Camilla Feltrin é jornalista e escritora. Cuida do Granada, um plataforma que reúne histórias feitas por mulheres.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal é bem simples: acordo atrasada, me arrumo, atravesso a cidade e trabalho. Quase nunca escrevo pela manhã, a não ser quando é algum compromisso profissional.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Me sinto mais concentrada de tarde e de noite. Gosto de escrever aos fins de semana e feriados, que é quando geralmente posso ficar quieta em casa. Meu único ritual de escrita é organizar a minha mesa para ter uma mínima sensação de conforto e estar sob efeito de café.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Para o trabalho, escrevo todos os dias. Para os meus projetos, só às vezes. Vivo em fases. Agora, especificamente, estou no modo leitura (leio muitas coisas compulsivamente), que pode ser substituído em breve pelo modo modo tristeza (choro na cama), modo balada (muitas aventuras irresponsáveis contínuas), modo avião (viagens, módicas ou não {quase sempre módicas}) ou modo escrita (escrevo). Consigo tempo para editar algumas coisas já feitas durante o modo leitura, mas dificilmente crio algo novo.
Me sinto sufocada só de pensar em “metas para escrita”, sou contra.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quase todos meus textos, sejam os mais curtinhos ou os mais longos, passam um bom tempo na minha cabeça antes de serem, de fato, escritos. Então, o trabalho acaba sendo mais de passar a ideia para o papel e editá-la. A pesquisa depende muito do tema em que estou focada, não há regra.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando tem algum trecho que acho que pode ser melhorado, volto nele algumas vezes ou espero o tempo que for necessário e/ ou possível para achar a melhor resolução. Gosto de deixar o subconsciente trabalhando em uma ideia. Para mim funciona. O lance das expectativas quase me mata diariamente, prefiro não pensar muito a respeito.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tem coisas que leio milhões de vezes, e outras que nem tanto. Não sei estimar ao certo. Mostro para alguns amigos próximos antes de publicar, sim. Eles são complacentes na maioria das vezes, mas fico feliz em receber alguma ponderação. Sempre é construtivo.
Como é a sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Todos os textos começam no computador e minha relação com a tecnologia é boa, nada de excepcional. Tenho um arquivo com trechos curtos de ideias que não desenvolvi, mas considero boas o suficiente para anotar e usar em algum momento oportuno. Vez ou outra gosto de tentar desenhar e fazer lista de palavras que quero usar em caderninhos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sou inspirada pelo mundo em que vivo, pelas minhas experiências pessoais, alucinações, histórias que me contam e coisas que me despertam curiosidade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que fui ficando mais crítica, meus textos mais enxutos e condensados — o que as vezes me é um problema. Para a Camilla mais jovem, diria para ela nunca julgar a Clarice Lispector pelas frases e montagens toscas do Orkut.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de fazer algo relacionada aos alienígenas, preferencialmente um livro-reportagem.