Danielle Fonseca é artista visual, Editora da Revista de Arte e Cultura Contemporânea Não-Lugar.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Alongando. (risos) Não tenho uma rotina matinal, fora os horários do café-da-manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Atualmente tenho preferido trabalhar pelas manhãs e tardes, sempre que me preparo para escrever algo, tiro da estante minhas referências que caminham comigo há algum tempo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Confesso que estou retomando o hábito de escrever quase todos os dias, retomei as observações de escrita, sonoridade das palavras, e estou tentando ficar mais atenta principalmente para não perder as palavras-que-vem-em-flashes ou as que saem de presente das falas dos sobrinhos, como “bibizando” ou “quem te deu de presente o cotovelo?”, mas, claro que há períodos que a produção flui melhor, geralmente, num processo de pesquisa produzo quase sem parar, tanto com as palavras quanto em um trabalho de artes visuais.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Esse processo é sempre demorado para mim, às vezes faço das notas o próprio trabalho, e como meu trabalho atua em dois campos, arte e literatura, me dou essa liberdade de acreditar que as notas, anotações, colagens e acasos podem ser processos de escrita. Da pesquisa para a escrita é um processo que depende do momento, retomei um trabalho de pesquisa que iniciei em 1997 sobre a escritora Gertrude Stein, somos setamoventes como diria o poeta Max Martins.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido todos os dias com esses itens, aprendi a destravar, assim como se estivesse alongando o corpo mesmo, acho importante ouvir o corpo diante de um projeto e sentir o tamanho da ansiedade, bloqueio ou alegria que isso trará, às vezes flui feito água.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso algumas vezes, e quase sempre acho que eles não se fecham por completo. Tenho compartilhado com minhas irmãs e com a artista visual Keyla Sobral também.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tenho uma relação boa com a tecnologia. Escrevo nas duas formas, mas ainda prefiro riscar à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Acredito que minhas ideias sejam fruto de uma mistura de intuição, experiência, leitura, observação… lendo aqui e agora acho que até se confundem com meus hábitos, que vão da leitura ao desfile das escolas de samba na Sapucaí.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos?
Como boa capricorniana que sou, tenho percebido que minha escrita até tenta manter um certo ritmo duro, mas ando relaxando mais no quesito de ‘tensionar o hábito da escrita’, decidi não perder tanto o corpo para a página, acho que é a lua em sagitário agindo junto com o tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São tantas as verdades… (risos) acho que um de tradução-transcriação talvez, o livro que gostaria de ler… talvez um de cartas entre Virginia Woolf e James Joyce… e traduzido por Augusto de Campos… Mas, tem um que já soube que virá: Grande Sertão: Veredas traduzido para o inglês pela tradutora Alison Entrekin, existirá!