Cláudia Machado é contista, graduada em engenharia civil com especialização em Suprimentos e Contratos.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu começo o meu dia com um café da manhã bem cedo, que normalmente faço só, enquanto meu marido e filhos ainda dormem. Tenho uma atividade profissional que me obriga a estar desde as 8 horas no trabalho então, as contemplações durante o desjejum eu as anoto num bloco de notas do celular e mais tarde vou trabalhar num texto sobre o tema que brotou entre o café forte amargo e o queijo mineiro.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever no bloco de notas do celular. Há anos faço assim. Quando a ideia vem é nele que escrevo rapidamente as frases que me vem à cabeça. Se a vontade de desenvolver o texto for forte, paro tudo e escrevo de uma só vez. Daí leio e releio. Mudo palavras que porventura repeti, troco um verbo ou outro… Se o resultado me agrada publico no site Recanto das Letras, meu repositório de textos. Ainda assim, o edito no mínimo uma ou duas vezes. Divirto-me muito escrevendo e igualmente buscando uma ilustração para o texto, seja conto, crônica ou poesia. Muitos dos textos eu publico depois no Instagram, na página @escritoramaflor que criei uns anos atrás.
Meus familiares reclamam muito quando fico tempo excessivo no banheiro. O à porta: – Está escrevendo né?
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho uma meta nem uma obrigação em escrever periodicamente. Penso que a escrita intuitiva é muito mais rica. Percebo que passo por períodos mais produtivos que outros e respeito isso. As vezes tenho vontade, necessidade de escrever e não sai nada satisfatório. Não forço. Paro a escrita, deixo ali no bloco para retornar num outro momento. Mas nunca volto. A escrita para mim é algo que vem como o vento. Passou, já era!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Normalmente não planejo sobre o que vou escrever, mas na série “Memórias de um Faroleiro”, por exemplo, fui pesquisar elementos da rotina desse marujo para enriquecer os textos. Isso me dá muito prazer. Muitos textos me obrigaram a pesquisar antes. Contos de época por exemplo, gosto de entender o que se passava no período para levar ao texto elementos coerentes com a época. Isso eu fiz em vários contos como por exemplo em Um Contos de Castelo, também em Prima-Dona e Reconciliação.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Então, eu normalmente, se me demoro num texto, corro o risco de abandoná-lo. Gosto de contos porque são curtos. Talvez não escreva nunca um romance pois não sei se teria como nutrir uma paixão longa pelos personagens.
Na construção de um conto, eu me apaixono pelo personagem. As vezes crio até três contos com os personagens principais, como fiz em Um Certo Sujeito e Um Sujeito Certo que surgiu de uma letra para um samba que fiz com o parceiro Germano Ribeiro (fizemos algumas músicas). Costumo também dar a um personagem secundário um destaque, o transformando em protagonista em outro conto, como em O Caso de Hortência (personagem secundária de Reconciliação).
Não vou dizer que não sinto frustração por não receber muitos feedbacks sobre os meus textos. Como publico no site Recanto das Letras, alguns leitores deixam sistematicamente seus comentários, mas como não divulgo meus textos, nem fico amealhando comentários no site, eles não são muito comentados. Procuro não me fixar muito no retorno do leitor. Gosto mesmo é de curtir o processo criativo. É como lamber a cria, sabe?
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu normalmente reviso média de cinco vezes. Sou cuidadosa com o português e as vezes envio para minha irmã que é craque na língua pátria e me corrige nas vírgulas fora de lugar por exemplo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O bloco de notas do celular é o meu “fiel escudeiro” e já até fiz textos em sua homenagem como a crônica “Um Certo Sr. Smart”.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Normalmente as ideias chegam repentinamente. Gosto de contemplar a vida, o universo, as flores, a mente… Até os insetos me trazem elementos para a escrita. Os hábitos e sentimentos humanos são o que mais exploro nos meus textos. Um texto precisa ter um propósito, levar ao leitor um recorte de uma emoção com a qual ele se identifique; provocar a reflexão; apresentar um olhar para uma questão de um outro lugar, de uma outra perspectiva. Isso é uma característica dos meus textos que procuro cultivar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu comecei a escrever meus primeiros poemas aos 13 anos. Puxa, tenho esses textos há quase cinquenta anos… Olho para eles até hoje e vejo que a menina sonhadora e romântica ainda vive em mim. A maturidade aparece nos textos de forma clara, fato, mas a reflexão e os questionamentos que eu fazia, ainda os faço.
Se eu pudesse voltar no tempo eu me arvoraria a escrever contos desde a adolescência. Lembro quando ganhei, num concurso de desenho do Sesc, a coleção “Para Gostar de Ler” que foi fundamental para minha paixão pelas letras. Amei cada texto daquela coleção.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de publicar um livro de contos, esse estilo que me cativou há pouco mais de um ano.
Um livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe? Gosto muito de literaturas que falam de ciência, filosofia, budismo… Talvez seja interessante juntar todos esses elementos numa única história!