe uma bagagem existencial que antecede o texto definitivo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Metodologia é tudo nesse momento. Cada um tem seu modo de criar o texto. Eu reescrevo muito. Não é difícil, embora tudo seja muito complexo nos dias atuais. Sou bibliotecário entre outras variantes profissionais. Isso ajuda bastante na pesquisa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Vou testando e contextualizando a caminhada. Medo, não. Observação crítica, sim. Não sou um Deus. Sou apenas um ser humano. Projetos longos carecem de pesquisas longas. A disciplina é fundamental.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Mostrar os trabalhos é bom, pessoalmente, pelo Facebook, por e-mail, e você mesmo lendo e relendo, etc.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de escrever a mão, e no computador. Depende do que desejo dizer e do que carece de correção mais profunda.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Leio muito, vejo filmes, palestras, debates, cursos, etc. A criatividade não nasce pronta, pode ser treinada, é como uma semente, tem o antes e tem o depois (Manoel de Barros disse mais ou menos isso com formato de poesia…).
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Posso modificar meus textos, se assim desejo. Alguns desapareceram, outros foram modificados, irrelevantes, etc. Se resistem, ainda podem ser enriquecidos, para isso existem as edições…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Livro? Uma segunda biografia sobre a vida e a obra de Carlos Drummond de Andrade. Projeto? Viver um pouco mais, para amadurecer a criatividade no que ela ainda não foi amadurecida.