Diego Knack é professor, doutor em História Social pela UFRJ, autor de “Ditadura e corrupção” (2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo às 6 horas da manhã. Tomo banho, café da manhã e leio jornais online antes de ir para a escolaonde trabalho. Em tempos que estou finalizando artigos ou algum outro trabalho acadêmico que me demandeescrita, opto em geral por acordar mais cedo e trabalhar um pouco antes de ir para a escola. Tomo essa decisão pois descobri que opero melhor intelectualmente pela manhã. Quando essa estratégia não é possível, eu procuroengrenar na escrita o mais rapidamente possível depois da volta do trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Conforme mencionei anteriormente, eu trabalho melhor de manhã. Em geral, começo a escrever tomando uma xícara de café.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Com o tempo, aprendi que ter alguma disciplina é bastante importante para executar trabalhos longos ou que demandem repetição,como costuma acontecer com trabalhos acadêmicos. Portanto, eu prefiro escrever um pouco todos os dias (ou quase todos) a ter“maratonas” de escrita. Não trabalho com metas diárias pois acredito que levem a frustrações fáceis. Prefiro ter um planejamentocom períodos mais largos, deixando os prazos mais flexíveis.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Organizo previamente minhas notas de leitura e pesquisa em um aplicativo do pacote Office chamado OneNote. No caso da bibliografia, eu avanço bastante no que tem que ser lidoe depois faço fichamentos e seleciono possíveis notas de rodapé em grandes blocos de leituras. Acho mais fácil, pois prefiro ler a fichar e acho que, desse modo, enunciados sintéticos e visões globais são facilitados. No caso da pesquisa, prefiro um relato e um fichamento concomitante, por vezes diário, para que se evite perder detalhes da documentação.
Depois do material todo organizado, estabeleço um plano de redação. Considero necessário que, antes de escrever, eu tenha clareza sobre o que quero escrever e o que quero dizer.
Com isso, o processo posterior de ajuste do que seja criado é mais fácil. Feito o plano de redação, inicio pelas partes do texto que considero mais fáceis. Uma técnica que utilizo bastante é a do brainstorming, que me ajuda muito a criar e organizar ideias. Depois, outra que utilizo bastante é o estabelecimento de tópicos frasais, que funcionam, muitas vezes, como enunciados eficientes.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que a regra de ouro é conhecer seus limites e estabelecer uma organização realista. Não adianta querer operar “milagres”. Eu trabalho em uma jornada de 40h semanais e só conseguia produzir antes (ou depois) de cumprir minhas 8 horas diárias na escola. Logo, não é factível, por exemplo, que eu estabeleça um planejamento que me exija a disponibilidade de 8h diárias de escrita.
Outro aspecto importante é admitir que quando estamos esgotados, dificilmente produziremos material de qualidade. Logo, aos sinais de esgotamento físico/mental, o melhor a se fazer é,sim, adiar. E retomar a labuta assim que possível. Para mim, foi igualmente essencial manter (em alguma regularidade) as atividades físicas, descanso e divertimento. Costumo achar que um trabalho menos intensivo – com a contrapartida de uma melhor organização e equilíbrio – seja mais eficiente. Para mim foi.
Mais um caminho, que às vezes é possível, é o de recorrer ao suporte de outros profissionais: estagiários, revisores, digitadores etc. podem contribuir em algumas das tarefas de pesquisa e auxiliar para o processo criativo, de uma forma que seja proveitosa para quem escreve e para quem auxilia.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Geralmente, releio muitas vezes meus trabalhos antes da entrega mas faço tudo sozinho. Além das preocupações do conteúdo, procuro ajustar o estilo da escrita e adequá-la ao propósito do texto. Não tenho, portanto, o hábito de entregar meu trabalho a revisores. Mas fiz isso no caso da minha tese de doutorado, pois a demanda de trabalho era muito grande e minha ansiedade também.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Trabalho com a escrita profissional somente no computador. Prefiro papel e lápis para desenhos, poemas, textos pessoais ou para alguns esquemas que organizam minhas ideias.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Faço uso das técnicas que mencionei. Além delas, acho relevante mencionar que, enquanto leio, rabisco e faço anotações no próprio livro. Daquela primeira conexão que façoa partir da leitura saem muitas ideias que depois organizo no fichamento. Quando o texto é digital, eu faço essas anotações em um texto separado que, depois, passa pela mesmaorganização.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Penso que escrevo e leio com mais clareza e rapidez. Se pudesse voltar no tempo, eu me daria esta lição: há várias maneiras de se ler e escrever e elas variam de acordo como tipo de texto e com a finalidade que se lê/escreve. Aprendi com o tempo, mas considero esse aprendizado bastante valioso.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
No campo profissional, estou pensando nos desdobramentos possíveis para minha tese de doutorado. Pessoalmente, adoraria aplicar essa metódica da pesquisapara produzir um romance. Outro sonho seria um livro de poemas. Eu gostaria de ler um livro de segredos/desejos dos outros. O que é secreto me fascina.