Bianca Chioma é escritora, projeto de cientista social, educadora e faladeira.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Os meus dias nem sempre começam agitados, geralmente eu faço tudo correndo e com humor nada bonito. Divido o tempo entre tomar banho, escolher uma roupa e tomar café [o que nem sempre é prioridade]. O sono embassa a retina e o olho demora -muito- para se abrir para o que é bonito.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu escrevo muito entre os espaços que a rotina -corrida- me dá. Nem sempre dá pra sentar e de fato escrever. Talvez a minha escrivaninha seja o apoio de mão do trem/metrô e vários poemas saíram dali. Para além da correria, acho que eu sou um pouco noturna -mas nem tanto-. Antes de dormir bato o olho nas notas escritas entre as lacunas da rotina. Leio tudo, reestruturo, mexo de lá ou de cá e pá! Talvez fique pronto -ou não-.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Infelizmente não escrevo todos os dias, mesmo cultivando uma meta de criar um novo poema/prosa/conto/diálogo por dia. Quase nunca atinjo tal meta -risos-. Porém, estamos trabalhando para isso. Fico me impondo metas e depois me questiono, com medo de ficar controlando a minha escrita que nem marionete. Reconhece que a prática ajuda muito, mas talvez a frequência não seja tudo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu costumo tentar segurar todas as ideias. Anoto ou gravo em voz exatamente tudo que me vem pela cabeça. Pode ser sem ordem ou mode, recebo tudo que vem. Depois de zerar completamente a minha cabeça em ideias soltas, começo a moldar o que quero. Algumas vezes consigo findar a escrita da vez na hora, outras vezes demoro tempos para conseguir construi-la. Em todas as ocasiões tento me agarrar o máximo possível com as ideias.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando a trava bate, fico relendo coisas que eu gosto muito. Eu piro na Conceição Evaristo e o seu jeito poético de escrever o que às vezes nem é poema. Não sei quantas vezes reli olhos d’água e becos da memória. Como toda leitura é nova, sempre me salta os olhos alguma linha que me inspira a escrever outras linhas que podem virar outras linhas. Ouvir música também me ajuda e tenho alguns amores musicais, já escrevi muito ao som de Djavan e alguns pérolas do RAP como Black Alien, Sabota, Racionais e RZO. Me forço muito -rainha da procrastinação que sou-. Sempre tem uma ideia ali pedindo por palavras. A ansiedade me atropela -de fato- e já.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu não sou muito das revisões não. Geralmente revisar muitas me irrita ou faz com que eu descarte aquilo que tem um potencial muito bom. Só fico de olho na grámatica e solto pro mundo, sem pensar muito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
O celular geralmente é a primeira vítima. Como sempre na mão e é mais fácil pega-lo entre os transportes da vida e de lá, já vai pras redes. Quando o escrito é muito grande, procuro passar pro papel como se fosse um ritual de me reler enquanto reescrevo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Tem coisas que brotam da minha memória mesmo. Eu lembro muito de pessoas que passaram pela minha vida e dou cara pra elas. Assim tem acontecido com a Dita que de fato foi uma mulher que eu ouvi falar sobre a infância e várias lendas rondavam toda a vila com o nome dela. Hoje a Dita ainda vive nos meus poemas. Outro personagem é o Pindoba, uma figura mais conhecida do que a noite de Paris na Vila Zatt e região. Outras ideias nascem da percepção do outro. É bom ficar bem atenta, talvez aquela pessoa que passou por você vire escrito. Outras nascem de uma indigestão social que todo esse maquinário racista, capitalista, sexista e LGBTQI+fóbico causou.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu escrevo desde os 8, mas pouco me li. Pouco analisei a maturação da escrita mesmo quando ela estava bem em frente dos meus olhos. Não faz muito tempo que parei para reparar nisso. A minha escrita passou para um campo mais afetivo e descritivo. Ainda quero transformá-la em muitas coisas, mas é inegável a melhora que existe nela. Sou muito feliz por isso.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São vários projetos que eu tenho com a escrita. Antes de mais nada eu quero ser importante pra quem me lê e quero que os meus leitores coloque a minha escrita num lugar de afeto. Quero que assim que outra boca atinja os ouvidos deles com o meu nome, venha aquela sensação: “Poxa! O escrito da Bianca me causou isso”. Tenho objetivo de lançar uma publicação por ano. [EITA!] Talvez não seja muito fácil, mas o desejo é genuíno. Quero colocar em Zine a trajetória de alguns personagens.