Bruna Mitrano é escritora, desenhista e articuladora cultural.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou insone e nunca sei quando vou dormir, então não posso criar uma rotina. Quando acordo, entro no Messenger, e-mail, WhatsApp, essas coisas. É terrível, eu sei, eu devia fazer algo melhor.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sobre rituais, eu não consigo produzir sem ler, ler num sentido amplo: assistir a um filme, sair de casa sem estar avoada demais para não enxergar o imenso tudo, ler fotografias ou um texto escrito. A noite é um bom momento para absorver, mas não para produzir. Gosto de andar sozinha à noite. Aliás, eu faço as coisas sempre sozinha, vivo sozinha e me acostumei. Gente demais me dá uma sensação estranha de alegria, porque gosto de pessoas, e decadência, sei lá.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A minha Obra Completa (risos nervosos) não chega a 40 poemas e isso porque escrevo há dez anos. Se eu tivesse uma meta, não a teria alcançado. (risos)
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É difícil saber por onde começar. Não tenho um processo. Talvez tenha vários. Mas não sei reconhecer.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Olha, eu tenho dificuldade de começar e principalmente de terminar as coisas. Há anos comecei a pintar uma tela, é um cavalo, e estava ficando boa, até eu parar na orelha, nunca consegui terminar a orelha. Isso acontece com minha escrita e meus projetos em geral. No meu laudo psiquiátrico, está escrito hipopragmatismo. Eu considero um elogio. (risos) Respondendo a cada item: estou sempre travada, inclusive meu corpo; procrastinação é a minha atividade principal na vida; resolvi abraçar esse medo e, não, não posso ter projetos longos, pelo menos não por ora.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não consigo revisar meu próprio texto. Às vezes peço a opinião de amigos. Tento não abusar porque acho injusto pedir algo que é o trabalho (remunerado) deles, é o meu também. Gosto muito quando alguém critica e sugere mudanças. Eu adoraria ter alguém para dar opinião sincera, cruel, em todos os meus poemas, antes de eu publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Essa pergunta é muito interessante. Eu já escrevo na caixinha do Facebook. E publico sem terminar. Ali mesmo vou mudando. A reação das pessoas é a análise crítica. E é uma análise valiosa, múltipla.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Os meus hábitos são prejudiciais à mente e à criatividade. Por exemplo, eu tomo muitos remédios para epilepsia, esses remédios fritam meu cérebro, mas é isso ou perder totalmente o controle, she’s lost control again.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Se eu pudesse voltar, teria esperado um pouco para publicar meu primeiro livro. Por outro lado, se eu esperasse, talvez nunca tivesse publicado, por causa da minha mania de desistir. Foi um ato corajoso, mas inocente. Não acho que seja um livro ruim, mas mudaria todos os poemas. Não jogaria fora, mudaria alguns versos de cada poema. Okay, metade eu jogaria fora e outra metade eu mudaria. (risos) Não sei de processos, acho que continuo impetuosa. Mudei a forma de dizer as coisas. Antes, eu escrevia de forma violenta para mostrar a violência. Hoje, escrevo da forma mais natural possível e a violência aparece, porque ela está em mim.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Contar a história da minha avó. É clichê, eu sei. Sou clichê e assumo. (risos) Eu gostaria de ver uma pesquisa, uma publicação, que contasse as histórias dos invisibilizados. Que deixasse a poesia deles aparecer. Sem intervenção acadêmica. Talvez eu mesma faça isso, não sou de esperar pelo que eu quero. (risos)