Beatriz Bracher é romancista, contista e roteirista.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Procuro ter rotina e há épocas da minha vida em que consigo. De manhã corro, ou faço ginástica, às nove começo a trabalhar e vou até ao meio-dia. Trabalhar significa tentar escrever, ler para o livro que tento escrever e, se tudo der certo, escrever. De tarde faço atividades variadas. Quando dá, continuo a escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre de manhã. O ritual é vir para o meu escritório (fora de casa), desligar o celular e escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Essa entrevista está sendo meio difícil. Escrevi durante anos da maneira como descrevi acima, mas nos últimos dois anos tenho apenas lido muito para um livro que não acontece, não encontro o ponto de vista, o personagem, a voz que irá contar a história. Por isso tenho me dispersado, começado a fazer outras atividades, o que tem me deixado bem triste. Então, quando eu conseguia escrever, escrevia diariamente e sem uma meta específica.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Varia de livro para livro, para alguns livros eu quase não fiz pesquisa, para outros, como esse, pesquisa é a única coisa que faço. A pesquisa, nos livros anteriores, sempre foi acontecendo durante a escrita do livro, de acordo com a necessidade da história que ia se construindo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como você pode ver nas respostas acima, lido mal. Mas a trava não é a pressão das expectativas, e gosto de projetos longos. O problema é não saber qual é o problema. Se eu soubesse, seria meio caminho para a sua solução. De qualquer forma, a área do problema é eu não achar a voz que irá contar a história do meu livro. Se eu acho a voz, a história vem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes ao longo da escrita, releio, corto, reescrevo o tempo todo. Depois de acabada a primeira versão, dou para alguns amigos e familiares e a leitura deles é essencial para mim. Depois gasto mais um ano revisando e reescrevendo o livro. (Às vezes demoro menos, mas as etapas do processo são sempre essas.)
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Notas à mão e a história direto no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não sei. A matéria prima vem de lugares que conheço: minha vida, a de meus amigos, televisão, jornal, história do país e muito dos livros que li. E de lugares que não tenho ideia, algo que só passo a saber que tinha em mim quando aparece por escrito dentro de uma história. Como se eu fosse um fio condutor de algo meio coletivo, que não é meu e se torna parte da história. Mas a imaginação para recolher e unir em uma história toda essa matéria prima eu não sei de onde vem.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sei. Gostaria de dizer que o fato de estar, quase a maior parte do tempo, mais segura de meu lugar como escritora, me trouxe paz, o que facilita o trabalho com a escrita. Mas isso não é verdade.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de fazer um romance que tivesse a ver com os fatos e lugares da Guerra do Paraguai. Gostaria muito de ler o próximo livro do Coetzee.