Bárbara Rosa é doutora em Serviço Social pela UNESP e rainha do textão das redes sociais.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu confesso, acordo tarde. A minha rotina é bem bagunçada, porque eu estudo para o doutorado e ao mesmo tempo para concurso. Estou bem confusa sobre o que fazer financeiramente. Além disso, cuido de três Instagram, o que me toma muito tempo. Acho que a maioria dos escritores, não vivem da escrita, temos que cumprir outras funções. Isso me causa uma frustação, não ter tempo integral para minha escrita, ter que compartilhar meu tempo com o doutorado e estudo para concurso, em breve com um trabalho público. Outra coisa, que atrapalha a minha rotina, é o escritor ser seu próprio marketing, além de escrever, temos que nos preocupar com a divulgação, com rede sociais, seguidores e engajamento. Normalmente eu começo meu dia tomando ou um chá gelado ou quente, depois vou para o Instagram fazer algumas postagens e estudar. O período da manhã é um período sem escrita para mim. Mas tempo arrancar das minhas atividades rotineiras alguma escrita, alguma conciliação com a escrita. Mesmo a escrita acadêmica sendo um espaço muito diferente do literário, já é uma pequena conexão que consigo fazer em meu dia-a-dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
É triste o que vou confessar para vocês, mas o período que eu mais escrevo é noturno. De noite, depois que eu fiz todas as obrigações do dia, eu tiro um tempo para a escrita literária. Escrevo resenhas para um Instabook que eu tenho chamado @datilograftos. Mas a minha verdadeira paixão são as crônicas, escrevo toda semana para o meu Instagram @barbararosaescritora, são temas cotidianos, mas normalmente eu abordo temáticas feministas e do universo feminino. Além dos textos curtos recentemente comecei uma novela. Mas não é todo dia que eu estou animada para escrever, por isso uso esse período da noite para ler literatura ou estudar escrita criativa, através de vídeos e livros. Sempre procuro fazer oficinas gratuitas de escrita. Acho que temos que escrever sempre, eu escrevo frases, tenho diários, é importante se aproximar da palavra. Uma sugestão que eu dou é fazer uma caixinha de palavras e quando as ideias sumires, pegar uma e arriscar um texto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho metas diárias, mas semanal. O meu mínimo é escrever um texto por semana, essa tem sido a minha meta. Toda segunda-feira ás cinco e meia posto uma crônica. Um compromisso que eu criei com minhas leitoras. Sabendo que elas estão esperando um texto, tenho que criar, tem semanas que a primeira versão é a que é postada. Tem outras vezes, que mudo o tema, reescrevo e refaço. Não tenho um livro físico, mas só de ter leitoras-seguidoras que acompanham meus textos no Instagram já me deixa satisfeita. Espero um dia concretizar essa novela e o sonho de ter um livro físico. Por enquanto, sigo na rede social e com os meus Fanzines. Para quem não conhece meu trabalho, tenho três Fanzines, que são publicações curtas e independentes, eles versam sobre o universo feminino e estão disponíveis gratuitamente no link da minha bio do Instagram.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo de escrita é caótico, porque eu faço o que me tenho vontade, estou com vontade de fazer um poema, um poema-colagem, uma crônica, um conto, eu faço. Por postar meu conteúdo na rede e em Fanzines, que são revistinhas independentes, tenho muita liberdade de criação e experimentação. Mas sinto falta de um romance, de uma produção mais consistente, espero que essa escrita flua futuramente. A pesquisa também é uma forma de escrita, não tão livre como a literária, mas também relevante. No meu doutorado de Serviço Social, pesquisei as mulheres negras catadoras de materiais recicláveis a partir da obra da escritora-catadora Carolina Maria de Jesus. Foi uma escrita e pesquisa de quatro anos, um trabalho incrível que eu tenho procurado algumas editoras para a possibilidade de uma publicação em formato livro. Apesar da pesquisa ter mais regas, ela ainda ocupa um espaço importante de escrita, visto que é o modo como você apresenta a sua pesquisa, os resultados e análises conquistados.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tenho dificuldade de trabalhar em projetos longos. Acho porque recentemente sai de um doutorado de quatro anos, em que trabalhei para a construção de uma pesquisa. Acho que eu não tenho uma resposta para essa pergunta, porque eu simplesmente travo e procrastino. Acho que isso é normal, a escrita é ao mesmo tempo que trabalho, é inspiração. Tenho medo de fazer algo que eu amo, virar algo que eu detesto e odeio. Por isso, eu a deixo muito solta na minha vida, sempre próximo a ela, mas se tiver que abandonar um projeto longo por uns meses, para tomar um ar. Eu abandono, não tenho problema com isso. Tudo tem seu tempo, acho que temos que amadurecer nossa escrita e isso não ocorre da noite para o dia. Paciência também é importante.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu não sou a pessoa da revisão. Eu mostro processos. As pessoas corrigem meus textos depois que eu postei, tem textos que eu volto e acho algum erro. A perfeição não é uma preocupação minha. Eu gosto de compartilhar, de construir conjuntamente, acho que o erro faz parte da escrita, pelo menos da minha escrita. Acho que o ponto positivo da internet e dos Fanzines, é essa liberdade de criar sem medo, de assumir os erros, de conviver com a imperfeição. Acho que não cabe isso em um livro, pronto e publicado por uma editora, mas acho que você enquanto indivíduo sozinho que mostra seu trabalho, deve se permitir errar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu misturo muito os dois jeitos. O analógico te dá uma liberdade maior de criar, de rabiscar, de colar, de desenhar, de rasgar e jogar fora. Eu sou antiga, confesso que eu gosto de ler livro de papel e de escrever à mão. Mas não sou inimiga da tecnologia, acho as redes um espaço democrático para mostrar e conhecer novos trabalhos, principalmente de mulheres escritoras. O digital é excelente espaço para a revisão e edição, o próprio Word corrige algumas palavrinhas para você. Acho que os dois se complementam e devem andar juntos na construção de um bom texto. Minha tese de doutorado “Carolinas, catadoras de sonhos” foi escrita à mão e depois passada para o computador, nessa segunda escrita percebi repetição de palavras, melhores verbos que poderiam ser usados, o texto original foi aprimorado.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Existe um livro que me ajudou muito nessa parte que é o “Caminho do artista” é simplesmente fabuloso. A escritora fala que temos que resgatar nossa criança interior, cuidar dela e fazer suas vontades. Pelo menos uma vez por semana você deve passar um tempo com sua criança. Por exemplo, eu quando pequena gostava de colagens, então eu tiro um tempo para fazer isso ou assistir um filme. Fazer algo sem motivo, perder tempo é muito importante para a criação. Eu tenho além de revistas antigas para colagem, uma caixinha de palavras, que eu pego uma e escrevo um texto sobre. Além disso, recentemente comecei um diário-visual onde coloco palavras, imagens, tudo que eu quiser. Muitas pessoas também aconselham observar o dia-a-dia e anotar num caderno. Eu tento fazer um pouco disso tudo. A ideia é encher o poço, fazer o que quer e o que gosta, criar material para pode se expressar através das palavras.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria o mesmo que eu diria para mim hoje e para mim de amanhã. Não desista e continue escrevendo. Só isso. Escreva.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Bom, eu já comecei, minha novela. É um livro que fala sobre mim, minha vida, mas sem deixar de ser uma ficção.