Débora Bianca é escritora, autora de “A mala mágica da Filó”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente, começo o meu dia sem uma rotina prévia a não ser que haja um compromisso em escolas, de forma presencial, ou virtual. Deixo o período da manhã para as questões pessoais. Não sigo rotina rígida. Sou bem flexível neste quesito.
A única coisa que procuro fazer todos os dias, logo que acordo, é postar algo de relevante nas redes sociais de forma a estabelecer um vínculo com o leitor e com pessoas ligadas à literatura.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto muito de trabalhar durante à noite, quando tudo está calmo e silencioso. Registro as ideias no meu celular e depois vou para o computador. Leio e releio um texto várias vezes e depois o coloco para “dormir”, ou seja, me desligo. Após um tempo, que varia de dias a semanas, volto ao texto para realizar as mudanças necessárias e fazer ajustes. Sempre durante à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou autora de livros infantis e por isso minha principal meta é a observação do universo que envolve as crianças. Não há rotinas estabelecidas. Quando termino de escrever um texto, peço para algumas crianças lerem e emitirem opiniões. Assim, posso aprimorar a escrita. Alguns profissionais realizam leituras críticas, o que favorece a qualidade textual, além da revisão específica para a literatura infantil. O ideal é a publicação de pelo menos um livro por ano.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Procuro sempre observar o cotidiano para levantar assuntos de relevância e interesse para os meus pequenos leitores. A partir daí as ideias vão fluindo e o texto vai tomando forma. Por vezes é necessário pesquisar sobre temas abordados de forma mais específica ao público infantil.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A ansiedade e o medo são emoções comuns a quase todos os escritores. No caso da literatura infantil, as barreiras vão sendo derrubadas quando você se depara com os olhos arregalados e sorridos das crianças diante de um texto ou personagem. Quando lidamos com pessoas é muito comum que surjam inseguranças: inevitável. O autocontrole e a coragem para seguir em frente são as únicas formas que conheço para lidar com tal situação.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Faço a revisão com duas profissionais e peço para crianças fazerem a leitura. Aprecio seus comentários. Depois disso, um ou mais profissionais especializados fazem a análise técnica. São etapas muito importantes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Adoro a tecnologia, apesar de não ser grande conhecedora do assunto. Não escrevo à mão. Faço tudo pelo celular e computador. É muito mais fácil e prático.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Fui professora durante trinta e dois anos. O mundo infantil é a minha matéria prima. Conversar com crianças, ler de tudo um pouco e cultivar o hábito da observação, são atitudes que facilitam o processo de escrita. Estudar sempre também é imprescindível.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Quanto mais simples e acessível, melhor o texto. Quantidade não significa qualidade. Às vezes uma única palavra enriquece o texto e faz toda a diferença. Não gostaria de voltar atrás. Acho que tudo o que escrevemos faz parte de um processo de maturação natural.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muita vontade de criar uma biblioteca ambulante. Já fiz alguns projetos mentais, mas não passaram de ideias. Gostaria de ler um livro que fosse capaz de transformar as pessoas em seu âmago, trazendo à tona toda a bondade que mergulha adormecida na essência humana. Assim, quem sabe, o mundo pudesse transformar-se num lugar melhor para todos.