Christopher Kastensmidt é autor transmídia e criador de A Bandeira do Elefante e da Arara.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Preparo uma jarra de café para me sustentar até o almoço, olho as redes sociais e depois começo a escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Se eu pudesse, eu trabalharia de madrugada. A minha produção rende melhor naquele silêncio. Porém, por motivos familiares, escrevo durante o dia.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrever é a minha profissão, gasto boa parte do dia escrevendo. Não tenho meta diária, porque cada projeto pede coisas diferentes em momentos diferentes. Pode ser o momento para pesquisar, para organizar, para revisar. “Escrever” em si nem é a maior parte. Normalmente trabalho em cinco ou seis projetos ao mesmo tempo, que podem ser desenhos animados, games, RPGs de mesa, histórias em quadrinhos, livros ou outros.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Indiferente da mídia em que estou trabalhando, o meu processo de longo prazo para cada projeto é bastante similar. Começo com um período amplo de pesquisa, depois desenvolvo personagens e ambiente, logo vou para a estrutura do enredo e finalmente, começo a escrever a obra em si.
Começar não é difícil, principalmente pela quantidade de projetos que tenho em andamento. Se eu ficar parado em um, troco para outro. Nunca paro de produzir, e nem posso, porque preciso pagar as contas!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Parei de lidar com estas coisas há muito tempo, quando comecei a tratar a escrita como uma profissão. Sou o meu próprio chefe e não aceito desculpas. Que nem qualquer outro emprego, tenho que produzir ou vou perder o emprego.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso tudo pelo menos três vezes, mas pode chegar a ser dez ou mais. Depende da qualidade do primeiro rascunho e das ideias que vão surgindo.
Sempre recebo críticas de outras pessoas antes de publicar qualquer coisa. Minimamente, procuro três opiniões profissionais. Em projetos maiores, como um desenho animado de vários episódios, sempre trabalho com uma equipe, onde cada um critica o trabalho dos outros.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Posso até anotar umas ideias no papel, mas logo levo tudo para o computador. Digitalizo muito mais rapidamente do que escrevo. Consigo digitalizar 5.000 palavras ou mais de prosa por dia, quando chega a hora.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm do mundo ao nosso redor; quanto mais o exploramos, melhor estas ideias vão ser. Procuro consumir artes diferentes, experimentar comidas novas, conhecer lugares variados. Importante é não cair na rotina.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu não sei que eu teria muito a oferecer além do que os profissionais me ofereceram naquela época. Participei de grupos de críticas, oficinas, conferências e aprendei de dezenas de autores ao redor do mundo. Importante é ir atrás destas oportunidades.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho centenas de projetos que comecei, mas nunca foram adiante. Tem que ser o projeto certo no momento certo. Os projetos que tive que começar, comecei. Lancei no final de 2017 um projeto que foi um sonho de mais de 30 anos: a minha própria RPG de mesa na forma de A Bandeira do Elefante e da Arara: Livro de interpretação de papéis. No momento, estou dando continuidade aquele projeto, e publicando as obras de outros autores no mesmo universo.
O livro que eu gostaria de ler é o final de Berserk, de Kentaro Miura.