Daniela Pace é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia na paranoia do despertador, detesto acordar cedo, levanto entre seis e meia e sete da manhã, acordo meu filho, preparo o café pra ele. Depois saímos, cada um na sua bicicleta, ele pra escola dele, eu pra minha, onde dou aulas de arte para crianças e adolescentes. Final de semana a rotina muda um pouco, fico até mais tarde na cama e antes de levantar faço exercícios simples de yoga, como respiração e alongamento, depois tomamos café no quintal.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Como trabalho mais com a poesia, não tem hora, ela te assalta lavando louça, pedalando, a qualquer momento…mas ao acordar, naquela terra de ninguém entre o inconsciente e o consciente, é sempre um bom momento, costumo deixar papel e caneta ao lado da cama. Uma vez eu li que os cientistas usam uma fórmula, os três Bs: bath, bed e bus. Ou seja, no banho, na cama, antes de dormir e ao despertar, e numa viagem de ônibus ou de carro. Nesse momento ativamos mais o lado direito do cérebro, criamos melhor. Agora, na hora da reescrita, da revisão ou de criar um projeto educacional, por exemplo, aí é mais preparado, utilizo o horário da tarde, que pra mim é mais livre, me cerco das anotações, livros de referência, papel e caneta, notebook e chá ou café.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho nenhuma meta, no caso da poesia, porque é exclusivamente um caso de amor e de prazer. Há épocas mais produtivas, em outras não aparece nada, sempre respeito esse fluxo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita é bem caótico, tenho vários cadernos, notas soltas, escrevo em guardanapos, contracapas de livros, agenda velhas…começar é muito fácil, o problema é terminar. A pesquisa está presente em todos os momentos da minha vida, no meio disso de vez em quando, surge a escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Os bloqueios fazem parte do processo, como já disse, aceito o fluxo. A procrastinação é um problema pra qualquer escritor. Outro dia ouvi essa pérola: “achar que teve uma ideia melhor e querer começar tudo de novo é uma das formas mais sofisticadas de procrastinar”. A ansiedade também é natural em projetos longos, um livro que demora pra ficar pronto, por exemplo. Isso faz parte da criação.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso algumas vezes, se tenho dúvidas, consulto o dicionário, a gramática ou um amigo revisor. Costumo publicar no grupo literário vinculado à minha página, a Verso Livre Editora Artesanal. No grupo, leio muita poesia e publico minha poesia e alguma prosa.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo geralmente a mão, em vários caderninhos, raramente, escrevo direto na tela do computador, mas às vezes estou lendo poemas que me inspiram e acontece.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de todos os lugares: sonhos, visões, conversas de desconhecidos na rua, filmes, lembranças de infância, enfim, de várias fontes. Um hábito de qualquer escritor, penso que seria a leitura. Livros e filmes são um ótimo combustível, contemplar arte e natureza também.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não mudou muita coisa, escrevo de forma bastante intuitiva, sem seguir nenhum método. Eu não diria nada para aquela menina, acho que piscaria o olho, como quem dissesse que aprova a brincadeira.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Os que eu gostaria de fazer são muitos, mas alguns já estão começados, como fabricar livros artesanais para me autopublicar. Outro projeto que pretendo infinito (ou quase) é a série Anima, de livros cartoneros de poesia feminina brasileira contemporânea. Comecei a pesquisar e me deparei com uma riquíssima nova literatura produzida pelas mulheres. O projeto conta com dois volumes, no momento e está disponível no issu. O terceiro volume está a caminho. Outros projetos são fazer livros com conchas, madeira, flores, objetos encontrados e praticamente qualquer material que esteja disponível. Eu gostaria de ler um romance sobre as artistas do Modernismo, como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Pagu.