Daniela Costanzo é doutoranda e mestra em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho uma rotina. Acordo entre sete e oito horas, tomo café-da-manhã e procuro usar os primeiros minutos do dia pra ler algo que estou com vontade, pois depois a dispersão é bem maior. Checo os e-mails, a lista de tarefas e faço as atividades que planejei para aquele dia e para a semana. Gosto de fazer primeiro as tarefas que exigem mais da minha cabeça, pois de manhã é quando rendo mais.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor de manhã. O ritual é tentar preparar alguma estrutura para o texto que estou escrevendo, depois tento segui-la pelo menos para colocar a primeira versão do texto de pé.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Ao menos fichamentos de texto escrevo todos os dias, não tenho meta. Quando preciso entregar um trabalho, a escrita inevitavelmente é em períodos concentrados, justamente porque a organização muitas vezes falha e o tempo é escasso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Normalmente estruturo o que quero fazer, então quando vou começar a escrever já tenho um lugar de onde partir, pode ser o projeto da pesquisa, a introdução ou algo assim. Dificilmente parto do zero, pois tenho dificuldades, acho mais fácil mudar o texto ao longo do caminho do que começar do zero. Eu procuro analisar os materiais da pesquisa separadamente e depois juntá-los na análise. Então quando tenho uma entrevista pronta, por exemplo, faço uma ficha de análise dela e dos trechos que usarei na escrita. Quando chega o momento da escrita, junto estes materiais de análise.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas da escrita, no meu caso, normalmente vêm de problemas externos, como os descritos na pergunta, medo e ansiedade, mas também de problemas de planejamento. As vezes que travei de forma pior foram em momentos que eu não sabia por onde seguiria na escrita. Nestes casos, eu sofro muito mesmo, e procuro coisas externas para acalmar, como caminhar, andar de bicicleta ou organizar alguma parte da casa até conseguir voltar à escrita.
Quando a trava não vem desse tipo de problema, e eu sei exatamente o que tenho que fazer, mas apenas não consigo, aí tenho um papelzinho no meu escritório com algumas estratégias:
Começar a fazer o que preciso e me comprometer a fazer aquilo por apenas quinze minutos. Assim não parece que exigirá muito esforço e depois que começo os quinze minutos acabam virando duas horas; escrever pequenas metas e ir cumprindo, seja de escrita ou de análise; colocar um limite de tempo para começar a trabalhar. Por exemplo: vou assistir um seriado ou ouvir música ou lavar a louça por apenas mais meia hora e então começo a trabalhar. Isso faz minha cabeça achar que será mais leve começar; definir no dia anterior tudo que irei fazer no dia seguinte. Quando estou travada, me dedico às tarefas de organização que ajudam a não travar e pensar que no dia seguinte será melhor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu não gosto de revisar, reviso uma vez só. Normalmente meu companheiro revisa todos os meus trabalhos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no computador, mas quando preciso raciocinar mais profundamente, ou quando estou lendo e tenho ideias, anoto em papéis, pois minha cabeça entende melhor. Quando ficho um texto complexo, faço primeiro no papel e depois passo para o computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sou ruim para ideias. Elas costumam vir de leituras e de conversas com amigos e colegas, estas últimas costumam ser mais frutíferas. Procuro manter o hábito de ler romances, revistas e jornais.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar aos seus primeiros escritos?
Eu mudei muita coisa da escrita da dissertação para hoje. Em primeiro lugar, passei a respeitar mais meu tempo e meu trabalho, dedicando mais tempo a apenas uma atividade, e isso gerou uma descompressão absurda da minha cabeça. O processo de escrita em si melhorou porque agora tenho mais consciência do que estou fazendo e do que tenho que fazer. No mestrado era mais difícil isso.
Se eu pudesse falar algo para mim mesma à época da escrita da dissertação, diria que eu deveria me respeitar mais, não insistir nas coisas que estão dando errado, não dar tanto valor a um trabalho como se aquele trabalho me definisse, esperar meu tempo e buscar fazer as coisas com mais calma.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de estudar os aspectos de identidade e ideologia ligados ao lulismo. Gostaria de estudar as formas de trabalho no Brasil atual. Gostaria de estudar os cientistas políticos brasileiros. Enfim, são muitos temas de interesse.
Gostaria que houvesse um livro sobre o capitalismo contemporâneo, mas do ponto de vista da periferia do capitalismo. Como se o grupo do capital fizesse seus trabalhos hoje. Um pouco do trabalho que Giannotti disse estar faltando atualmente.