Catarina Lins é poeta.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente eu começo meditando.
Aí eu preparo o café e, se houver algum texto em que esteja trabalhando no momento, esta seria a melhor hora para reler e fazer algumas pequenas alterações.
Mas as manhãs dependem muito do tipo de projeto em que estou trabalhando.
Na época do meu último livro, por exemplo, as manhãs eram o momento (depois do café) de escrever e organizar tudo o que eu tinha “coletado” durante o dia anterior.
Hoje, no entanto, fechando o próximo livro, de manhã fui fazer yoga e depois voltei para trabalhar em outras coisas (traduções, roteiros, esta entrevista).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De novo, as manhãs. Não tenho rituais de preparação para a escrita. Normalmente gosto de estar em silêncio (sobretudo pela manhã) mas não é obrigatório, porque posso anotar coisas no bar, na rua. Mas a hora de escrever mesmo é sempre pela manhã, depois do café.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita, mas escrevo (nem que seja uma linha ou uma anotação breve) todos os dias. Mas, de novo, o ritmo de escrita depende muito do projeto. N’O teatro do mundo acho que tive uma meta de mais ou menos 3 páginas por dia, mas só porque o livro pedia esse tipo de ritmo. No novo livro, ao contrário, o ritmo da escrita foi bem menos intenso e os poemas surgiram com mais espaço entre eles (ah, claro, n’O teatro do mundo era um único poema, daí que eu só pude descansar no fim de tudo).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido bem com isso. Normalmente, se falarmos da poesia, isso que chamas “trava” me angustia um pouco – mas é fácil fugir: ler, não pensar nisso, traduzir, desenhar. Não quero dizer que essas coisas resolvam, pelo contrário, mas tiram um pouco a atenção desse impedimento. E aos poucos acho que essa “trava” vai se dissolvendo ou pelo menos se tornando menos assustadora.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não sei quantas vezes reviso. Tenho a impressão de que não muitas. Ao mesmo tempo, é como se ficasse sempre revisando (mesmo depois de publicados, pensando se aquele travessão deveria estar mesmo ali). Como fico sempre mudando de ideia nas revisões (revisando a revisão), tento não levar tão a sério isso de revisar, porque se não seria um trabalho infinito. Então a resposta mais precisa seria: eu reviso muitas vezes, mas normalmente vezes preciso parar e publicar como está – o que não significa que não vou mais revisar, ainda que mentalmente. Mas sempre mostro antes de publicar. Sempre. Se duas ou três pessoas em quem confio disserem que já posso parar de revisar, normalmente acredito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Vou anotando em caderninhos ou o que estiver a mão e depois passo para o computador e começo a montar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não faço a menor ideia de onde vêm. Acho que me mantenho atenta às coisas do mundo – o que as pessoas dizem, o que observo, o que escuto na rua, como uma pessoa se move, algum detalhe. E então tento entender algo sobre isso. Algumas ideias vêm daí.