CA Ribeiro Neto é escritor e produtor editorial da e-feito coliteral.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Bem, o meu dia começa com a conferência da agenda, a escolha da ordem das tarefas. Logo em seguida, realizo uma leitura de algum texto literário recebido via newsletter. Depois disso, a rotina segue conforme o dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto de trabalhar sob demanda, o meu processo criativo atual está vinculado à revista literária que produzo, a e-feito coliteral, portanto, como nela o tema é dado por algum convidado, eu produzo a partir do que for proposto, procurando continuar as duas linhas que abordo nas edições da revista: microcrônicas e contos de malassombro. Prefiro escrever de manhã ou de tarde, não produzo tanto à noite.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu procuro ler todos os dias, acho isso essencial. Escrevo pontualmente, apesar de não estar satisfeito com isso. Pretendo mesmo dedicar mais dias do mês à escrita. Como atualmente estou cursando um mestrado, agora fica mais difícil, mas estabelecer essa maior frequência será um objetivo para 2022.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita é bem fluido. Para as microcrônicas, preciso de um momento de silêncio para buscar o que me indaga em relação ao tema escolhido. Depois de encontrar o mote, vem o processo de escrever bastante e depois ir cortando, aglutinando, compactando, até que fique o mais curto possível sem perder o poder da mensagem. Para os contos de malassombro, há uma proposta específica. Há a necessidade de usar o Ceará como cenário, especificamente o interior litorâneo do estado, porque percebi que as literaturas cearenses canônicas, quando usam o Ceará como cenário, ou utilizam a capital ou o sertão. Portanto, utilizo até o Google Maps para encontrar nomes de lugarejos realmente existentes e desconhecidos, próximo ao mar. Procuro utilizar também, nos contos de malassombro, elementos culturais, da fauna e da flora da região. E também o uso do terror e do mistério para a narração da história tenta aproximar-se da força dos causos, tão importante para a cultura oral de contação de história no estado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como uma pessoa metódica, o único problema com essas travas de escrita que me incomoda é a falta de regularidade na escrita. Eu sou aquele tipo de pessoa que não sabe entrar num projeto mais ou menos, quando decide entrar é em imersão. Escolhi começar a e-feito coliteral agora, durante o mestrado, justamente por saber que iria poder trabalhar minha literatura sem tomar muito do tempo para o mestrado. Se eu estivesse escrevendo um romance, certamente estaria insatisfeito por não poder doar tanto do meu tempo mensal para escrevê-lo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como eu também trabalho com revisão, esse é um ponto importante para mim. Então, antes de publicar cada edição, tanto eu quanto minha esposa, que também é escritora e revisora, revisamos juntos. De vez em quando, mostro o texto antes da publicação para alguns amigos, ex-integrantes de um grupo literário que já formamos antes, o Grupo Eufonia de Literatura.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sou um ferrenho defensor do uso de novas tecnologias. Tanto para a escrita quanto para a leitura. Não uso mais caneta e papel para escrever literatura, já é direto no computador e estou sempre à procura da melhor forma de realizar o processo criativo. As formas de leitura também são interessantes, tanto em aplicativos de leitura, quanto o auxílio das redes sociais. Há uma infinidade de páginas de incentivo e fortalecimento da leitura no Instagram, por exemplo, ou contas no Twitter, etc.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Como eu disse, no momento, com a e-feito coliteral, gosto do desafio de escrever a partir de um tema que não escolhi. Mas trago o tema para os estilos que quero desenvolver no momento. Porém, antes da revista literária, era conhecido por meus leitores mais como cronista. A crônica já conquistou a liberdade de falar sobre qualquer coisa, até no campo místico, mas tem que ter algum pé na realidade. Estar atento e sensível a essa realidade, mesmo que para confrontá-la, é o que faz a crônica tomar forma e força.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Quando comecei a escrever, há 15 anos atrás, eu escrevia muito mais do que lia. Isso foi um erro de principiante. Nossa escrita melhora a cada livro que devoramos. Todo escritor deve ser muito mais consumidor do que produtor. Outra coisa que mudou bastante é que havia muita criatividade e pouca efetividade. Já perdi boas ideias por não anotá-las. Outras ideias não foram esquecidas, mas se tornaram defasadas. Mas o que aquele jovem escritor de 15 anos atrás fazia melhor que eu era agregar leitores. Ele lotava um auditório para o lançamento de um livro, o eu de agora certamente não.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Espero realizar a escrita e publicação de um romance. Já tenho um esboço, mas começarei a escrevê-lo somente quando concluir o mestrado. Há tantos livros interessantíssimos que já existem, que eu prefiro focar neles do que num que ainda não existe. Minha base cronista prefere ir pela realidade do que pela possibilidade. E se ninguém escrevê-lo? Quando este que ainda não existe for escrito, entra na fila das leituras.