Carolina de Paula é doutora em ciência política, diretora executiva do DataIESP e sócia da Vértice Inteligência.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia começa bem cedo! Acordo sem despertador por volta das 6h30, acho que meu corpo aprendeu que as primeiras horas do dia são as melhores pra mim. A rotina consiste em tomar café e ao mesmo tempo checar minhas redes sociais. Aí verifico se tenho algum e-mail urgente e já respondo nesse mesmo momento. Depois eu costumo varrer as notícias, confesso que sou viciada. Faço isso de manhã cedo (gasto cerca de 1h30) e sigo acompanhando ao longo do dia. Sobre temas específicos que me interessam eu gosto de criar alertas no google que já direcionam a notícia para o meu e-mail.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Se posso escolher um horário para trabalhar com a redação de textos, o que nem sempre é possível no mundo real, eu prefiro pela manhã. É o período que tenho mais energia e também poucas interrupções das notificações do whatsapp e messenger! Por incrível que pareça o meu dia favorito para escrever é domingo. Por exemplo, toda a minha tese eu redigi nas duas primeiras horas dos dias úteis (na época eu trabalhava também em uma empresa, com jornada de 40h) e aos domingos eu escrevia a parte mais pesada, a analítica e interpretativa. Não tenho grandes rituais de escrita, só gosto de organizar mentalmente o texto, pensar o que farei em cada seção. Como se eu conseguisse já visualizar o texto antes de pronto, sabe? Pensando agora, isso é meio esquisito na verdade. (risos)
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando a escrita se torna um trabalho é preciso escrever constantemente, e sempre fiel aos prazos. Ou seja, praticamente todo dia. Todos os textos que eu desejaria escrever por prazer estão parados nesse momento.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O que move a pesquisa para a escrita é basicamente o deadline! Afinal, pesquisar é uma delícia, né? Se deixar a gente só fica na fase da pesquisa. Sobre o processo eu procuro levantar os dados e a bibliografia, não tenho o hábito de compilar sistematicamente notas ou fichamentos, fazia isso quando era mais jovem. Se estou fazendo um artigo eu gosto de pensar na estrutura das seções, já defino logo de saída cada parte do meu texto. Eu sou bastante rígida com meu planejamento diário de trabalho, seja de escrita ou pesquisa. Acredito que por trabalhar de modo autônomo isso se torna imperativo. Não tenho vínculo profissional empregatício, assim não há tempo para “enrolar”, pois o meu rendimento financeiro é proporcional ao meu empenho.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu sempre tento fazer o meu melhor e não me preocupo muito com o resultado final. Pode soar meio arrogante e pretensioso (e talvez seja mesmo!), mas faço tudo com muita paixão e entusiasmo, adoro o meu trabalho. Sei que há dias bons e dias ruins para a escrita ou para qualquer outra tarefa que exija algum esforço mental. Para esses dias dou prioridade para algum trabalho mais mecânico que está pendente ou mesmo para alguma questão administrativa, já que também tenho uma empresa. Ou então faço uma pausa, saio para comer um doce ou dou uma volta na praia! (risos)
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Gosto de ir revisando sempre que finalizo uma seção. Mas não sou muito obcecada com isso, prefiro ir seguindo adiante e redigindo sem me questionar demais se está excepcional ou não. Depois retomo algum trecho. Com o texto já pronto eu gosto de ler mais uma vez. Eu gosto de mostrar para uma ou duas pessoas, no máximo. Claro, os nossos principais trabalhos acadêmicos geralmente são gestados inicialmente em papers para congressos, e já receberão as criticas dos pares. Quando é um relatório de pesquisa ou de consultoria eu não costumo pedir avaliação externa.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador. Brinco que nem sei pensar com caneta e papel mais! O computador permite visualizar o todo e remontarmos as partes durante o processo, quase como um quebra cabeça.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu trabalho com temáticas atuais da política brasileira, assim as ideias entram na minha casa todos os dias, assim que acordo e olho para o celular. E para quem trabalha nessa linha da política assunto é o que não falta nos dias de hoje. Meus interesses trafegam também pelos estudos comportamentais, desse modo uma simples conversa no elevador já ajuda a cultivar a criatividade e me inspirar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acho que antigamente, quando eu ainda era graduanda e mestranda, ficava muito presa às teorias mais consagradas ou aos autores mais citados do assunto. Dessa forma o trabalho tinha um grau de previsibilidade muito maior, e por consequência uma menor contribuição analítica. Veja, não é que agora eu não utilize a bibliografia central ou relevante, mas acredito que quando você deixa a sua pesquisa e interpretação falar a contribuição que você oferece ao seu campo é muito maior. Os pesquisadores mais jovens da minha área, que é a ciência política, têm o costume de reproduzir estudos baseados em modelos prévios ou então testar algum conceito para uma dada situação e contexto. Assim, diversos temas sequer são explorados. Geralmente recebem o mesmo ângulo metodológico e analítico, deixando a sensação de uma eterna repetição. Precisamos encarar com mais leveza e originalidade os nossos objetos, consequentemente isso será refletido na hora de escrever sobre eles.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho milhares de projetos em mente, acho que por isso acordo tão cedo! Quero muito terminar de escrever meu livro sobre pesquisa qualitativa na ciência política, já comecei e está empacado. Como não tenho deadline ele sempre é superado por outras demandas. Sobre o livro que gostaria de ler e não existe seria alguma coisa sobre “A necessidade das Ciências Sociais num contexto político dominado pelo ódio”, ou algo do tipo.