Dani Rudnicki é professor do Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
A rotina varia. Tenho atividades diferentes em cada dia. Em alguns tenho de ir à universidade, para coordenar, em outros fico em casa em frente ao computador ou vou ao escritório. E pratico esportes: bicicleta, tênis e corrida, moderadamente.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor durante a manhã ou tarde. Escrevo melhor de manhã, mas as condições ideais não são a regra. Gosto de fazê-lo descansado, depois de comer. Preciso também ler antes, para conhecer o tema, e, se for o caso, conhecer o campo sobre o qual escreverei (especificidades sobre presídios ou polícia, por exemplo).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não possuo metas diárias, mas semestrais e anuais. Tento escrever todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrever é difícil. É duro, pesado. Mesmo escrever estas poucas linhas, é, para mim, um grande esforço. É cansativo. Mas prazeroso em seu final, quando se observa o resultado do trabalho.
Importa destacar que a maior parte de meus textos envolve pesquisa empírica e o começo é sempre com ideias, com leituras, com fichamentos. Essa é a preparação para o campo. Depois vem o comitê de ética (por vezes um processo burocrático, chato, para chegar no locus; daí por vezes a alegria de ser bem recebido ou a realidade de enfrentar quem não quer ser observado na sua prática cotidiana. É quando vejo tudo pronto para começar o campo e início a parte mais interessante: o conhecer uma nova realidade, observar, pensar, analisar.
E depois o texto, escrever e corrigir, escrever e corrigir, escrever e corrigir; alterar tanto quanto necessário. Enxugar o máximo.
E aproveito esses momentos para realizar outras etapas: ler e fichar, escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Felizmente não possuo. Um dia, ouvi: “Tudo que se escreve é publicado”. Pode ser mais ou menos rápido, pode-se receber pareceres justos ou injustos, mas se o texto for trabalhado, ao final será publicado. Talvez não na revista que almejamos, mas em outra; talvez haja um pouco de tristeza, brigas mentais com os pareceristas; mas faz parte do campo científico.
O importante é escrever. Uma linha, e depois outra.
Se um texto está trancado, inicio outro. Tenho o hábito de me envolver em diversos projetos concomitantemente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Gosto de mostrar para alunos e orientandos. Para alguns colegas de confiança também. Reviso muito e como disse alguém: “Se publica para parar de corrigir”.
Gosto de no curso do processo abandonar o texto finalizado por um ou dois meses para retomá-lo após, mas a cobrança por pontuação tem feito esse período se ver diminuído para uma ou duas semanas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Iniciei na máquina de escrever, nos anos 1980. Hoje escrevo sempre no computador. Os comandos “Control C” e “Control V” revolucionaram minha escrita. Nos anos 1980, quando escrevi meu primeiro texto acadêmico, eu utilizava uma Olivetti Lettera 32… É bonito dizer isso, eu ainda a guardo, porém escrever em um computador é muito melhor.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Da observação do campo. Da leitura (de literatura), das leis e de artigos científicos. Quando estou escrevendo sobre comida nos presídios, vejo um preso indo para a escola e penso no papel da educação dentro dos presídios. Na sala de aula do presídio, ouço o silencio e comparo com o barulho dos corredores e cozinha e penso em escrever sobre o som na cadeia. Vejo se já há algo escrito sobre o tema, se é o enfoque que imagino; leio sobre sons, silêncios e barulhos… E escrevo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
O texto mudou, a qualidade da escrita e da pesquisa. Amadureceram. Como seria de se esperar e um pouco como se percebe na obra de todos autores.
Quanto à tese, eu diria à Capes: “Precisamos de mais tempo”. Quarenta e oito meses para a tese é pouco para quem está começando. Se já tivesse vinte anos de estudos na área estaria bom, mas como a exigência agora é de que o acadêmico se doutore cedo, precisaríamos de mais um ano. Acho que seria razoável.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
A duas perguntas se conectam para mim. Um primo, já falecido, estava escrevendo um romance sobre Rimbaud. Ele me falou deste livro e quando pedi para a viúva, por telefone, pois eles moravam em São Paulo, ela me disse que sobre isso somente falaria pessoalmente, quando eu fosse visitá-la. Antes que eu o fizesse, ela faleceu. Os filhos não sabem nada sobre este livro. Os originais estão perdidos.
Eu queria lê-lo.
Como não é possível, comecei a escrever um romance sobre isso. Tenho ideias e o desejo de fazê-lo. Escrevi umas poucas páginas. Mas, como dizia antes, para mim escrever é doloroso. Espero, todavia, terminá-lo antes de morrer, talvez depois da aposentadoria.