Dayane Tosta Costa é poeta, escritora e pedagoga.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
A minha rotina mudou completamente em virtude da pandemia do coronavírus, parece que os tempos pandêmicos ganharam contornos trágicos acrescidos à sensação de que as horas não queriam passar. Antes disso tudo acontecer eu acordava sempre correndo com pressa/atrasada para conseguir me arrumar e arrumar a minha filha para irmos juntas à escola onde trabalho e ela estuda. Essa minha rotina nada literária me fez entender que talvez eu corresse tanto de manhã porque a noite eu demorava muito para pegar no sono e enquanto não dormia escrevia poemas, versos, ideias para contos… o bloco de notas do celular sempre foi meu companheiro nas noites insones. Agora na pandemia tenho experimentado viver uma coisa de casa vez no intervalo entre os surtos de medo e ansiedade tenho tentado entender o que estou sentindo e qual o sentido da minha disposição.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu sinto que escrevo mais e melhor pela noite, o meu ritual de escrita envolve pensar muito naquilo que gostaria de escrever, passo o dia pensando sobre uma palavra que me desperta para um poema ou numa cena que se encaixaria bem em algum conto. Às vezes anoto frases soltas ou construo tópicos que me auxiliam na hora que sento na frente do computador para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu tento escrever um pouco todos os dias. Mas caso isso não aconteça eu não me cobro e nem me forço, sinto qual é o meu momento e se percebo que não é tempo de escrever me dedico à leitura.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu tenho mais dificuldade em concluir um texto do que começar um texto. Quando escrevo poesia eu me permito ser mais livre, gosto de sentir a sensação que cada palavra me transmite. Quando escrevo em prosa eu tento fazer um roteiro de escrita que funciona como uma sinopse do texto, ao longo da escrita eu não me prendo ao enredo inicialmente planejado, mas gosto de sempre voltar para ele par entender quais foram as intenções que me motivaram à escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu leio. Quando estou com bloqueio criativo eu deixo o texto uns dias guardado e vou lendo outros livros, outras histórias… Sinto que volto renovada para o ofício da escrita. Isso costuma me fazer bem, no entanto, no final do ano passado o peso da pandemia pairou sobre a minha rotina de leitura e escrita, a ansiedade, o medo, a insegurança e tédio me afastaram tanto da leitura quanto da escrita, nessa ocasião eu achei pertinente não me forçar muito, esperei ficar bem para voltar lentamente à pratica da leitura e escrita.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende muito de cada texto, de modo geral eu reviso no mínimo 3x cada texto. O trabalho de revisão feito por profissionais na minha opinião é imprescindível num texto longo. O revisor é fundamental. Assim como ter um amigo que cumpra o papel de leitor beta pode ser um privilégio para o escritor, o olhar do outro sempre enriquece o texto, sozinho o escritor não consegue dar conta de tudo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Raramente escrevo à mão, escrevo no bloco de notas do celular ou diretamente no computador. Quando escrevo em algum caderninho o texto fica todo riscado, vou produzindo em completo caos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm do mundo, de mim e das técnicas. Ouvi algo nesse sentido no curso de escrita da Liliane Prata e concordo completamente. O mundo me afeta e me desperta para uma gama de possibilidades de escrita, minhas relações com os outros e com as minhas memórias me convocam à pratica da criação literária e as técnicas me dão suporte para conseguir organizar essas fontes de inspiração.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu sinto que a minha escrita ganhou certa maturidade e técnica, no início os meus textos eram marcados pela espontaneidade e hoje há uma preocupação maior com imprimir nos textos força literária. Um conselho que diria a mim mesma: leia mais e nunca desista de escrever!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu quero escrever um livro de contos. Já tenho alguns contos escritos, mas gostaria de revisá-los e escrever mais alguns outros. Há muito tempo fico presa na ideia de ler um livro cujo enredo se desenrole a partir de conversas de uma pessoa com o seu terapeuta, talvez um dia eu seja autora desse livro.