Beatriz Aquino é atriz e escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo os meus dias com orações. Em seguida preparo meu café enquanto assisto uma série bem leve, bem água com açúcar que é pra amansar o espírito rsrs. Somente depois desse ritual que leva cerca de 30 a 40 minutos é que ligo o celular e acesso as redes virtuais.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho muito bem pela manhã e também a tarde. Como durmo cedo tiro o período da noite para relaxar, ler algo que gosto ou assistir algum documentário.
Se estou no processo de escrita de um livro costumo dedicar toda a manhã e a tarde para esse trabalho.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Poesias e crônicas escrevo de acordo com a minha necessidade íntima de expressão ou de reflexão sobre um tema. Para isso não designo horário. Respeito o fluxo de pensamento e sensações. Já para a escrita de um livro, no caso um romance, eu preciso ser bastante disciplinada e estipulo um horário de trabalho. Geralmente das 9hs da manhã ao meio dia e depois das 14hs às 17hs ou até às 18hs.
Mas independente dessa rotina eu tenho sempre à mão um caderno de notas para registrar impressões e ideias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou uma escritora muito passional e intuitiva. Geralmente costumo me debruçar sobre um tema antes da escrita. A minha inspiração vem da observação do mundo e das pessoas ou de algo que li e que me impactou. Vou ficando atenta a esses chamados e quando finalmente me ponho a escrever a escrita vem de forma muito volumosa e fácil. É uma espécie de febre. Eu, pessoalmente tenho dificuldade em fazer pesquisa. É algo que eu precisaria aprender.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Procrastinação pra mim nunca foi um problema. Sempre me entrego ao processo com muita intensidade. Aliás, para que eu possa iniciar o processo de escrita eu já preciso estar completamente tomada pela ideia que quero passar. Escrevo de forma muito íntima e intensa. Minha escrita é uma observação do todo que me cerca, mas passa antes de qualquer coisa por mim. Não costumo me preocupar muito com o êxito. Escrevo primeiro por uma necessidade. Depois se o que escrevi for publicável já é outra coisa. Acredito que muitos escritores travem na hora de escrever pensando nas possíveis críticas. Acho isso terrível para o processo criativo. Antes de tudo temos que amar o processo e se entregar à ele. Qualquer escritor que mesmo que inconscientemente escreva por demanda ou preocupado com exigências externas sem dúvida está desperdiçando uma grande energia espontânea. Energia que é muito pessoal e que não deveria passar por crivo nenhum.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu tenho muita ansiedade em publicar os textos. Principalmente as crônicas e as poesias. Porque geralmente elas surgem de uma necessidade muita grande de expressão. Já com os livros aprendi a ter calma e enviar para pessoas de confiança. E quando digo pessoas de confiança não me refiro apenas aos bons revisores, mas sim aquelas pessoas abertas de alma e coração. Já vi muita gente largando um trabalho no meio por causa de uma crítica muito dura ou injusta.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo muito no notas do celular. Poesias e até mesmo grandes textos dependendo da necessidade. Em casa se a inspiração vem de improviso eu anoto em cadernos. Acontece de eu acordar no meio da noite para anotar uma ideia ou um e outro verso.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Acredito que tudo o que vemos, ouvimos e lemos serve de alimento. Não vejo tv há alguns anos. Assisto séries e filmes que são do meu interesse.
Já a leitura pra mim é uma pancada. É tiro e queda. Basta ler um trecho ou outro de um livro de um autor que amo para ficar embriagada por aquele universo e querer escrever sobre ele.
Tenho muitos poemas inspirados na escrita de Adélia Prado e muitas crônicas e ensaios que foram produzidos após a leitura de obras de escritoras como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Ana Cristina Cesar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou muita coisa. Mudou no estilo, na abordagem e também no enriquecimento de vocabulário que vamos adquirindo com a própria prática da escrita e principalmente da leitura. Mas vejo ainda que permaneço muito fiel a minha proposta inicial. Antes de ser escritora sou uma mulher que fala com alma em todos os aspectos da vida. A escrita é mais uma bela expressão, uma ferramenta para anunciar esse pulsar interno.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um romance épico que está inacabado justamente pela dificuldade em fazer pesquisa. Acho que existem ainda muitos livros que devem ser escritos. As autobiografias são algo que me interessam muito pela verdade que carrega.