Claudia Maria de Vasconcellos é ensaísta, dramaturga e escritora infanto-juvenil.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não consigo seguir uma mesma rotina diária. Mas o mais comum é que depois de passear com minha cachorrinha e tomar um café leve, gaste o resto da manhã em frente do computador.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever de manhã. Meu ritual é ter ao acance da mão uma xícara de café.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Se estabelecer uma meta diária, não vou cumpri-la. Estabeleço então uma meta mensal ou semanal. Dentro de uma margem mais larga me sinto mais à vontade.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Todos os meus escritos acadêmicos, mestrado, doutorado e dois pós-doutorados seguiram o seguinte roteiro: dois anos ou mais de leituras e anotações, um ano integralmente dedicado a escrita. Nos anos de leitura o recorte e o formato do texto se configuram. No ano de escrita é só seguir o roteiro.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu respeito muito os tempos de pausa, ócio, descanso que são necessários em jornadas de estudo longas. Sem crise, sem culpa. Às vezes, no entanto, basta mudar de cenário e a trava desaparece. Por isso, é comum me encontrar nos cafés da minha vizinhança estudando.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não costumo mostrar para ninguém durante o processo. A não ser para os envolvidos no processo de avaliação acadêmica, orientador, supervisor, bancas e pareceristas. A revisão acontece a medida que o texto é escrito. Releio o que estou escrevendo muitas vezes, para não perder o tom, o fio das idéias, e remanejo se necessário em função de alguma idéia nova, alguma conexão insuspeitada que descubro.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo no computador. Jogo todas as minhas notas fora, depois do trabalho publicado ou defendido. Não deixo rastros. Quero estar livre para novos projetos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Ideias vêm da bagagem de leituras, estudo, aulas assistidas, e, sim, de experiências de vida e ética pessoal. Sinto-me criativa se o assunto que investigo está vivo em mim, me instiga, se acredito em sua importância para o mundo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Encontrei um tom ou uma onda na qual consigo surfar. Isso faz uns 15 anos. É um fluxo intenso, um fluir no qual organizo as idéias e as palavras no tempo. Imagino que isso possa ser chamado de qualidade literária do texto.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
No momento, tento desenvolver um projeto não exatamente acadêmico, com o amigo Juliano Garcia Pessanha, um ciclo de leituras e estudos chamado Origens do Totalitarismo e seus Testemunhos. Tem como ponto de partida a obra de Hannah Arendt sobre o Totalitarismo, mas vai à obras testemunhais, diários, análises, crônicas de época. Parece que hoje radicalismos ideológicos à esquerda e à direita são posturas de esquecimento programáticas, posturas de insensibilização da empatia, ignorância construída a respeito de todos os que sofreram e morreram nos regimes totalitários. É preciso conhecer o assunto, para evitar a catástrofe. Quero ler o livro, ou a peça teatral, ou ver a instalação, que resultar desta investigação, que, espero, congregue o interesse de outros intelectuais e artistas.