Diego Schutt é editor do Ficção em Tópicos.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia tomando banho. Depois, tomo café-da-manhã na frente do computador, lendo newsletters que recebo por e-mail.
Pela manhã, meu cérebro é como uma panela fria cheia de milho para pipoca. Ler newsletters é como ligar a boca do fogão. Aos poucos, os pensamentos começam a esquentar e as ideias começam a pipocar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Em algumas semanas, as manhãs são bastante produtivas. Em outras semanas, as tardes são mais produtivas. Também há noites em que as coisas fluem com mais facilidade.
Independentemente do turno, sinto que trabalho melhor quando me concentro cem por cento no que estou fazendo durante trinta minutos ininterruptos. Então faço uma pausa e, logo depois, inicio mais um bloco de trinta minutos de atenção concentrada.
Evito rituais de preparação porque não encaro a escrita como algo sagrado. Não preciso me sentir conectado com energias do universo ou encontrar inspiração espiritual. Encaro a escrita como trabalho.
Quando estou com a cabeça a mil, me sentindo ansioso, fecho os olhos e tento esvaziar minha mente por um ou dois minutos. É uma espécie de meditação relâmpago. Depois, simplesmente começo a escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias, mas em certos dias faço um esforço mais concentrado. Não tenho meta de escrita diária para não ficção. Para ficção, minha meta diária é escrever por, no mínimo, trinta minutos ininterruptos. Uso o Calendário do Escritor para tentar manter a disciplina.
Há dias em que escrevo somente não ficção. Há dias em que escrevo somente ficção. Tirando períodos de férias, não há um único dia em que eu não escreva nada.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começo jogando na página em branco tudo o que me vem à mente sobre minha ideia, sem censura, sem grandes ambições, sem grandes certezas da forma que o texto vai tomar. Depois, me afasto do texto por horas, dias, às vezes até semanas. Então, releio o que escrevi e tento identificar o que já tenho.
Se é um conto, talvez eu tenha uma ideia de personagem, mas não tenha enredo ou vice-versa. Se é um artigo para o Ficção em Tópicos, talvez eu tenha uma técnica que desejo compartilhar, mas não tenho um exemplo prático para demonstrá-la. Não acho essa parte inicial do processo difícil.
Quando termino um primeiro rascunho, releio o que escrevi e tento identificar onde o texto perde o foco por tentar abordar outras ideias que merecem ser exploradas em seus próprios textos. Excluo essas ideias e contemplo o que sobrou.
Depois, o processo é como montar um quebra-cabeça sem grandes certezas sobre qual é a imagem que vai aparecer. Vou movendo as peças intuitivamente até sentir que elas estão no lugar certo. É comum que eu precise inventar peças que ainda não existem ou alterar o formato de certas peças para que elas se encaixem nas outras.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sou teimoso. Quando decido que vou escrever um texto, insisto até terminar. Não travo de não conseguir escrever ou de não saber o que escrever. Se o bloqueio criativo é uma porta fechada, sou daquelas pessoas que vão ficar batendo na porta, espiando pelo buraco da fechadura e procurando outra forma de entrar no cômodo.
Não escrevo para corresponder às expectativas de ninguém, até porque não sei quais são as expectativas de quem lê o que eu escrevo. Isso não quer dizer que não me importo com a opinião de outras pessoas. Claro que me importo. Meu foco, entretanto, não está em agradar, mas em recompensar o tempo que essas pessoas investiram lendo um texto meu, iluminando dentro delas uma ideia importante que iluminei dentro de mim mesmo.
A ansiedade de trabalhar em projetos longos é, muitas vezes, um sintoma do medo de investir tanto tempo em um texto que talvez ninguém se interesse em ler. Esse risco sempre existe. Por isso, acredito que a melhor forma de lidar com essa ansiedade é escolhendo projetos cuja principal satisfação está no processo de criar, não no potencial aplauso dos futuros leitores.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Textos mais curtos reviso pelo menos umas dez vezes. São rápidos de reler e fáceis de reescrever para testar diferentes variações em forma e conteúdo. Texto mais longos reviso pelo menos umas vinte vezes porque eles têm mais peças que precisam se encaixar para que a experiência de leitura flua.
Se um texto fica exatamente como imaginei antes de começar a escrever, considero isso um mau sinal. Acredito que a ideia precisa se transformar e me surpreender ao longo do processo de criação. Se não descubro nada de novo sobre o que estou escrevendo, imediatamente sei que aquele texto pode ficar melhor.
Só mostro meus textos para outras pessoas quando acredito que eles estão próximos da melhor versão que consigo escrever sozinho.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Costumo iniciar o processo no computador. Depois de escrever um primeiro rascunho, gosto de imprimir o texto e usar caneta para riscar frases, acrescentar parágrafos e escrever comentários à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Uma ideia é simplesmente uma inspiração que motiva você a escrever. É uma imagem, uma noção, uma informação, uma curiosidade que coloca uma pulga atrás da sua orelha e deixa você inquieto e entusiasmado para saber mais.
Minhas ideias vêm de artigos de jornais e revistas, conversas com amigos, paranoias secretas, reflexões sobre problemas, releitura de bons textos. Mas às vezes ideias surgem quando presto um pouco mais de atenção ao que está acontecendo ao meu redor, quando contemplo um pensamento que, a princípio, parece inofensivo, ou quando tento decifrar o subtexto das falas das pessoas.
O hábito que cultivo para me manter criativo é, em alguns momentos do dia, quebrar o fluxo do pensamento automático e tentar olhar para o mundo com mais abertura e curiosidade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Eu acreditava que existiam certas técnicas secretas que escritores usavam para produzir textos envolventes. Se usasse essas técnicas, estaria convencido de que minha escrita fluiria com facilidade.
Hoje tenho consciência de que técnicas são ferramentas para editar, não receitas para criar. Você pode usá-las antes de começar a escrever para gerar ideias, clarificar um conceito ainda abstrato na sua mente, ou encontrar um ponto de partida para começar a escrever. Você também pode usar técnicas depois de terminar o primeiro rascunho de um texto para ganhar perspectiva sobre o que escreveu.
Em ambos os casos, o conhecimento técnico permite ao escritor revisar e editar seus textos guiado pela experiência de leitura que deseja criar com suas narrativas. Isso permite que ele expanda sua percepção sobre o que está escrevendo e, assim, encontre uma forma mais original e autêntica de expressar suas ideias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero desenvolver uma série para TV, mas ainda não comecei. Meu foco nos últimos anos tem sido desenvolver um processo editorial abrangente e prático, que me permita ajudar outros escritores a expressar suas ideias de uma forma mais autêntica e original.
O livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe conta uma história que eu não posso descrever porque espero que ela me surpreenda, abordando certos temas a partir de uma perspectiva que eu nunca havia considerado, e me mostrando uma forma nova de olhar para o mundo.