Dione Carlos é dramaturga.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo cedo, durmo pouco, tenho insônia há anos. Faço algumas mentalizações ao despertar. Me arrumo e sigo para as atividades do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevi de madrugada por muitos anos, por causa do silêncio da noite, mas tenho escrito em outros períodos também. Preciso de isolamento e música para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados, por muitas horas. Perco a noção do tempo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Pesquiso muito, inclusive em diálogo com especialistas sobre o tema abordado, desenho cenas mentalmente e anoto frases soltas que surgem durante este tempo. Passo dias, meses neste processo, até escrever. E a escrita é sempre intensa e o ritmo frenético. Como sou dramaturga, escrevo falando em voz alta, pois o que construo é pensado para ser falado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Penso na finitude, que um dia eu morrerei, como todo mundo. Talvez aquele momento da escrita seja meu penúltimo dia. Este exercício de finitude dimensiona tudo a favor da escrita. Mesmo assim nunca é fácil. A escrita exige tudo: tempo, atenção, dedicação, autocrítica. É uma ação audaciosa.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Devo ler uma mesma frase umas cinquenta vezes e modificá-la umas cem. Escrever dramaturgia é um exercício de tirania tão grande quanto o de escrever poesia. Não costumo mostrar meus textos para outras pessoas antes de torná-los públicos. É um hábito, não uma superstição, mas de um tempo para cá venho compartilhando com colegas o que eu crio. Recebo muito material de outras autoras e autores e tento ler sempre.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço anotações à mão e digito os textos no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Escrevo de olhos e ouvidos atentos. Cada dia mais me sinto compondo dramaturgia, pensando em uma experiência sonora, performática. Leio, escuto e observo muito.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que passei a aceitar o processo caótico que envolve a escrita de um texto. O que é criado com amor está no mundo para ficar e não necessariamente para ser aceito e compreendido por todas/os. Eu diria para mim, lá no começo: Seja fiel a si mesma. Você é suficiente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e que ainda não existe?
Gostaria de escrever libretos para óperas. Talvez uma ópera afro-ameríndia. Gostaria de ler uma ficção sobre a tribo da minha avó, com indígenas Puris, de Minas Gerais, chegando a um quilombo e abandonando o nomadismo.