Bruno Galan é autor de “o meme é a mensagem” e CEO da Memeria Gourmet.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
começo meu dia fazendo café para a cecilia e para a helena, que acordam cedo para atravessar a cidade. a teresa não transa café. são 2 filhas e uma esposa que atravessam a cidade com a ponte quebrada, por vezes cantando, outras chorando. mas vamos voltar pra mim. sempre fiz café e gosto de lavar louça no calor. então faço o café, as 3 saem esbaforidas e eu sento no meu computador, sentava, pq ele pifou, mas meu irmão vai me pagar o conserto, graças. mas é basicamente um café, torradas, uma louça e sento para escrever, sentava, mas logo sentarei novamente. oxalá. os textos bons saem sempre de manhã, após uma louça simples, 2 torradas uma garrafa de café ou uma coca cola com neosa, se o caso for de ressaca, e tem uns 3 anos ou mais que é assim. só o primeiro livro DA RISE AND FALL OF DA TOWER que não foi assim. eu estava na bahia, uma casa em boipeba que aluguei com a fabi. estava limpinho de álcool, lembrando da esbórnia da finada TORRE DO DR. ZERO, ou só torre, ou da tower. sentei e escrevi sem parar por 3 dias e 5 anos depois a ana pands me ofereceu publicar. ela tinha sociedade com o gui coube na touro bengala, que editou meus 3 livros. mas texto bom é de manhã, já vem com lascas do sonho, trocadilhos que faço dormindo, estranhas paródias que aparecem na moringa ao acordar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
estou há 4 meses sem um computador, a internet parou de funcionar, vem tudo de uma vez. mas escrevo todo dia coisas bem curtas no face truque. são tuitadas de face, eu q inventei, aloka. como estou só com o telefone espertão, tenho escrito mais assim. mas gosto de escrever toda manhã, quando possível. geralmente pode chegar até 13h, 14h, essa escrita, com pausas para o cigarro, beck, café e um vinho q sobrou de ontem, mas todo dia de manhã eu escrevo, variando a quantidade. com o computador funcionando eu escrevo pelo menos uma hora e meia, duas de manhã.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
meu processo tem muito da minha rotina, os temas também são sobre coisas da vida, escrevo sempre muito solto. mas o que ajuda e atrapalha é rede social. ajuda pois dá pra compilar dali as ideias e como escrevo frases curtas numa prosa meio poética, meio repente, meio ritmado; a rede ajuda a recolher depois, muitas vezes melhorar aquilo, agregar em uma ideia maior, ou aquilo tudo que escrevi no facezuck pode me dar uma ideia de que tipo de coisa eu quero dizer, estou dizendo e edito, acrescento, corto. a pesquisa e escrita são meio emboladas, e como é sobre mim, mas querendo falar por e com mais gente, já vai tudo junto. não acho difícil começar não, mas estive uns 6 meses numa depre ae, talkei.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
hahaha, as travas da escrita eu já vi uma travesti lynda, aloka. mas então, eu to super travado. não to sabendo lidar muito não. mas parece que agora que se consolidou o que a gente não queria, esse mito aí, talkei. eu senti até um alívio, já sofri e agora vou sarrar. ainda que na idade média, seguirei sarrando. tô mais soltinho, e tá vindo coisa nova, fresquinha, mesmo com esse calor. já comecei a pesquisa para o próximo livro, SARRADA NOIR. esse lance de não corresponder a expectativa eu não ligo, não. e projeto longo nunca me chamaram. aliás, chama nóis ae leitor empreendedor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
essa parte da revisão eu sou bem tosco, reviso milhares de vezes e deixo escapar um milhão de erros. escrevo rápido, reviso rápido, refaço mil vezes. nos livro que eu publiquei o guilherme, editor da touro bengala que revisou. todos tem uns errinhos, mas blz, acho que faz parte uns errinhos. eu sempre mostro o trampo pra amigos e amigas qdo ja ta quase pronto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
eu adorava escreve a mão, o primeiro livro escrevi a mão num caderno, com caneta bic preta, num caderno espiral. os outros eu já escrevi em computador mesmo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
as ideias vem da vida, da política, do amor, de observar as pessoas. esse lance de se manter criativo, pode parecer meio uuui, noufa o q vou falar, mas é mta coisa q passa pela cabeça, queria aé desligar um pouco, vem mto material, mta coisa se perde, tenho dó das coisas q já pensei e não escrevi, eu queria mais era um método melhor pra conseguir escrever mais, mas não ser criativo não é um problema q me aflige, gente rouba minhas piada eu falo, pegae féra, tem mais da onde veio isso. ah e conseguir ganhar dinheiro com minha escrita, isso sim é uma preocupação.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
mudou um pouco a maturidade, eu tinha uma escrita mais psicodélica, mas muitas vezes ninguém conseguia entrar naquilo, então era muito umbigo. agora eu tenho ferramentas pra me fazer entender melhor, mas sem precisar encaretear tanto o texto. pode ser louco e inteligível, senão é pra ser entendido, pra que escrever, ne.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
SARRADA NOIR: em breve por alguma editora que se interessar.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
deixo decantar bastante o que quero escrever, vou filtrando dentro de mim e quando escrevo é bem rápido. antes é como uma massa de que precisa crescer. ou pré-aquecer o forno antes de colocar a assadeira com as ideias. é um processo arriscado, pois eu não tomo nota e sou rasta, não sou nenhum millenial e minhas células cerebrais já não são as mesmas. no primeiro livro da série, dessa trilogia que vai terminar com o livro que estou escrevendo, sarrada noir, o taco da lôca foi assim, decantado, pré-aquecido. os 3 (taco da loca, o meme é a mensagem e o sarrada noir (em processo)) tem muito da realidade política/social e o impacto no personagem. alguns fatos do país eu espero acontecer. um golpe de estado, uma prisão arbitrária, um supremo acovardado, novos personagens surgem, globais, um congressista, um ator pornô, uma grande manchete do jornalismo, um meme, um lacre. mas se esperar tudo acontecer, não escrevo nunca, então coloquei pra mim que escrever é entre o dia 02 de janeiro até um pouco depois do carnaval, entendendo o que foi o ano passado e o que aponta o ano vindouro. a última frase pra mim é barbada, a parada é começar. e essa entrevista me ajuda nesse exato momento a entender meu processo. obrigado, inclusive.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
minha semana de trabalho não tem muita relação direta com a literatura. quero dizer, escrever não é meu ganha-pão. o ônibus, o repentista pernambucano que recebeu o teto de minha contribuição (2 talkeis), a rua, o trampo, o cobrador, o bilhete único, as chamadas, a renata vasconcellos e seus cabelos cheios de seda nos dizendo mentiras, o absurdo contemporâneo de cada dia. mas junto tudo pra janeiro. vou salvando como posso o sentimento do ano todo e vomito de janeiro a fevereiro. eu gosto de ter projetos ao mesmo tempo. leitor que precisa de um editor de chamadas, chama nóis inbox.
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
o que me motiva é explicar/entender com minhas palavras. equanto escrevo eu descubro o que até então não sabia, o que eu não tinha organizado em palavras nem dentro da cabeça. escrever me ajuda a entender. ainda que essa organização seja caótica e peculiar
comecei a escrever moleque na escaldante bauru dos anos oitenta. escrevia poemas com palavras rebuscadas do dicionário, nem sempre sabia o que significava, eu ia guiado pelo som. tem alguma coisa de musical na minha escrita, embora eu não consiga fazer letra de música, acho muito difícil. eu me dedico médio, é mais uma necessidade, um escape, construir um mundo, acho que é disso que a arte é feita. se existe um livro, é realidade, existe. um pensamento, uma imagem, um conceito. é mais palpável que a realidade. ou mais palatável. no mínimo mais agradável. é uma nova realidade, e isso me move.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
estilo próprio me contaram que eu tinha, eu não sabia muito. não fui buscar a minha escrita, o meu movimento é mais contrário: transformar o tsunami interno, organizar minimamente pra ser inteligível, sair duma bolha onde eu escrevo pra mim mesmo apenas. (sempre vai ser pra mim, mas o leitor e a leitora devem adentrar na minha viagem, e pra isso tento melhorar minha prosa. o fato é que eu sou mais poeta, mas não gosto de poesia. vivo nadando contra e dando esse murro em ponta de faca que é tentar escrever prosa de maneira poética. mas antes eu escrevia e nem eu entendia. estilo tinha desde moleque, aloka. mas vejo aqueles textos herméticos e me vejo mais abrangente hoje. eu lia gibran, bertand russel e cortázar quando era adolescente. uns niti, claro. mas muita coisa vem da música, do pixies, do david bowie. do alceu, chico, gil, jackson e uma pitadinha de carimbó.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
3 livros
Os Dias Antes de Nenhum
Ricardo Terto
mais bacurau que bacurau
Os Prêmios
Julio Cortázar
e a nave vai
O Meme é a Mensagem
Bruno Galan
eu avisei