Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira é professora titular e emérita do Departamento de Antropologia da PUC-SP.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não começo muito bem o dia; tomo rapidamente um café e somente lá pelas 11h estou mais feliz. Não tenho rotina. Não gosto de repetir as coisas. No café da manhã, preciso sempre de inspiração, café ou suco ou pão ou, ou, ou.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Por volta das 16h em diante é o período que mais gosto de trabalhar. Para começar a escrever preciso sempre de um título, mesmo que provisório.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Posso passar muitos dias sem escrever. Por falta de tempo ou de vontade.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Faço pesquisa junto a sociedades indígenas e o ritmo de campo é intenso. Sempre escrevo um diário onde registro os eventos que julguei mais significativos. Trabalhar esse material, juntar as peças do quebra-cabeça nem sempre é fácil. Às vezes é necessário voltar à aldeia. Toda pesquisa parte de um problema a ser investigado e para iniciar a escrita desdobro esse problema em vários temas conectados entre si. Fica mais fácil de redigir artigo, ou livro ou relatório científico. O texto fica bem amarrado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Antes de começar a redigir… um fantasma pode nos assombrar. Quando estou segura para dar a partida, “me desce a macaca” e só penso no texto!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso mil vezes! Se não entrego logo o texto, corro o risco de reescrevê-lo! Sempre mostro meus textos para uma grande amiga, que é de fato escritora, para que corrija, risque ou rasgue tudo.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Trabalho no computador. Nos livros ou artigos lidos, geralmente faço anotações a lápis na margem. Tais destaques são questões a serem elaboradas, negadas, confirmadas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Quando tenho de escrever um texto, a melhor coisa que pode me acontecer é ter insônia. Ideias chegam aos montes. Costumo sempre ter lápis e papel na mesa de cabeceira.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Quanto mais se escreve, melhor se escreve. Quanto mais se lê, mais fácil é escrever. Aprendi a escrever, escrevendo. Imagino que melhorei minha escrita no decorrer do tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou praticamente (ou tecnicamente) no fim da minha carreira. Penso que não tenho vontade de começar um projeto novo. Ando meio preguiçosa. Mas nunca se sabe, somos seduzidos quando menos esperamos.