Cristiane Tavares é pedagoga e escritora de histórias infantis, autora de “Uma rua chamada Avinyó”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meu dia começa bem cedo. Adoro o silêncio do início da manhã. Minha rotina começa com um café coado, a gata Pipoca no colo e o jornal na porta de casa. Entro em contato com as notícias, organizo o dia de trabalho – sou Coordenadora Pedagógica em uma escola –, dou um alô para meu filho, que mora na Espanha, e faço pequenas listas que quase nunca sigo, mas que me dão um norte pela manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Com certeza pela manhã. Depois de caminhar ou fazer Pilates, me sinto energizada e cheia de ideias para buscar caminhos e soluções para minhas histórias. Como na parte da tarde, durante a semana, estou no colégio, se tem algo com cheiro de personagem bom e enredo interessante, sento e descarrego de primeira. Depois fico lapidando.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todos os dias. Preciso sentir que a ideia chegou, que um personagem é interessante. Isso se dá muito nos finais de semana. É o momento do tempo livre, de tentativas, de pesquisas, e uma parte deliciosa, é compartilhar com meu marido o que ando pensando e escrevendo. Ele é sempre o primeiro a ouvir, a ler, a me olhar orgulhoso e a me incentivar!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tenho muitos processos. Tenho uma coleção de histórias que se passam no campo. Essas histórias, esses personagens, são genuínos e eu os trouxe da minha infância no interior, dos casos contados e passados por minha avó ou criados por meu pai; ou seja, não tem pesquisa, tem vivência.
Escrevi algumas histórias quando trabalhei como educadora no Núcleo de Educação Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Foram histórias que prescindiram de pesquisa, com informações e práticas.
Publiquei recentemente o livro, Uma rua chamada Avinyó, pela Editora Chiado, ilustrado pela querida Bruna Assis Brasil. Essa história saiu inteira, exatamente dessa maneira, assim que cheguei de um encontro com meu filho, que mora em Barcelona.
Chegadas e partidas sempre me acompanharam. Meu pai era aviador. A família de minha mãe, mineira do interior. Então, fazer as malas, matar saudades, chorar e sorrir, foram constantes, e ainda são, na minha vida.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu tenho muito segurança e muita certeza sobre o que escrevo. Trabalhei a vida toda em escolas e o universo literário sempre acompanhou minha vida profissional e pessoal. Eu não dependo emocionalmente das histórias que escrevo. Então, talvez isso me dê uma tranquilidade infinita. Eu me sinto povoada por histórias e personagens. Tenho a impressão de que de onde tiro um, vem outro em seguida. Tenho travas sobre algumas coisas na minha vida. Mas não sobre minhas histórias.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho um ritual em relação aos meus textos. Escrevo. Aí, a limpeza dele vem do ritmo da minha leitura. Isso é fundamental e um grande segredo para quem escreve histórias para criança. Ela precisa ser lida em voz alta, com ritmo, com charme, com entonação – e muitas vezes!
O autor precisa se colocar no lugar do leitor. Seja ele uma criança, ou um adulto que vai ler uma história infantil. O leitor precisa se encantar. O encantamento é sempre a chave para se conectar com a emoção.
Então, depois de ler em voz alta – esse detalhe é importante para histórias infantis – eu peço ao meu marido, que é o melhor revisor do mundo, para dar uma boa olhada! Aí, estou segura e a história está pronta!
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu trabalho em um computador antigo. Estou acostumada com ele.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de todos os lados, mas tem que prestar atenção e abrir o coração. A criatividade é o resultado de uma combinação de fatores. Sua história, seus talentos, o exercício diário em resolver questões. Minha mãe, por exemplo, me disse outro dia que usa a criatividade para viver a velhice de forma mais leve e menos dolorosa. E é impressionante ver os caminhos alternativos que ela usa em seu dia a dia.
Histórias para crianças precisam ser envolventes, precisam conversar com a infância, com sentimentos, com coragens e medos. Eu escrevo histórias para crianças, mas, primeiramente, sou uma contadora de histórias, e isso me mantem alerta e criativa!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A confiança. Sempre transitei bem pelo universo literário, mas hoje sou infinitamente mais segura, porque trago muita experiência. Uma das minhas primeiras histórias, O Pintor de Bichos, é um dos meus melhores textos. Publiquei o livro em 1996, meu sobrinho Cadu Tavares ilustrou, e o texto e as ilustrações continuam deliciosamente saborosas e criativas.
Eu tenho muito orgulho dos meus primeiros textos! Se eu pudesse voltar, diria para mim mesma ser mais confiante.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria muito de publicar algumas histórias minhas em Língua Espanhola e em Língua Inglesa.
O livro que eu gostaria de ler, e ainda não existe, é o próximo livro do meu marido. Adoro como ele escreve e sou encantada com seu estilo. O primeiro livro que ele escreveu, juntamente com Nelio Rodrigues, foi Sexo, Drogas e Rolling Stones! Foi um sucesso e ele tem um conhecimento profundo sobre rock e cultura.