Cristiano Konno é escritor, autor de A Lenda Perdida do Primeiro Outono (Editora Draco).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como eu tenho um emprego fixo sem relação direta com a escrita, fica meio difícil ter uma rotina sem ser aquela clássica/clichê do assalariado: acordo assustado com o despertador e me apronto feito um zumbi apressado. Mas depois vem o transporte público, e é aí que encontro minha melhor oficina, aproveito esse tempo e me perco em mim mesmo e nas minhas histórias.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor no período da manhã, de preferência em silêncio. Não costumo ter nenhum ritual de preparação. A única coisa que pode chegar perto disso é que eu espero dar aquele frio na barriga que precede a cena. Não sei se todos sentem, é como uma pequena ansiedade/alegria da história prestes a sair dos meus dedos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não sei até que ponto estou errado, mas como sempre espero o já dito frio na barriga, tem dias que nem escrevo. Não tenho metas diárias, mas começo a ficar incomodado com longos períodos sem avanço. Assim, mesmo não querendo, me forço um pouco. Gostaria de ser como Stephen King, que sempre diz que escrever sem parar é o melhor caminho. Mas não consigo, infelizmente. As minhas outras tarefas complicam um pouco. Estou começando como capista também, já tenho alguns trabalhos no portfólio; e como todos sabem: arte, escrita ou “pintada”, requer estudo constante.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não costumo fazer notas. Mastigo, mastigo e mastigo mentalmente as partes relevantes da minha história e parto do princípio ao fim, sem avançar nenhuma cena ou guardar itens de pesquisa (pesquiso de novo, na hora de escrever, no caso de esquecer algo). É como se eu tivesse vendo uma série dentro da minha cabeça e relevando-a na tela do computador para que outras pessoas possam vê-la. E a parte mais prazerosa para mim é o início da história, pois ele é desafiador, é a sua oportunidade de mostrar ao seu possível leitor do que se trata aquilo. E, na maioria das vezes, você só tem uma página para cativá-lo, pois é possível que ele largue o texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Travas na escrita são coisas chatas das quais todo escritor passa alguma vez. Me ajuda ouvir músicas, ver filmes ou trailers do mesmo tema que minha escrita atual. Há cenas específicas de filmes que ajudam muito também. Posso exemplificar o momento final entre Superman e o Apocalypse no não tão recente “Batman Vs Superman”. O conjunto daquela cena, com música, com inspiração, com histórico, com visual: tudo isso me inspira bastante. E não estou dizendo que essa cena é perfeita, mas é um exemplo de como consigo pular as travas: observando outras obras que inspiram. O medo de não corresponder está sempre presente e não tenho nada que possa ajudar nisso, apenas sigo com o medo mesmo, eu costumo fazer as histórias sempre de coração e, se ela não agradar, ela pelo menos está viva para mim. Disponível para quem quiser dar uma chance. A ansiedade de trabalhar em projetos longos é algo que provei pouco, pois minha maior publicação tem 100 páginas, mas acho que ela é divertida, dá muito gás para continuar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes. Mesmo assim tem algo que chamo de ponto cego. Pois, por mais que você revise, seu cérebro está tão acostumado com as passagens, que você não vê o erro (ou até mesmo nem saiba que errou). É por isso que é bom ter Betas e Revisores. Eu costumo mostrar para uma ou duas pessoas, somente.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Adoro tecnologia. Sempre no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acho que vem do conjunto de todos os filmes, livros e músicas que tive acesso durante a vida. E também daquela fagulha interior de todo artista, aquela vontade de contar sobre a magia inexplorada da alma, fazer com que as histórias transmitam o que você sente ou que você quer fazer sentir; ou apenas tentar fazer com que outros enxerguem aquela outra dimensão da qual você vai e volta sempre.
Hábitos são ver trailers, ouvir músicas com letras filosóficas e ler outras obras.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Uma das minhas leitoras me disse que ultimamente meus textos estão bem menos “engessados” do que minha primeira publicação. Eu meio que não entendi, e ela me explicou que agora eles estão mais humanos e tocam em assuntos mais reais e que todos passam. Fico feliz com isso, diria para que eu tomasse mais cuidado em humanizar e dar mais personalidade aos meus personagens.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de ser organizador de uma coletânea sobre um tema que guardo com carinho. Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?: Acho que algo que casasse perfeitamente Stephen King com Ursula K. Le Guin (estranho, neh?, Justin Cronin quase conseguiu em A Passagem, mas na minha opinião falhou por pouco).