Christian David é escritor, biólogo e especialista em Literatura Brasileira pela UFRGS.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho uma rotina para a escrita, sou meio caótico nisso. Escrevo quando dá, do jeito que dá, muitas vezes no computador, quando é prosa, e geralmente no papel quando é poesia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Continuo caótico. Sem rituais e horários pré-estabelecidos. Como já há dois anos passei a me dedicar totalmente para a literatura, deixando meu emprego regular, perdi minha referência de rotina e estou tentando retomá-la, mas trabalhar em casa acaba te envolvendo em uma série de outros assuntos que interferem na concentração e preciso estabelecer algum tipo de acordo comigo mesmo para ser mais produtivo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta diária, escrevo em períodos concentrados, mas também pego no papel e anoto ideias praticamente todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Deixo a história gestar na cabeça e vou montando cenas antes de colocar no papel. Não faço todo o planejamento antes de começar a escrever. Muitas vezes tenho um início, um personagem e um final já imaginados e trabalho, ao sentar para escrever, nos meandros da história, nos personagens secundários e em frases de efeito. Mas acho sempre difícil começar, escolher o tom, a linguagem e o narrador. Os elementos da narrativa precisam ser apropriados ao tema e intenção ao contar a história.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes acontecem períodos mais secos, não de ideias, mas de disposição de sentar e escrever. Não tenho medo de não corresponder às expectativas porque escrevo, em primeiro lugar, para mim mesmo e se coloco no papel é porque o texto está me convencendo e me agradando. Projetos longos são, de fato, desafios maiores de concentração e persistência, mas, se são a opção do momento do autor, precisam ser encarados, entretanto não tenho pressa nestes, posso ficar alguns meses ou anos trabalhando neles sem ficar estressado. Acabo entremeando os mesmos com outros vários projetos, de forma que a produção continua.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei quantas, mas reviso várias vezes e quase sempre peço para algum profissional uma leitura crítica, ou pelo menos para algum amigo do ramo literário que dê uma olhada. Não adianta mostrar o texto para pessoas que não são do ramo ou que não farão as críticas pertinentes. Parentes geralmente são só elogios.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Uso papel, computador, tablet, celular, qualquer suporte que puder carregar palavras, mas a versão final sempre vai para a tela do computador, que, acredito, confere maior clareza e uma visão mais ampla do texto.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm de se colocar em contato com elas através de muita leitura, filmes, músicas, conversas, histórias, observação, notícias, etc. Fora esse não tenho nenhuma outra forma de ter ideias, que, aliás, estão soltas por aí, não é necessário ser nenhum gênio para tê-las, a forma de colocá-las no papel é que transforma as ideias em literatura.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Aprendi a me expressar melhor, trabalhar melhor com as palavras, entender o efeito que causam e como utilizá-las para atingir objetivos de narração. Saber cortar o excesso é também algo que se aprende com o tempo e muitas tentativas. Escrever de forma simples é o mais difícil, comunicar mais com menos é algo necessário. Felizmente sempre fui muito sucinto e econômico ao escrever.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vários projetos ainda não começados. Pretendo escrever outro romance, mais de um. Apesar de gostar muito de novelas gostaria de me testar de novo em um texto mais longo. Adoro escrever para crianças e jovens, então tenho vários projetos nessa área, alguns já começados e em andamento.
Minha lista de leitura é imensa e o cardápio é variado, ainda não deu muito tempo de pensar no que não foi escrito. Se eu não encontro uma história, de algum tipo específico, que eu gostaria de ler, ela entra para minha lista de projetos.