Carolina Schettini é escritora, autora de “Re(a)mar” e “No Céu e no Mar”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou a senhora sem rotina. Como trabalho com horário livre, costumo ter uma vida bastante tumultuada.
Mas, se apareceu alguma boa ideia à noite, após o café da manhã, me sento no notebook e escrevo o que estava na cabeça.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
As ideias para texto costumam aparecer de madrugada. Como tenho o hábito de dormir muito tarde, às vezes, mal me deito e vem uma boa história.
Só me restam três opções: levantar e escrever (normalmente, não o faço), tomar notas no celular (e tentar criar de manhã) ou não fazer nada e perder a história.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tento escrever todos os dias, mas tem dias que dá muita preguiça e só leio.
Como escrevo muitos contos, se começo um novo, vou até o final.
Se estou escrevendo um romance com prazo, coloco metas diárias. Prazo curto, mínimo, duas mil palavras. Prazo longo, uma página. Se não tiver prazo, fica complicado, porque roubo o tempo para escrever contos ou poesias.
Livro infantil, também sai de uma vez. Mas, sempre volto na história, algumas vezes faço várias versões do mesmo texto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando preciso fazer alguma pesquisa, como no romance que escrevi e no que estou escrevendo agora, gosto de pesquisar e já escrever automaticamente.
Pesquiso o que preciso para aquele pedaço do texto, para aquele capítulo, escrevo o assunto e continuo.
Não guardo pesquisas, me dá desânimo de trabalhar com elas depois.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando estou procrastinando muito, tento escrever uma frase, um miniconto, um parágrafo num diário.
O difícil é começar. Depois, a mão e o cérebro se acostumam.
Não me preocupo muito com expectativas alheias, aprendi com colegas escritores que sempre haverá mais críticas que elogios, principalmente de conhecidos, que sequer lerão o que você escreveu.
Projeto longo, como um romance, é bastante cansativo. Hoje, entendo perfeitamente livros que vão muito bem até quase o final, quando dão uma derrapada.
O autor se cansa. Se cansa de escrever, dos personagens, da história e quer dar um fim naquilo o mais rápido possível.
Tem autor que até mata personagem de uma vez. Como ainda não fiz isso, tento encaixar logo os pares, para poder ficar livre e começar a escrever outra coisa.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
A revisão é coisa complicadíssima. Cada vez que o autor lê, muda uma palavra, um sentido, alguma coisa.
Meu primeiro romance escrevia e revisava capítulo a capítulo. No segundo romance que estou escrevendo, vou revisar só no meio do livro. Talvez, em um próximo, revise só no final.
Eu tento desapegar logo dos meus textos.
Envio para alguém ler.
Se tiver onde publicar, publico logo. O mais rápido possível.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo sempre no computador. De madrugada, às vezes, tomo notas no celular.
Só escrevo à mão poesias, porque posso riscar palavras e substituir no papel. Ou trocar versos com “setas”.
Comecei a imprimir meus textos, para ler e modificar à caneta.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias surgem do nada, de algum fato que aconteceu, alguma lembrança, alguma notícia no jornal.
Quando não tenho novidades, procuro fazer exercícios de escrita criativa.
Busco ideias no Instagram, na internet, em cards que compro.
Sugestões de tema, vindas de terceiro, são a melhor coisa para um escritor.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Se o voltasse o tempo, eu teria mostrado meus textos para o mundo.
Sempre escrevi, mas só agora, com quase meio século de vida que comecei a publicar.
Quantos textos meus não se perderam pelo caminho?
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho muita vontade de aprender a escrever roteiros para o cinema e novela.
Seria muito bom se achassem textos do Fernando Sabino ou Caio Fernando Abreu perdidos em alguma mala esquecida em um porão.