Diná Vicente é poeta e compositora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Pode parecer pedante, mas essa é a minha realidade: começo meu dia sempre com alegria, não importa o que tenha ocorrido. Isso vem de longa data! Desde quando me propus a me amar e ser feliz comigo e com o que me cerca: pessoas, coisas, situações… tudo!
Sim, tenho uma rotina. Acordo cedo, espreguiço-me antes de levantar, faço um leve alongamento, faço minha higiene e, o que acho mais importante, em casa nos abraçamos, trocamos afeto (eu, marido e filha) e só depois tomamos café, quase sempre juntos. Depois cada um segue com seus afazeres.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Geralmente pela manhã me sinto mais revigorada, plena e disposta. Não tenho um ritual em si, mas acho que “algo” elege o momento para a minha escrita. Já pude observar que escrevo sempre em momentos em que estou inteira naquilo que estou fazendo, geralmente quando estou trabalhando com água ou terra, por exemplo, lavando louça, regando plantas, adubando jardim e também no momento do banho, além disso, tenho muita inspiração quando contemplo a natureza (e gosto muito de fazer isso), é deleite puro! Faço isso quase diariamente.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende, tem épocas em que escrevo compulsivamente, em outras, lenta e tranquilamente. Não tenho meta de escrita diária, mas quando me proponho a escrever, sempre sai algo legal, embora prefira os insights, que, para mim, são bem frequentes!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é muito natural. Sempre utilizo conhecimentos já sedimentados ou pesquiso sobre o assunto e faço a minha pontuação.
Não acho difícil escrever. Para mim, a escrita é como respirar. Apesar de existir as técnicas, ela flui naturalmente, sem muito esforço, só sentimento, conexão.
Geralmente, a pesquisa e a escrita se entrelaçam, se abraçam, fazendo surgir um novo olhar, cuja perspectiva, às vezes, destoa da intenção original, enfim…
Como você lida com as travas da escrita, caso da procrastinação, medo de não corresponder às expectativas e ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Esse, para mim, tem sido um longo aprendizado. Já relutei muito comigo mesma, deixei de lado escritos que julgava “inapropriados e feios”. A procrastinação foi assídua companheira nessa minha relutância em escrever. O medo era outro intruso que me apavorava. Demorei muito para compreender que meu talento na escrita era algo intrínseco e, quanto mais eu negava, mais ele aflorava!
Há pouco tempo resolvi dar um basta nisso tudo e fazer o que me dava prazer, que é escrever, compor músicas, sem me importar com as opiniões alheias, sem querer retorno de qualquer espécie, apenas deixar fluir, jorrar espontaneamente esse meu sentir.
Comecei então a registrar, de forma escrita, o que latejava no meu ser. Só depois que me permiti ser eu mesma, independentemente de qualquer aprovação alheia, é que pude perceber minha verdadeira essência e daí então surgiram os projetos que visam divulgar esse meu delicioso ofício, que é criar com as palavras.
Atualmente estou trabalhando na organização do lançamento do meu primeiro livro de poesias. Mas sei que outros projetos virão.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sempre que necessário. Às vezes uma, duas, três vezes.
Com certeza! Sempre mostro pra algumas pessoas que eu respeito e admiro, pois acho válidas as opiniões, os apontamentos e sugestões que me passam de forma amorosa e sincera.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Nesse quesito, confesso que estou engatinhando, mas tenho o primoroso auxílio de alguns queridos que me dão o devido suporte. Escrevo conforme a ocasião, às vezes à mão, em guardanapos, papel rascunho, já escrevi até em jornal, bula de remédio… outras vezes digito direto no celular e depois transfiro para o notebook.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Vêm do meu sentir, do meu olhar, do meu perceber as pessoas, os animais, a natureza, as coisas em si. Demoro-me observando singelos objetos, situações, contrastes, que passariam despercebidos por muitos. Tenho o hábito da observação e de questionamentos intrínsecos. Meu imaginário voa e flutua em espaços longínquos e depois retorna colorido e pronto para desaguar nas linhas que minhas mãos, livremente, vão imprimindo no papel.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que mudou muita coisa. O processo da escrita, assim como outros, passa pela continuidade, pelo fazer constante, é um aprendizado sem fim. Nunca estamos prontos. E quanto mais nos dedicamos a algo, seja lá o que for, sempre podemos melhorar. Percebo isso quando volto aos meus primeiros escritos e começo a fazer cortes. Já fico imaginando o que cortarei no futuro dos textos que escrevo hoje (risos).
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou numa fase de descobrimento e deslumbramento, ao mesmo tempo, então estou aberta a novas possibilidades. O que gostaria de fazer já estou fazendo, que é escrever e trabalhar na publicação do meu primeiro livro.
Gostaria de ler um livro que tratasse da verdade real, mas acho que ainda não estamos prontos para recebê-la, então até lá vamos nos contentando com as “meias-verdades”.