Cellina Muniz é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nem sempre os dias são iguais. Na maioria das vezes, logo cedo saio para a Universidade. Às vezes, quando posso ficar em casa, me alterno entre afazeres domésticos e computador, em que geralmente trabalho em algum texto acadêmico (artigo científico) e de divulgação (tenho um espaço na coluna de opinião do site jornalístico Saiba Mais). Isso quando não acordo de ressaca.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depende do tipo de escrita. Uma escrita mais racional, digamos, é preferível pela manhã, tomando um café forte. Já uma escrita literária, ocorre geralmente à noite, saboreando um vinho e preparando o jantar para minha filha.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sem nenhum controle ou meta. Escrevo quando quero e me sinto instigada. E geralmente acontece quase todos os dias, seja uma escrita acadêmica, seja literária. Nem que seja uma linha por dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Vou responder essa pergunta relativa à escrita literária. Tudo começa com um lampejo de ideia. Notas nos cadernos costumam quase sempre acontecer e quando vou para o computador algo sempre se modifica. Mas às vezes tb escrevo no computador. De um jato, sem muita abertura para reescrita e/ou revisão.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido bem. Escrever para mim nunca foi sacrifício ou sofrimento, pelo contrário. Acho que esse movimento de me alternar entre escrita acadêmica e escrita literária também ajuda. Mas se eu travar, e acontece, eu deixo aquele escrito na geladeira sem angústia nenhuma e vou fazer outras coisas. Sou procrastinadora, sim, e só escrevo sob o imperativo da vontade. A sorte é que sempre estou muito a fim de escrever.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muito pouco (tanto que às vezes saem erros crassos rsrs). Minha escrita, como eu disse, e principalmente a literária, ocorre de um jato. E sinto cada vez mais que prezo pelo poder de síntese, não sou de ficar enfeitando ou embromando muito. Antes eu não costumava, mas atualmente mostro sim meus textos antes da publicação, sobretudo para pessoas queridas e que eu julgo boas leitoras.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou do tempo do caderno e da máquina de datilografar. Anoto esboços e ideias iniciais em algum dos numerosos cadernos que vou acumulando. Depois vou para o computador, onde rapidamente dou a versão final.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vêm de todos os cantos. Uma cena vista na rua, uma conversa com amig@s ou alun@s, um sonho no meio da noite… A leitura com certeza também sempre ajuda.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que ultimamente estou cada vez mais suscinta e gostando mais de explorar a linguagem poética na minha prosa. Acho que conto cada vez mais com a colaboração do leitor no sentido de deixar o texto cada vez mais em aberto e permitir que o leitor dê a conclusão que quiser para a estória. Para aquela menina de 14, 15, 16 anos que um dia eu fui, que matava a aula para ir escrever no cemitério, eu só diria o mesmo que já intuía naquela época: vamos em frente e fé no Devir.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Projeto: escrever o próximo livro. O desejo de leitura é exatamente esse: aquele livro que ainda não existe. De preferência aquele que mostre depois que a vida também copia a literatura.