Cynara Monteiro Mariano é professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não possuo uma rotina para escrever. Talvez para a leitura. Depois de deixar meus filhos no colégio, faço atividade física, que considero essencial para a minha disposição. Depois, aproveito para ler jornais de notícias locais, nacionais e estrangeiros e/ou ler artigos ou livros de interesse geral, não especificamente relacionados com alguma produção a qual eu esteja me dedicando no momento, mas que considero importante para a expansão dos meus horizontes, como educação, psicologia, puericultura, história, política, filosofia, feminismo etc. Acredito que um bom jurista é aquele que não entende unicamente de Direito. Quando ele é professor, então, a necessidade de compreensão universal ou transversal é ainda maior.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Há algum tempo atrás, eu tinha hábitos notívagos de leitura e de escrita, que adentravam as madrugadas. Hoje, procuro me disciplinar para ler e escrever durante o dia, ocupando as noites apenas para finalizar as produções e ler romances ou biografias para relaxar. Não tenho exatamente um ritual de preparação para a escrita. Vou simplesmente escrevendo, deixando fluir.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Minhas leituras normalmente são diárias, mas meus períodos de escrita são concentrados. Não tenho metas diárias, portanto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando considero a leitura e as notas suficientes, organizo as ideias e praticamente toda a escrita do artigo mentalmente. No mesmo dia ou na manhã seguinte, se for o caso, dou início ao período concentrado da escrita que só costuma findar quando o trabalho está concluído. Vou simplesmente escrevendo da forma que vai fluindo. Quando o trabalho começa a adquirir corpo, começo a revisar cada parágrafo já escrito antes de seguir ao próximo e assim vou dando continuidade ao processo de escrita. Deixo sempre a conclusão para elaboração no dia seguinte ao término do desenvolvimento, quando, mais uma vez, reviso a redação por inteiro, parágrafo por parágrafo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não dou importância demasiada a esses fatores. Vou escrevendo e seguindo. Não deixo me imobilizar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Durante o processo da escrita, reviso cada parágrafo várias vezes. Quando o trabalho está concluído, costumo revisá-lo apenas uma vez por inteiro antes de enviar para publicação. Não mais que isso. Não tenho costume de mostrar meus trabalhos para outras pessoas antes de publicar, mas não tenho resistência alguma a essa ideia. Só falta de tempo e de costume mesmo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Às vezes me pego traçando um roteiro do trabalho à mão, quando a ideia de escrever sobre algo me vem à cabeça. Mas em geral trabalho sempre no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm de um cultivo de um conjunto de hábitos que envolvem prazer e valorização da cultura em geral, o que inclui, além das leituras, a música e o cinema. Também compreende boas horas de sono e hábitos de bem-estar em geral, como boa alimentação, lazer e tempo dedicado à família e práticas esportivas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Mudou o horário de escrever porque hoje eu valorizo muito a qualidade do meu sono e descanso. Não tenho muitas coisas a acrescentar sobre o meu processo de escrita da tese, talvez apenas a incorporação de dados empíricos e de documentos técnicos sobre o assunto do qual tratei, que passei a adotar no processo de escrita atualmente, sempre que necessário.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de dar maior impulso ao meu livro “Direito Administrativo Crítico”, que prometi para mim mesma finalizar em 2017, mas que certamente ficará para 2018. Uma obra que descreve os institutos do Direito Administrativo, mas que também revisa seus fundamentos, objetivos e contribuições. Sobre algo que gostaria de ler e que ainda não existe, gostaria de ler produções tendo como objeto a avaliação crítica de cada um dos processos de privatização que ocorreram no nosso país.