Daianna Quelle é doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo, vou para o banho, visto a roupa, (des)arrumo o cabelo, tomo café e dirijo até o trabalho. Não sou muito matutina, mas quando acordo cedo é para dar aulas de Literatura na educação básica.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Acho a noite uma criança, cheia de graça e energia. Os pensamentos fervilham, outros chegam ao lugar, as reflexões brotam enquanto a casa silencia. Não tenho ritual para escrever, vem a inspiração e corro para o papel ou o aplicativo de escrita que tenho no celular.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Com a rotina de trabalho e as necessidades do dia a dia não consigo me concentrar para escrever. Minha escrita surge do real, das situações diárias, escrevo contos curtos e ensaio poesia, mas a partir das escrevivências (definidas por Conceição Evaristo). Preciso estar com o celular carregado, pois já aconteceu de estar na fila do banco, numa fila quilométrica, esperando para pagar as contas e surgir uma conversa que virou conto. Acontece também de imaginar enredos, a partir de pessoas que passam pela minha vida, de homenagear “Marias” como foram a minha avó e bisavó, que não puderam estudar e trabalhavam muito.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu comecei a escrever, porque via e ouvia injustiças sócio-afetivas ocorrerem e guardava pra mim. Vi numa mesa com Érica Azevedo, na FLICA, a escrita de contos de João Figuer, pensei, por ter uma escrita narrativa se não poderia fazer contos curtos. Daí fui mostrando a escritoras amigas, como Rita Queiroz e Érica Azevedo e elas foram me dando uns toques. Costa Pinto, João Neto e AnaCarol Cruz também gostaram muito e foram me incentivando, além de minhas alunas do ensino médio que disseram que tava lindo. Eu fui acreditando… Virou “Contos às Marias”.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Oro e sigo… Já sofri muito por essas coisas, mas depois de um fatídico acidente de carro, em que saí ilesa e extremamente grata, entendo que “tudo tem seu tempo”. “Jesus, meu guia é, amigo e protetor”, então sigo nessa dependência.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não mexo demais não, caso contrário mudo tudo todas as vezes. Preciso de que pelo menos Rita e Érica vejam.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tenho escritos em cadernos, agendas, pedaços de papel soltos, rascunhos de prova, mas tô organizando tudo num aplicativo no smartphone e depois mandando para o e-mail, porque já queimei um notebook e quase perco um livro todo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Das histórias que ouço, dos depoimentos que chegam, das coisas que penso, das inspirações vindas dos textos que leio. A vida é inspirativa!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O uso das palavras e rimas acho que estão se afinando. Gosto do detalhar das cenas, mas creio que a linguagem melhorou. A minha escrita era visceral, mas muito mais imatura esteticamente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho contos separados, preciso arrumar numa obra. Mil livros, dentre eles reler outros, tais como “Otelo”, “Perfume – a história de um assassino”, os contos de Machado de Assis – porque ele era um gênio, e das mulheres que seguem o viés da narrativa a partir da realidade.