Dalberto Gomes é poeta, ator, jornalista.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim, acordo nove horas , leio os jornais , confiro recados nas redes sociais , assisto reportagens na TV , dou minha caminhada pela Orla de Copacabana, dou uma parada no meu bar preferido para tomar cervejas (2) e saber das novidades da região – sou jornalista da antiga – bar e barbeiro são os lugares onde sabe-se de tudo e como tenho uma coluna em um Jornal do Centro do Rio de Janeiro procuro me manter informado.
Leio alguns capítulos do livro de cabeceira. À noite, se não tiver eventos, (cinema, apresentações na rua e teatros, peças para assistir, etc.) assisto alguns filmes clássicos na TV; um que assisti recentemente, e me chocou foi Saló ou Os 120 Dias de Sodoma um filme de Pier Paolo Pasolini.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
À noite. Meu ritual é isolamento ouvindo música podendo ser clássica ou MPB. Ultimamente tenho varado a madrugada, pois estou terminando a correção do meu sexto livro de poesia “Dalbertear entre o Verso e a Poesia” a ser lançado em Dezembro e dando acabamento a um outro que devo lançar no próximo ano.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tem períodos que escrevo um pouco todos os dias. Como jornalista, às vezes me sinto “imprensado”, mas como poeta não. Ultimamente estou acabando de escrever um livro temático sobre o negro no Brasil, com este será o segundo, o primeiro cujo o titulo é NEGRO SIM encontra-se na sua quarta edição.
Outra coisa, minhas produções literárias são independentes, não tendo compromisso com editora, fico com mais liberdade de criar.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Procuro no cotidiano a fonte de inspiração. Quase sempre me deparo com temas difíceis e complexos de destrinchar. Quando começo a pesquisar procuro alinhavar o que mais me emociona e o que me choca. Faço uma filtragem e coloco no papel.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tem temas que você não sabe como prosseguir, dá um estanque, fico semanas sem debruçar –me sobre aquele trabalho, faço rascunhos e deixo o material madurecer. Escrevo o que sinto e penso sem amarras. Acordo, às vezes, na madrugada para desenvolver ao que fiquei matutando durante o dia com medo de esquecer. Ansiedade faz com que eu prolongue mais ainda os meus projetos. Mesmo acostumado a escrever matérias rápidas para jornal fico ansioso.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso sim! Não gosto, mas reviso. Aí que vem a tortura. Fico horas debruçado sobre o material feito: lambendo, rasgando (apagando), aprimorando, modificando, amando, odiando, achando uma merda. Isto aconteceu recentemente com meu último livro que se encontra no prelo: “Dalberteando entre a poesia e o verso” depois de passar por todo o processo, já foram feitas duas bonecas do livro.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Como sou “das antigas” utilizo o velho e seguro caderno onde rascunho tudo à mão para depois passar para o computador. Vez por outra rola um guardanapo de papel a servir de rascunho.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Muita leitura. Leio de tudo: Clássicos da literatura, revistas científicas, jornais impressos, sites de informativos. Da bula de remédio ao gibi. Sim, através dos anos aprendi cultivar velhos hábitos como andar por bares, praças, parques, conversar e conhecer pessoas, etc. Em minha vida, optei em não possuir automóvel para que pudesse manter esse status de beber na fonte da sabedoria popular.
O que eu cultivo para me manter criativo? Também, é o POESIA CUL, evento que eu dirijo e coordeno com minha esposa em Copacabana no Rio de Janeiro junto a Sociedade Ciência do Sentir. O projeto Poesia Cult consiste em estudar um Poeta Clássico, convidar e entrevistar um poeta contemporâneo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Estou mais analítico, mais exigente, mais sarcástico. Sou autor de uma frase que foi considerada pelo colunista do Jornal O Globo uma das melhores frases de 2013 “Abaixo a Violência e Viva a Saliência”, frase de um poema que está no Livro Dando a Cara a Tapa de minha autoria. O mundo tem que parar com a violência e dar mais vazão ao amor.
Só para lembrar um outro verso de um outro poema meu que virou música: “Gravidade força do universo, novidade o mundo está imerso, o melhor há de vir neste mundo louco até o tabu cair”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tem um projeto, que está “todinho na minha cabeça”, mais ainda não tive o ímpeto de inicia-lo. Que é um livro de contos que relata a criminalidade do Rio de Janeiro , são fatos reais que envolvem personagens que conheci e que descambaram para criminalidade. São histórias de amor, violência, crueldade, morte e horror.
O que eu gostaria de ler ainda não existe… Um livro que relatasse a verdadeira história do Brasil. Um livro mágico que traduzisse o verdadeiro significado da amizade e do amor a ser lido, traduzido e transmitido por podcasts, abrindo a mente de todos os habitantes do planeta.