Chico Felitti é autor de Ricardo e Vânia.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu acordo cedo, lá pelas sete, tomo uma vitamina e já sento pra escrever. Escrevo até a cabeça começar a falhar, vou nadar ou fazer algum esporte e tocar as questões práticas da vida. Se o dia permite, volto a escrever no fim da tarde – na maioria dos dias, não consigo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De manhã. O mundo está mais silencioso e minha cabeça também. Não tenho ritual nenhum.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias, o dia todo. Seja reportagem, roteiro, tradução ou ficção. Quem determina a meta costuma ser o prazo de entrega, pra trabalhos já fechados.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Para escrever não-ficção, é fácil: apuro até não aguentar mais ouvir do assunto. Daí, quando estou sonhando com o assunto e não aguento mais, sento pra escrever. Já com ficção, como costumo escrever coisa muito pop, não costumo depender de pesquisa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Acho que sofro do problema oposto: produção descontrolada e sem foco. Atualmente, por exemplo, estou escrevendo um livro infantil, um livro de contos, um roteiro de programa de TV, uma biografia e umas três reportagens. Acho que manter a mente mastigando o tempo todo é o melhor jeito de não pirar: você tá sempre fazendo malabares com mais bolas do que consegue lidar, e não tem tempo pra focar em uma bola só. O problema é acabar abraçando mais coisa do que seria o ideal, e deixar uns trabalhos incompletos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Detesto revisar. Mas tive a sorte de me cercar de gente muito boa pra ler e opinar nas coisas mais importantes. Quando eu ainda trabalhava na Folha, eu e dois amigos, o Diogo Bercito e a Anna Virginia Balloussier, começamos a nos mandar os textos mais perigosos, por assim dizer, e um opinava no do outro. Ainda mantemos esse hábito. Por uns anos tive também um grupo de escrita de ficção com uns amigos (a Nathalie Lourenço, o Leonardo Richner, a Márcia Dallari e o meu marido, Renan Bianco). A gente se encontrava uma vez por semana e criticava o texto de uma pessoa. Deu tão certo que todo mundo foi publicado. Acho que seus amigos, no fim, são os melhores editores do mundo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Começo a escrever já durante as entrevistas, no bloco de notas do celular, e depois pego esses arremedos de parágrafo e junto tudo no Word.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
De qualquer canto. Acho que curiosidade é o que mais me traz ideia.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Se uma coisa mudou, foi que aceitei meu caos. Eu não consigo escrever um texto linear –respondi a pergunta 7, depois 4, depois a 1, e vim e voltei pra esta pergunta umas 14 vezes.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
A biografia do Jorge Lafond, que eu comecei na faculdade, mas nunca terminei. Fui convencido por um professor de que não era assunto digno para um livro. Na época, eu não percebi que era só homofobia mesmo, e o livro teria valido. Daqui a pouco eu volto pra ele 😉