Carlos André é bacharel em Ciências Humanas pela UFVJM (Diamantina) e estuda licenciatura em Letras (português e espanhol).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Desde pequeno, eu sempre tive o costume de dormir tarde. Então, essa ideia de como eu inicio o meu dia e aproveito-o (carpe diem), depende muito do horário que eu durmo.
Alguns literatos, principalmente aqueles que escrevem de madrugada, ou que são influenciados pela beleza literária da madrugada, produzem muito os seus textos nesse período enquanto todos dormem. A madrugada pode se tornar um recreio de repletas criações e idealizações literárias.
Se eu durmo na maioria das vezes 3h da manhã, e acordo lá pras 10h, eu aproveito o restante da manhã com uma boa xícara de café, e feito um bom mineiro, acompanhado sempre com pão de queijo (que é tradição ter na mesa, além de pão francês, broa, bolo de fubá, entre outras delícias na hora do café). Essa é basicamente a minha rotina matinal.
Por mais que eu escrevi dedicado para a Sol (uma amiga com nome poético), o poema “Solares” (a união de Sol + Ares), que está no capítulo “Azul” do meu livro A Trilogia das cores: azul, branco e vermelho (2017) publicado pela Editora Madrepérola, resume muito bem essa minha rotina, o gosto por dormir de madrugada, destacado nesta primeira estrofe:
Às vezes deito
E não durmo.
Levanto, está frio…
Insônia na madrugada
Caminho até a sala, ao telefone.
Penso em alguma coisa
E não faço.
Aperto o botão
Escuto as últimas mensagens
Que chegaram à secretaria telefônica.
Vou até a cozinha, preparo um chá bem quente.
Retorno à sala
Deito no sofá
Penso em você
Em te escrever
Leio o poema e me tranquilizo
Abro o livro da estante e começo a ler.
Por fim, pego no sono.
E volto a dormir!
(Carlos André – A Trilogia das cores: azul, branco e vermelho).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Por mais que eu durmo de madrugada (na maioria das vezes), todos os turnos do dia meu trabalho literário pode render. Óbvio que cada turno a produção literária poderá diferenciar em certos aspectos. Escrever de madrugada é diferente quando você escreve pela manhã, tarde ou pela noite.
Um exemplo disso é que na maioria dos escritos feitos de madrugada, sempre ocorrem temas introspectivos; a descrição da solidão (pois todos dormem enquanto você está acordado), além de temas existenciais. Geralmente quando eu escrevo de madrugada, eu insiro detalhes ocorridos durante a minha madrugada, como vocês puderam perceber em “Solares”.
Algum ritual de preparação? Eu não diria ritual, feito a música de Cazuza, pois a qualquer momento eu posso escrever algo. Tenho hábito em dizer que eu não tenho essa “inspiração”, onde você acorda num dia ruim e não está preparado para escrever, pois nada vem em sua mente.
Comigo acontece ao contrário: qualquer dia é dia para escrever, é dia de carpe diem, ou quem sabe um fugere urbem, tradição dos poetas bucólicos (árcades), bastavocê está disposto.
No poema “Os Maiores Poetas do Século XXI” que também é do meu livro da Trilogia das cores…, na última estrofe eu escrevo assim:
Escrever não é uma dádiva
Escrever é uma intensa arte:
Vivo para escrever
E escrevo para viver, no que acredito
Sobre você, sobre mim…
(Carlos André – A Trilogia das cores: azul, branco e vermelho).
Na maioria das vezes, eu sempre escrevo bebendo uma xícara com café ou chá, e claro, com minha bebida favorita: o VINHO!!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu sou muito metódico. Existe um método pra tudo durante o meu processo de escrita. Eu posso escrever 10 ou 20 poemas num dia, conforme a minha disposição.
Eu separo a vida acadêmica da vida literária. Confesso que eu dediquei e dedico mais a minha vida Literária do que acadêmica, por mais que esta pode ajudar e muito no processo de crescimento, abrir certas portas, o mercado editorial pode tornar mais amplo, pois não estamos mais na época de Machado de Assis, onde um escritor conseguiu revolucionar a Literatura sem ter ao menos um diploma (título) acadêmico, aprendendo tudo na forma autodidata.
Em relação a minha meta de escrita, eu aprendi a organizar meus escritos numa pasta pelo computador. Exemplos: Escritos de Janeiro, Escritos de Fevereiro, e assim, sucessivamente. A qualidade dos escritos é o mais importante, mas eu estabeleci uma meta de ultrapassar os números de escritos de cada mês. O que isso quer dizer? Se no mês de janeiro eu escrevi 53 escritos (sejam poemas, junto com contos, crônicas, monólogos, peças de teatro, entre outros estilos literários), no mês de fevereiro eu quero ultrapassar esse número, pelo menos chegar aos 54 ou ir um pouco mais. Porém, sempre visando uma qualidade dos escritos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para escrita?
Acredita-se que conforme as lendas literárias de Lisboa, Fernando Pessoa escrevia a maioria dos seus textos em pé, ou pelo menos isso era alguma característica de um determinado heterônimo seu.
No meu caso, eu escrevo geralmente sentado de frente para a tela do computador, ou na mesa com um caderno de anotações literárias. Eu sempre insiro fatos sobre minha vida, o que ocorre no meu dia-a-dia em minha escrita, tornando-se muitas vezes autobiográfica. O outro fator são as imagens, que podem influenciar em direcionar o entendimento daquela escrita. Pois a meu ver, numa linguagem digital visionária do século 21, a melhor forma de arquitetar o facebook é através da escrita acompanhada da imagem.
Pode ocorrer que a escrita possa não está sincronizada com o que a imagem representa, fazendo com que o leitor e a leitora traçam outros caminhos para a reflexão daquele poema, do conto. Às vezes eu brinco e não insiro nenhuma imagem e deixo somente a escrita livre do peso da imagem, visto que o meu público está acostumado com os meus escritos junto com as imagens. Chiaro, no meu livro não tem nenhuma interação com a linguagem verbal e não verbal. Por escolha própria, e por permitir que o poema ficasse livre das imagens, eu não quis inseri nenhuma imagem no meu livro.
Sempre começar e recomeçar de novo de um jeito diferente. Em questão das pesquisas para a escrita de uma determinada temática, vou citar o exemplo de quando eu estava trabalhando na concepção da novela O Pianista (2017), que eu não cheguei a publicar pela editora Madrepérola ou outra editora, mas publiquei os 46 capítulos da novela pelo meu perfil do facebook e alguns capítulos eu divulguei em meu blogger. Então, antes de eu iniciar a escrita dessa novela, eu fiz uma pesquisa sobre os emigrantes que chegaram ao Brasil fugindo das atrocidades da Segunda Guerra Mundial (1938-1945), e se estabeleceram no Brasil e construíram uma “família” tradicional, diferente do que muitos por aí pregam.
ResumidamenteO Pianista é uma novela que acontece alguns anos depois da segunda guerra, no contexto histórico do golpe de 1964, ou a dita Ditadura Militar (1964-1985), no qual eu faço uma severa e áspera crítica, onde eu conto a história de uma família de italianos, onde o pai do pianista Alfred era descendente tanto de armênios e italianos, e Leocádia, a mãe do pianista, era descendente somente de italianos.
Mesmo que o contexto histórico é a ditadura militar, a novela não foca somente nisso. A essência dessa novela que escrevi é a música clássica. O motivo maior de retratar sobre a tradição do piano, onde essa tradição se passa de avó para pai, e de pai para filho, era justamente por eu está inserido no contexto, porque eu faço aulas de piano no Conservatório Estadual Lobo de Mesquita em Diamantina (lugar onde eu moro atualmente, embora eu seja de Coronel Murta – MG), e pretendi retratar esta temática pianista.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Geralmente eu não tenho travas na escrita, pois como eu disse na pergunta de número 2, eu posso escrever a qualquer momento conforme a minha disposição naquele instante.
Quando me vem uma ideia e não tem nenhum computador, caderno ou diário pequeno para registrar, eu escrevo em rascunhos do celular para não perder o fio da ideia primordial. Sendo assim, no meu caso não existe a procrastinação. Quanto a essa ansiedade ou o medo de não corresponder às expectativas, eu me mantenho sempre em equilibro. Primeiro eu tenho que gostar do que escrevo, a temática que estou retratando naquele determinado texto. Mas quando eu publico e jogo na rede, do texto pode surgir vários entendimentos, conforme a visão de mundo de quem ler. Claro, tem certos detalhes que são indissociáveis do texto, mas tem outros detalhes onde quem ler pode entender o texto de uma forma diferente daquele que criou.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando eu termino de escrever eu sempre leio, releio, (tresleio), para só assim publicar. Acontece que algumas vezes erros podem passar despercebidos. Acredito que não seja um erro, mas uma mania, pois eu não guardo meus escritos na gaveta, quando estes escritos são para aquele determinado momento. Atualmente quando eu termino de escrever, eu já publico na internet (no facebook). Exceto quando o escrito é para algum concurso literário, ou um evento que será realizado futuramente.
Já se tornou tradição onde todo dia 10 de cada mês, isso desde novembro de 2016, que eu publico mensalmente um texto com marcações no facebook: 94 personas (pessoas), marcadas no facebook, onde 94 são os dois últimos números do ano que eu nasci: 1994. Aliás, no mesmo dia da minha cantora brasileira favorita, Elis Regina, em: 17 de março.
Durante um mês eu preparo o texto, ou às vezes no início do mês, e esses eu não mostro pra ninguém, para manter certo suspense para quando chegar no dia 10 eu publicar. Um exemplo disso é que: no dia 10 de janeiro eu publiquei o conto “ARTEFATOS”, e no dia 10 de fevereiro eu publiquei o conto “O MUNDO DE JUDITH”, e é como os leitores pensassem: “E agora? Qual será o próximo escrito dele para o mês de março de 2019?”. Por isso que aquela expressão que parece um clichê, o “tempo de gaveta”, em determinadas circunstâncias não existe para mim.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Para não perder a prática e arte da caligrafia, eu tento siempre escrever na mão ou pelo menos um rascunho na mão, e digitalizar o restante no computador. Uma curiosidade para essa sétima pergunta é que, antes, quando pequeno, aos nove anos, eu tinha um sonho de ter uma máquina de escrever, e quando chego à fase da puberdade, aos 13, meu pai compra uma máquina de escrever italiana da marca Olivetti. Foi uma aventura e tanto transpor minha imaginação para aquela máquina. Ela ainda existe, mas não funciona mais. Tornou-se relíquia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Como eu já respondi no início da pergunta de número 4, mas irei enfatizar nesta: nas minhas produções literárias eu sempre escrevo fatos do meu cotidiano, do que acontece comigo e do mundo ao meu redor. Eu até diria em determinados textos que é uma escrita autobiográfica.
Em relação aos conjuntos de “hábitos” para se manter criativo, primeiramente, antes de ir direto a questão, percebam que hábitoem latim é habitus, e significa condição, comportamento, VESTIMENTA.
Desde o meu Sarau O Encontro Marcado que fiz aqui em Diamantina no espaço do Sobradinho Artbar, no dia 22 de setembro de 2016, eu estreei a minha BATA LITERÁRIA(que para alguns é somente uma bata indiana). A partir deste momento, eu estabeleci que esta vestimenta dos tempos medievais, onde os poetas bucólicos saíam pelo campo a recitar seus versos líricos e campestres para suas amadas, seria minha segunda pele, minha vestimenta literária, onde em eventos ou momentos literários significativos, a exemplo do meu projeto de entrevistas que são as CONVERSAS LITERÁRIAS, eu a vestiria.
Em relação ao primeiro significado, a condição, o segredo está nas leituras, principalmente nos livros de Literatura, nos filmes, nas peças de teatros, nas óperas, entre outros espetáculos. Uma característica que eu ainda não disse em relação a mim, é que sou muito cinéfilo e gosto muito de óperas, principalmente as óperas de Caruso (interpretadas pelo Pavarotti), Verdi, Mozart, Richard Wagner, Beethoven, entre outros. Retornando aos filmes, eu assisto filmes com fortes temáticas, seja na área psicanalítica, existenciais (filosóficas), românticas, suspenses/terror. Eu adoro assistir filmes biográficos de personalidades ligadas às áreas da arte: pintura, escultura, música, e principalmente LITERATURA. São vários, mas entre os meus diretores favoritos destacarei: Ingmar Bergman, Pasolini, Bertolucci, Almodóvar, e chiaro, o grande cineasta da Itália em minha opinião, Federico Fellini.
Estes são algumas curiosidades para se manter atualizado e “antenado” com o que se passa no mundo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu amadureci muito. O meu público alvo se renovou a cada ano. Antes eu publicava muitos poemas com temáticas eróticas, e o último que escrevi foi no dia 30 de novembro de 2017, justamente antes de lançar o meu livro em minha cidade, Coronel Murta – MG. Eu queria parar, dar um tempo definitivo com a temática erótica. Aliás, o meu livro eu dedico a minha futura filha, Sophie, que é o poema que inicia o livro:
Quando eu tiver uma filha
Darei a ela o nome de Sophie.
Um brinde à sabedoria
A amizade que reina naquele reino
A paz e as nossas alegrias.
(Carlos André – A Trilogia das cores: azul, branco e vermelho)
Eu quis que neste meu primeiro livro, não tivesse nenhum poema erótico. Então eu decidi parar de escrever esta temática, e me dedicar as outras temáticas. Embora eu respeite muito uma boa e ótima poesia erótica escrita, pois Eros simboliza a forma mais genuína do amor. Todavia, muitos dos meus leitores estavam me associando muito a esta temática, como se naquele tempo ou só escrevesse aquela determinada temática. Por isso que foi importante fazer essa mudança de perspectiva, mudar de público, ou melhor, mudar de temática, pois o público que lia os meus antigos poemas eróticos, talvez mudasse de perspectiva e começasse a ler os meus novos escritos.
Eu gosto muito de dizer que meu escritor favorito é Dostoiévski. Admiro muito a sua obra, e sua superação de vida. Não é à toa que meu TCC de Bacharel em Ciências Humanas foi sobre Os Irmãos Karamázov (1880). Também amadureci muito lendo as outras obras de Dostoiévski, além de outros escritores e poetas, como a exemplo de Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Pablo Neruda, Gustave Flaubert, Gabriel García Márquez, entre tantos literatos.
Se eu pudesse retornar na concepção dos meus primeiros textos, penso que mudaria poucos detalhes. Pois eu gosto da forma como eu comecei a escrever. Talvez eu dedicasse desde o início, ao estudo linguístico, pois linguísticas e literatos muitas vezes não dão tanto certo, não falam a mesma “linguagem”, mas ambas se ajudam e muito ao criar uma ponte certa para que a comunicação se estabeleça em paz, mesmo ocorrendo discordâncias.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Se Camões escreveu Os Lusíadas (1572)e Fernando Pessoa escreveu Mensagem (1934)que iria se chamar Portugal, eu tenho esse desejo literário que muitos críticos poderão julgar de ambição, em escrever uma densa obra que resumisse a história do Brasil em diferentes épocas dos seus 519 anos, conforme a cronologia dos desbravadores portugueses, pois esta terra existia muito antes da vinda dos portugueses.
Esta última pergunta é bem futurista, e, consequentemente, visionária. Eu gostaria de ler um livro que falasse sobre um futuro sem ter presente ou passado, onde personagens do livro sentiriam falta do presente, e alguns do passado, e ambas as partes travariam uma corrida contra o tempo em busca de respostas para suas respectivas áreas de interesse.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Na maioria das vezes eu planejo antes, pois como eu sou perfeccionista, a metodologia a ser seguida é extremamente valiosa durante a escrita. Acredito que em certos poemas, têm até um pouco de fluidez, não que escrever poema seja mais fácil do que escrever conto, romance ou peça de teatro… longe disso, pois todos os estilos literários requerem um devido empenho. Sobre o ato de escrever a primeira ou a última frase, penso que ambas terão seus respectivos desafios. Para mim o mais difícil não é escrever a primeira ou a última frase, e sim manter o objetivo proposto desde o início, quando no meio da narrativa, há possibilidades dos personagens traçarem outro rumo “inesperado”. Aqui poderia entrar uma segunda metodologia a ser seguida: o que chamo de acasos na escrita criativa.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Gosto de escrever todo dia, ou pelo menos cinco ou seis dias da semana. Tomara que isso não pareça um “clichê” barato, porquanto mesmo prezando a qualidade ao invés da quantidade, passado um ano e dois meses adotando a metodologia de escrever meus escritos (sejam poemas; contos; minicontos/microcontos; crônicas, monólgos ou peças de teatro) superando o número de escritos de cada mês, esse tal método vem me agradando muito, porque me incentiva a evoluir na escrita, nas temáticas, e na evolução de estilo literário.
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
Parecerá uma ironia, ou crítica perspicaz, mas viver num país onde fazer Literatura é muito difícil, me motiva ainda mais escrever. Ainda mais nesse governo com resquícios fascistas de extrema direita de Bolsonaro, que não preza a Cultura, e consequentemente, muito menos a LITERATURA. Desde os meus seis anos, a arte de imaginar um mundo literário sempre me encantou. O mundo literário não é só feito de ficção e fantasia, mas sim de REALIDADES nuas e cruas, como ir até a padaria e comprar pão, e ficar esperando na fila, e a partir dali ter a ideia de escrever o ato filosófico enquanto esperamos na fila do pão, pacientes esperam meses e meses na fila de transplante.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do outros?
Mesmo hoje eu tendo firmado um estilo próprio, ainda busco moldar outro e possível estilo de escrita. Quando eu digo que quero sempre continuar evoluindo, isso quer dizer que a literatura por si só já é imensamente dinâmica, quando o escritor não se deixa limitar num só estilo. Devemos respeitar os cânones literários, mas não viver sempre nas “sombras” dos cânones que a Literatura Brasileira foi criando ao longo do tempo. Ainda há muito a ser escrito, de uma forma diferente, descobrindo o seu estilo próprio. O que pensar da Literatura do século 22? Ainda temos 80 (oitenta) primaveras pela frente.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Acredito que eu tenha dito na entrevista anterior, que o meu escritor favorito é o Fiódor Dostoiévski. Então, o primeiro livro que indico é dele: “Os Irmãos Karamázov”, que inclusive foi temática do meu TCC de Bacharel em Humanidades. Neste livro, está toda a essência e complexidade da família russa da metade do século XIX. O outro livro é “O Castelo” de Franz Kafka. Escritor este que possui certas semelhanças na escrita com Dostoiévski, quando tangemos no assunto da forte descrição psicológica dos personagens. Neste romance inacabado no estilo marcante kafkiano, iremos decifrar as camadas sociais burocráticas e como todas elas se interligam feito uma teia. E, por último, indico o livro “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway. Nesta curta história, levaremos certas lições para casa, e uma delas é como a natureza se impõe ao homem, e como o homem se impõe a sua natureza existencial. Carpe diem!