Bruno Gaudêncio é escritor, historiador e professor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Minha mesa e agenda são meus guias. Toda semana organizo e listo as atividades que devo realizar. Um roteiro: fichamentos, leituras, pesquisas, contatos, etc. Sobre a questão de vários projetos acontecendo ao mesmo tempo, prefiro assim, no mínimo duas coisas acontecendo. Canso muito fazendo uma coisa só. Prefiro me dedicar prioritariamente em um momento a um projeto, mas fazendo outros paralelamente. Assim como leio uma média de cinco livros ao mesmo tempo, quero me dedicar a cinco ou seus projetos de uma vez.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Tudo que faço é através de pesquisa. Mesmo os livros de poemas, a ficção, as ideias de biografias, artigos, entrevistas, etc. Gosto de planejar, anotar uma ideia. Às vezes passo dias maturando, planejando planejar. Até que a coisa anda realmente… Às vezes um edital é o estímulo, outro livro, uma palestra, uma conversa com minha esposa. Sore a segunda pergunta: sempre acho a primeira frase mais fácil. O concluir vai depender do projeto. Canso rápido.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
É difícil ser um pai de uma criança de cinco anos e exigir silêncio (risos), um professor que trabalha o dia todo preparando aulas. O ideal realmente é o silêncio, um ambiente adequado, limpo, organizado. Procuro fazer isso. Até tenho um escritório organizado e tranquilo, com espaço para meus livros, uma mesa ampla, com papéis e canetas ao lado, sempre a mão. O problema mesmo é tempo. Para todas as esferas temos o problema do tempo. Como organiza-lo?
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Vencer a procrastinação é uma luta constante. As pessoas que me conhecem sabem que vivo de prazos. Prefiro assim. Agenda, roteiro, termos. Funciono melhor e acabo vencendo os atrasos. Muitas vezes não saio do lugar, ficou travado, olhando para as estantes. Pra vencer esse problema procuro ler outras coisas, brincar com minha filha, escutar um disco. Preparar uma aula criativa e diferente. Depois volto a tentar. Ás vezes não sai nada, mas vou tentando até conseguir.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Neste momento vem sendo a minha tese de doutorado. Acredito que a pandemia não vez bem a ninguém. Fiquei preso com minha esposa e minha filha pequena em um apartamento. Com medo, angustiado, ansioso, tirando força de onde não tinha para cumprir os meus prazos para conclusão de minha pesquisa de doutorado. Até hoje foi o mais difícil texto escrito. O que mais tenho orgulho até hoje foram dois livros que escrevi. A primeira foi minha dissertação de mestrado, uma pesquisa sobre sociabilidades intelectuais em minha cidade, com documentos muitos deles inéditos, publicada em livro em 2019 com o título de Da Academia ao Bar; e um roteiro em quadrinhos, o Ariano Suassuna em Quadrinhos, um livro que teve boa repercussão, lançado em 2015.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Envolveu memória, esquecimento, vida literária, trajetória de vida, abandono, arquivo, me interessa. Tudo que esteja relacionado a isso me faz pensar em algo, um poema, um artigo, um ensaio, uma biografia… Tudo que leio se encontra nesta atmosfera, sejam os romances, os livros de historiografia, etc. Sobre o leitor ideal, não me considero, nem busco ser um deles. Vou lendo de acordo com o meu tempo e o meu interesse circunstancial.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Tenho um sério problema em relação a isso. Não gosto de encaminhar rascunho. Se eu mandar o livro ele deve tá pronto ou quase pronto. Também não tenho primeiros leitores. Não tenho paciência pra isso. Prefiro encaminhar para um preparador, um revisor, um editor.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Quando eu descobri bibliotecas públicas em projetei em mim que seria um escritor, que eu teria um livro meu nas prateleiras das bibliotecas das pessoas, das instituições culturais. Quando comecei a publicar foi tudo na intuição e no olhar sobre outros livros, autores e editoras. Acho que eu já tinha certa consciência de todas as complicações ligada ao mundo literário. Concentração no mercado editorial, os poucos leitores e livrarias, preços de direito autoral, os custos… Mesmo assim persisto.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Não sei se tenho estilo próprio. Cada livro é um projeto diferente. Sobre os autores que me influenciaram, acho que todos que leio e gosto vão me dando lições ao longo do tempo. É um aprendizado a cada momento. Conheci alguns pessoalmente que foram dando dicas, seja pela amizade, por cursos que fiz. Acho que os próprios livros foram sendo meus melhores influenciadores.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Neste momento, são os romances do Domenico Starnone, escritor italiano. Mas isso muda. Ano retrasado era Alberto da Cunha Melo, poeta pernambucano. Tudo muda.