Dani Mart é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu sou advogada. Então, meu dia se inicia com foco no meu trabalho, geralmente acompanhada de uma baita xícara de café forte, puro. Se isso é uma rotina matinal, não sei, rs.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Humanos alérgicos (meu caso), trabalham melhor na parte da tarde ou à noitinha. Manhãs para mim são bem ruins.
Não sou de rituais, manias, superstições, nada disso. Utilizo o Google Docs para escrever e isso me facilita, pois qualquer hora vaga ou arroubo de criatividade acaba sendo aproveitado, seja com um pouco mais de dificuldade via smartphone, seja com a facilidade do notebook em que eu estiver naquele momento.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Novamente, não tenho regra. Já escrevi todos os dias, em períodos concentrados… a única regra é não ter regra, não ter meta, para não correr o risco de dobrar a meta. Eu faço da escrita um momento de prazer e se eu começar a exercer qualquer tipo de controle sobre isso vai deixar de ser prazeroso para mim.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No geral, brota a ideia do nada. Aí eu abro o Docs e rascunho, depois lapido um pouco. Gosto de deixar uns tópicos meio abertos que, no geral, viram capítulos. A pesquisa para a história vai acontecendo e fluindo com a história. Nesse “método” meio louco eu me encontro e talvez por ser algo muito meu, não acho difícil. Me considero bem outsider, porque vejo escritores falando sobre tudo isso e me sinto mal por não ter técnica, mas escrever é meu hobby, não é algo que faço com intenção de ser mais, maior… talvez por isso mesmo eu seja bem relapsa com divulgação, por exemplo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Ah, sinceridade? Não lido. Não me cobro se não vier inspiração, procrastino se achar que devo e não crio expectativa. Tudo isso repercute na falta de ansiedade. Mesmo com tópicos, não tenho número certo de capítulos e vivo muito bem com isso.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Duas. Mesma regra do meu tempo de estudante. Mais que isso eu já começo a ver defeito demais…rs. Tenho uma “revisora”, minha melhor amiga faz esse papel. Gostaria de ter mais leitoras críticas, daquelas que questionam, reclamam… ainda não criei um grupo para isso, mas tudo a seu tempo. Não julgo que tenha público suficiente para me importar assim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sou heavy user de tecnologia, adoro, uso 24h, é habitual para mim. Os rascunhos são no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Me cerco de tudo que possa estimular… livros, séries, filmes, jornal, revista… leio de tudo, assisto de tudo. Minha primeira formação foi em Artes Plásticas e atuei no mercado publicitário por 13, quase 14 anos antes de ir para a área jurídica. Em ambas as áreas é importante ser criativo, tanto no criar arte quanto no criar defesa ou tese jurídica, por exemplo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Minha escrita está mais segura e as soluções criativas mais claras. Se eu pudesse voltar, usaria menos vírgulas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu pausei um projeto de um romance que envolve uma personagem trans, mas pretendo dar continuidade. Eu gostaria de ler mais livros que abordem essas realidades humanas periféricas, tenho séria preocupação com questões de lugar de fala, mas sinto que são histórias que não possuem voz. Eu creio que visibilidade e representatividade importam muito.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir?
Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?Já fiz das duas formas, tanto criei um roteiro de toda a história, como fui escrevendo sem me tolher. Mesmo com um roteiro prévio, não me importo de volta e meia pegar outro caminho e, assim, refazê-lo, corrigi-lo, porque sinto que minhas histórias fluem dessa forma. Publico no Wattpad antes, e isso me ajuda a corrigir uma coisa ou outra antes de colocar o livro na Amazon. Minha plataforma beta é o Wattpad.Acho mais difícil a última frase, tenho dificuldade em estabelecer um “fim” porque, de fato, não há fim. A narrativa pausa, mas continua na mente do leitor (e também na do autor) o desenrolar da trama. Epílogos são o meu tormento.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Odeio dizer… não organizo. Deveria, mas como a escrita para mim ainda é um hobby, minha vida profissional sempre é priorizada (sou advogada). Por isso utilizo o Google Docs para escrever, porque aí consigo “escrever quando dá”, em qualquer computador, telefone ou tablet.Prefiro desenvolver um único projeto, mas curiosamente no atual momento estou com dois. Estava escrevendo um romance que precisava de um antagonista que eu não conseguia fazer render. Pra conseguir isso, tirei da gaveta um outro projeto, mais denso, que me permitiu sair do hiato que começava a existir. Por enquanto, estou conseguindo levar os dois projetos adiante, mas não é a minha preferência.
O que motiva você como escritora? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Leitores. Receber um e-mail dizendo que a história causou algum tipo de impacto. Isso me motiva demais.Comecei a escrever por uma aposta pessoal. Minha mãe é o meu referencial para leitura, foi com ela que aprendi a amar livros. E ela começou a ler romances eróticos e, eventualmente, indicar. Eu já tinha lido diversas Júlias, Sabrinas e Biancas, era fissurada com livros de banca. Aí, fui ler um dos romances que minha mãe indicou, best seller, mas não curti. Sei lá, achei irreal demais, com merchandising demais…, e pensei que talvez conseguisse escrever algo mais real, com personagens mais reais em uma vida mais cotidiana e, ainda assim, ter o “quê” erótico. Fui pretensiosa e sei disso. Mas fazer o quê, foi o que me abriu as portas da escrita!
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Eu acho que sofro da síndrome da impostora nesse aspecto, porque questiono demais a minha escrita, estilo etc. Sou meu pior crítico. Então, não sei dizer se já posso considerar que tenho um estilo próprio, definido… ainda me vejo em construção.
Eu não leio ninguém em específico, mas sinto que guardo um pouco de cada autora que leio. Das atuais, a escrita da Brittainy C Cherry me impactou muito. Nacionalmente, Karina Heid arrasa. Volta e meia me aventuro a revisar para amigas autoras e eu me diverti demais com a escrita da J. M. Dantas e, agora, estou curtindo demais revisar para a Ida Bochardt. E sinto que guardo um pouquinho de todas elas na minha forma de escrever.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Nossa, que responsabilidade… A série “Elementos”, da Brittainy C é muito boa. São personagens se reconstruindo, tem muita emoção, mas muita superação, também.O lado bom do inferno, de Karina Heid, surpreendeu-me por conseguir unir “hot” e apocalipse. Tem sexo, tem zumbi, tem ação…, eu me diverti muito lendo.Estrela Imperfeita, da J. M. Dantas eu até me considero suspeita, porque revisei e fui beta, mas o romance é delicioso demais. É aquele livro bom pra carregar pra praia, ler nas férias, passar um final-de-semana grudado com ele.