Diego Antonelli é jornalista, autor de Paraná – Uma História.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho sim. Procuro acordar cedo, tomar café e fazer atividade física. Em seguida, embora tenha uma rotina agitada em virtude do meu trabalho como jornalista, leio muito pela manhã, tanto notícias quanto literatura. É a maneira que encontro de me conectar com o mundo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Nunca tive preferência em relação ao horário para trabalhar. Quando preciso finalizar um livro, deixo a preguiça de lado e foco no material que deve ser produzido. Checo as anotações e as pesquisas realizadas por diversas vezes. Gosto de escrever e reescrever. Se julgar necessário, reescrevo novamente. Checo mais uma vez tudo que está sendo escrito. Reviso cada linha. Procuro também mostrar trechos do que escrevi para outras pessoas. Dessa forma, consigo perceber a reação dos outros em relação ao livro. Acho importante ter esse feedback. Escrevo o tempo que julgar necessário e que estiver rendendo mentalmente. Gosto de escrever com uma música ao fundo, mas não pode ser em volume alto. Além disso, deixo o texto “descansando” por alguns dias. Depois volto a reler o que está escrito para, com a cabeça “fresca”, reler, fazer as revisões necessárias, cortar trechos e, sempre, checar as informações redigidas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não estabeleço metas. Tenho alguns prazos e procuro me dedicar na produção do material dentro desses prazos. A minha “meta” é aquela que percebo que estou conseguindo produzir bem o texto. Quando a cabeça cansa e o raciocínio fica mais lento, prefiro parar e continuar no dia seguinte. Isso quando há tempo. Se o prazo estiver curto, é preciso concluir o material. Não tem jeito. Nesses casos, a concentração e dedicação devem ser redobradas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Varia de caso a caso. Tem assuntos e temas que exigem mais calma para começar a escrever. E mesmo depois de começar não é raro apagar tudo e começar novamente. Além disso, tem situações em que o início do texto brota durante o próprio processo de pesquisa e entrevista. Encontrar uma boa história que ilustra o tema que estou escrevendo é um desafio que move e movimenta meu trabalho.
A pesquisa, sim, é fundamental e talvez seja o processo mais demorado para o desenvolvimento do meu trabalho. Faço anotações do material pesquisado, selecionando as informações que considero primordiais para o desenvolvimento dos textos. Leio e consulto material na biblioteca, procuro teses, dissertações, artigos, livros que tenham relação com o tema sobre o qual está sendo redigido até conseguir as informações necessárias.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
São medos inerentes de quem está escrevendo. O próprio tempo vai deixando a pessoa mais tranquila em relação a esses receios. A ansiedade, por exemplo, é algo que até me impulsiona a levantar do sofá e ir pesquisar, ler, entrevistar… O que, por um lado, me ajuda a não procrastinar. Ser lido é um desafio. Tem pessoas que vão gostar e tem pessoas que não vão gostar do que você escreveu – ainda mais na minha área como jornalista, produzindo livros de não-ficção. É um processo natural. Quando comecei a atuar na área esse medo existia de maneira mais intensa. Hoje, nem tanto. O que mais me preocupa é escrever alguma besteira, escrever algo equivocado, passar para os leitores a informação errada. Por isso que reforço tanto a necessidade de checar as informações e pesquisar incansavelmente. Ouvir fontes que pesquisam o tema que estou escrevendo é primordial para sanar dúvidas, além de ler o que já foi produzido sobre o assunto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Diversas vezes. Não estabeleço um número de revisões. Mas leio e releio até cansar. Procuro, sim, mostrar um trecho ou outro para pessoas mais próximas que não tenham contato com o tema que estou escrevendo. Assim, consigo ter uma noção se o estilo do texto agrada ao leitor e se a informação transmitida está clara.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Anoto muita coisa à mão. Mas para começar a escrever, vou direto ao computador. Às vezes, faço uma lista de temas que não podem ser esquecidos de serem escritos sobre o assunto em si. Coloco uma musiquinha de fundo e começo a bater as teclas até o cérebro “funcionar” e o texto deslanchar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Ler e conversar com as pessoas me ajuda a ter ideias para novas produções. Estou trabalhando em um projeto, atualmente, que nasceu de uma conversa com um colega durante um café. É fundamental estar sempre com a cabeça aberta para novas ideias. Mas, não há fórmula mágica para isso. Às vezes, durante uma viagem ou devaneio qualquer, surge algo que pode dar certo e ser interessante.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
É natural, com o passar do tempo e com a prática, o autor amadurecer o texto. Particularmente, se pudesse voltar à escrita da minha dissertação eu procuraria deixar o texto mais atraente. Sempre gosto mais do meu último trabalho. Leio os textos anteriores e consigo apontar o que preferiria mudar, o que deveria cortar, o que deveria acrescentar. Escrever é um exercício que demanda muita leitura e prática. Quanto mais a pessoa lê e escreve há a tendência de amadurecer o texto. Esse é um processo constante de quem vive da escrita.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Essa é uma pergunta interessante. Há vários projetos em mente. Tem um, por exemplo, que gostaria de escrever em parceria com um ilustrador que é contar episódios da história do Paraná a partir de quadrinhos, focando em um público mais jovem, disseminando a informação e o conhecimento para todos os públicos. Também gostaria muito de escrever sobre as histórias das religiões dentro do cenário brasileiro. São tantos os projetos que queria desenvolver que é difícil apontar apenas um. Gradativamente, tento colocar alguns desses projetos em prática.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Eu prefiro fazer um planejamento prévio para ter, ao menos, um roteiro a seguir. Evidentemente que conforme os processos de pesquisa e de escrita andam, esse planejamento sofre ajustes e alterações. Não gosto de usar esse planejamento como uma “camisa de força”, mas, sim, no sentido de facilitar minha organização inicial do projeto.
Ah, eu acho tanto a primeira quanto a última frases essenciais em um texto ou livro. As duas são muito importantes. Mas julgo que, para mim, a primeira frase é a mais difícil.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu procuro me organizar por meio de uma agenda para ter um norte e poder cumprir, pelo menos, parte das tarefas e dos cronogramas. Eu trabalho com diversos projetos simultaneamente. Por isso, o uso de uma agenda.
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
A disseminação do conhecimento e a função social do escritor são motivações diárias para nessa profissão.
Não.. não lembro direito… Foi algo que, profissionalmente, sempre procurei exercer. Acho que essa vontade vem desde a adolescência. Desde criança sempre li muito. Acredito que isso influenciou na minha profissão.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Nem sei se já consegui ter um estilo próprio. O processo de escrita é amadurecido diariamente. Sempre procuro aperfeiçoar a minha forma de escrever através de constantes leituras e da prática de escrita.
Sempre me inspirei muito em profissionais como Truman Capote, José Hamilton Ribeiro, Gay Talese, Tom Wolfe, Eliane Brum, Caco Barcellos, etc…
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
A Sangue Frio (Truman Capote) – é um livro-reportagem exuberante pela riqueza de detalhes, enredo, narrativa… uma obra que marcou muito.
1984 (George Orwell) – uma obra-prima da ficção que diz muito a nosso respeito na era contemporânea.
Não Verás País Nenhum (Ignácio Loyola Brandão) – um livro da década de 80 que tece um retrato do nosso país hoje.