Cristina Villaça é escritora, mestra em literatura brasileira, especialista em literatura infantil e juvenil.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho uma rotina, sim, mas não relacionada à escrita propriamente. Tomo limão com água morna e pratico 15 minutos de yoga e meditação. Começo o meu dia procurando estar em conexão com minha essência, meus desejos e necessidades.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto mais de escrever a partir de 11h da manhã. Pausa para cozinhar e almoçar. Retorno às 14h30 e vou até 18h. Não gosto de escrever à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo em períodos concentrados de acordo com o trabalho que me encanta no momento. Minha vida é cheia de afazeres, a própria lida da vida, providências e, claro, leituras, pesquisa, visitas a escolas e eventos, contatos, divulgação, etc.
Não gosto de me impor metas diárias, escrevo quando escrever está bom, a não ser que tenha prazos de editoras.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Às vezes é tudo ao mesmo tempo. Outras vezes a pesquisa é anterior à escrita. Outras vezes ainda, chuto a pesquisa no meio do processo, porque senão fico muito crítica e perco a espontaneidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como tudo na vida, há dias que são difíceis, há dias que são tranquilos, há dias que me cobro, há dias que me perdoo, há dias que voo. Há dias que são zen, há dias que são sem…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso em média 444 vezes. (risos) Mostro para meus dois filhos e para os editores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Vou direto para o computador. Mas tenho um caderninho na bolsa, sempre pintam ideias e observações cotidianas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Ideias vêm e vão. Às vezes em vão. O caderninho sempre ajuda.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria: “Calma, guria, você consegue. É ruim, mas é bom!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Olha, são tantos projetos que já comecei e não concluí, tantos que ainda não comecei… Tento seguir o tempo que o tempo tem. Livros que ainda não existem? Os que serão escritos por gente querida.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Ultimamente simplesmente deixo fluir. Muito planejamento às vezes atrapalha.
Eu sempre começo do começo e vou em frente. Na revisão, geralmente, elaboro melhor o começo, dou um polimento.
A última frase às vezes chega antes do fim, aí eu guardo.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Hoje em dia percebo que há períodos em que fico voltada exclusivamente para um determinado projeto. Só paro para o básico: comer, dormir, etc.
Às vezes escrevo mais de um texto durante o mesmo período.
Há momentos em que só pesquiso. Há períodos que eu não faço nada ligado à escrita, só leio.
Há semanas em que não faço nada, cuido da vida real, descanso, socializo. É bom dar um tempo.
O que motiva você como escritora? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
A leitura me motiva. Acontecimentos me motivam. Tristezas, alegrias, tudo é motivo.
Acho que a decisão de escrever veio naturalmente, de tanto contar, de tanto dar aulas, de tanto ler, a escrita veio como consequência.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Gosto demais de Sylvia Orthof, Ruth Rocha, Lygia Bojunga. E tantos outros escritores maravilhosos.
Quanto às dificuldades para encontrar meu estilo, elas ainda persistem. Ainda busco voz própria.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Ultimamente estou amando a autora italiana Elena Ferrante, já li a tetralogia napolitana e estou lendo Um amor incômodo. São textos secos, sem floreios. A gente vai entendendo as personagens durante o enredo. Esses são títulos de literatura adulta.
Indico também: Isto é um poema que cura peixes, de Jean-Pierre Siméon e Olivier Tallec. Literatura infantil. Poesia escrita e ilustrada. Um luxo!