César Manzolillo é escritor, pós-doutor em Língua Portuguesa pela USP.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Na verdade, não tenho. Acho que uma rotina de escrita é algo que só favorece o escritor, mas, no meu caso, isso não é possível. Tento começar o meu dia resolvendo aquelas tarefas mais urgentes. Procuro respeitar uma lista de prioridades, a fim de conseguir dar conta de tudo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Isso varia muito. Qualquer hora do dia pode ser propícia para a criação. Às vezes, vem aquela necessidade imperiosa de escrever. Sinto que preciso sentar diante do computador e preencher a tela em branco. Mas é tudo feito de forma natural, sem pressa e sem rituais.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrever todos os dias é o ideal, mas acaba não sendo possível. Procuro estabelecer metas (nem sempre, consigo cumpri-las). Um aliado do escritor se chama prazo. Se o tempo está acabando…
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Bem, no caso da escrita literária, nem sempre pesquisas e notas são necessárias, Quando elas se fazem presentes, o sistema varia. Durante a redação, pode ser preciso realizar novas pesquisas. Não dá para definir nada previamente. O segredo é deixar que a prática seja guiada pelas demandas do próprio processo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Procuro realizar as tarefas em função dos prazos, ou seja, o que precisa ser entregue antes tem prioridade, mesmo que surja depois. Contra a procrastinação, uma data que funcione como limite constitui um ótimo remédio. Medo de não corresponder às expectativas é algo normal, diria até inevitável. O ser humano é, por natureza, inseguro e carente da aprovação alheia. Aprendemos a lidar com isso simplesmente fazendo acontecer, não vale a pena ficar pensando muito nessa questão. Sim, de fato, projetos longos me causam ansiedade (quero ver logo resultados concretos). Tento fugir deles sempre que possível.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso algumas, cada caso é um caso. Sem dúvida, a revisão é uma parte importante do processo de escrita. Em geral, mostro para alguém antes de considerar o trabalho terminado, mas nem sempre tenho essa chance.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador. Não consigo escrever à mão, sinto que o texto não flui. Gosto do conforto proporcionado por essa ferramenta: eliminar e inserir partes, trocar trechos de lugar… Fico imaginando como devia ser bem mais complicado escrever sem poder contar com o valioso auxílio desse recurso.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias simplesmente aparecem. De onde menos se espera inclusive. Uma notícia de jornal, um programa de televisão, um conto, um poema (textos literários em geral), um filme, uma peça, uma canção… É preciso apenas estar aberto e receptivo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que melhorou bastante com o passar do tempo. O natural é que tudo aconteça de modo espontâneo mesmo. A prática leva ao aperfeiçoamento. Agora, tenho mais noção dos recursos e potencialidades que posso utilizar no processo. Tornei-me um escritor mais consciente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São tantos. Quem trabalha com arte, com frequência, tem a cabeça fervilhando de ideias. Isso é angustiante, pois nem sempre conseguimos dar conta de tudo, especialmente com a celeridade desejada. Incontáveis livros memoráveis já foram escritos. Já li e reli vários deles, mas precisaria de muitas outras existências para poder dar conta de tudo.