Bruno Brum é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Atualmente tenho um emprego fixo, então meu dia começa da forma mais prosaica possível: acordo, tomo banho, tomo café e vou para o trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor no período da manhã. Estou disposto, as ideias fluem com mais facilidade, o clima costuma ser mais ameno, há uma leveza no ar. Não tenho um ritual de preparação. Costumo escrever ouvindo música.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A escrita é um trabalho constante. Não se resume ao momento em que estou sentado ao computador, digitando. É um estado de alerta para o mundo e para a linguagem. Estou o tempo todo fazendo anotações, registrando ideias, frases, palavras soltas. Quanto aos poemas propriamente ditos, tendo a escrever em períodos concentrados. Escrevo diariamente por algumas semanas, depois passo um período, que pode variar de semanas a meses, apenas fazendo anotações.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar?
Como disse na resposta anterior, intercalo períodos de escrita intensa e direcionada, quando estou finalizando um livro ou trabalhando em um poema ou conjunto de poemas específico, com períodos de escrita esparsa e casual. Também desenvolvi o hábito de passar bastante tempo pensando no poema antes de fazer qualquer anotação. “Convive com teus poemas antes de escrevê-los”, disse Drummond. Ao menos para mim, tem sido uma prática bastante proveitosa.
Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tudo acontece simultaneamente. Cada poema é uma obra independente, que se desenvolve em um tempo próprio. Para mim, essa divisão entre pesquisa, esboço e escrita não é nítida. A pesquisa é parte inseparável da escrita, é difícil definir onde termina uma e começa a outra. Também acho importante dizer que os processos de escrita do livro e dos poemas, apesar de complementares, são diferentes. Cada poema é uma obra independente, e o conjunto dos poemas, o livro, a obra final, é mais que a soma de suas partes. É preciso toda uma orquestração, uma noção de ritmos e intensidades, uma consciência estrutural. Organizo meus livros usando pastas catálogo, com as quais consigo incluir, retirar e mudar a sequência de poemas com facilidade, tendo uma noção muito próxima de como vai ficar o livro depois de editado. Funciona como um protótipo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho maiores problemas com essas questões. Já passei dois anos sem escrever um único poema. Não tinha muito o que dizer, mas estava lendo, trabalhando, viajando, conhecendo pessoas, enfim, vivendo. Quanto ao medo de não corresponder às expectativas, estaria mentindo se dissesse que não tenho, mas não é algo que me paralise. É impossível prever ou ter controle sobre a recepção da sua obra. Isso dá um frio na barriga, mas também liberta. Por fim, não tenho ansiedade para trabalhar nos meus livros, apesar de ser ansioso com todo o resto. Levo o tempo que for preciso para concluir a escrita e fazer todos os ajustes que considero necessários.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Inúmeras. Reviso compulsivamente meus poemas antes de publicá-los. Alguns levam anos sendo escritos e reescritos, acumulando dezenas de versões. Acho que, ao menos nos meus livros mais recentes, nenhum poema foi escrito de primeira. Todos, até os mais curtos, passaram por um longo processo de composição. Respondendo à segunda pergunta, costumo mostrar meus poemas para um grupo reduzido de amigos e pessoas próximas. É uma prática muito saudável, para mim, expor os poemas a visões e repertórios diversos. Não acato todas as sugestões, claro, mas também não sou excessivamente orgulhoso e procuro tirar o máximo proveito dessas respostas, sobretudo as negativas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Me dou bem com a tecnologia. No início, só escrevia à mão, mas hoje escrevo direto no computador. Também costumava andar com bloquinhos e caneta na mochila, para fazer anotações quando não estou em casa. Hoje, depois de ter descoberto um aplicativo chamado Google Keep, faço essas anotações direto no celular e depois tenho acesso a todos esses esboços e ideias de qualquer computador em que esteja logado com minha conta do Google. Fica tudo reunido num só lugar, é bem prático.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias podem vir de qualquer lugar. De uma conversa, de uma frase ouvida no metrô, de um filme, um livro. Além de ler, estudar, assistir filmes, ver exposições, peças, espetáculos e esse tipo de coisa, procuro manter a escuta atenta.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita dos seus primeiros textos?
Não mudou muita coisa no processo. Escrevo e organizo meus livros basicamente do mesmo jeito desde que comecei. Acho que hoje eu pesquiso um pouco mais, consulto dicionários (de rimas, de ideias afins, de sinônimos etc) e desenvolvi esse hábito de manter os poemas na cabeça por bastante tempo antes de escrevê-los. No início, se eu não escrevesse assim que a ideia surgia, normalmente não conseguia escrever depois. Tinha que ser na hora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho vontade de desenvolver um projeto de poesia pensada para o ambiente digital. Não de reproduzir poemas na internet, no computador, no celular, mas criar poemas especificamente para esse meio. É algo que pretendo fazer em breve.