Ayumi Teruya é escritora, estudante de psicologia na Universidade de Buenos Aires.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Meus dias de semana seguem uma rotina constante, no horário da manhã saio para trabalhar, no período da tarde vou para a faculdade (três vezes por semana) e nas tardes livres costumo ler o material da faculdade ou fazer as atividades que pedem, o horário da noite é dedicado para descansar, ler ou escrever.
Os fins de semanas são bem diferentes, geralmente escrevo ou faço alguma outra atividade prazerosa no horário da manhã e durante a tarde descanso ou produzo conteúdos para o blog, penso em projetos ou simplesmente saio com meus amigos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre trabalhei melhor no horário da manhã e da noite, de tarde sou praticamente uma zumbi. Costumo escrever com uma boa xícara de chá ao meu lado, às vezes escuto música ou leio algumas páginas anteriores para entrar no clima do livro e voltar no narrador.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Por conta da rotina não costumo ter uma meta diária, tento escrever um pouco todos os dias, nem que seja sentada no metrô voltando para casa. Sempre levo comigo um caderno ou escrevo no bloco de notas do celular. A produção massiva se dá mais no sábado de manhã.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita se baseia mais naquilo em que tenho vontade de escrever no momento, por isso começo várias histórias ao mesmo tempo. Costumo fazer anotações ou arquivos separados com detalhes importantes de cada história, perfis de personagens e lugares. Se escrevo sobre um assunto que não conheço, costumo fazer uma longa pesquisa com vídeos, artigos, textos e procuro fontes que sei que são confiáveis. Uma vez escrevi sobre autismo, nada muito profundo, mas mesmo assim assisti vídeos de pessoas autistas para conhecer mais da visão deles e não a descrição padrão que podemos encontrar em qualquer lado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Em situações assim procuro ler o que escrevi antes ou até mesmo começar um pequeno texto ou conto para explorar outras ideias e não bater sempre na mesma tecla que me travou. Em relação ao medo de não corresponder às expectativas, sempre busco alguns leitores beta para que digam o que acham do livro e também passo por um longo processo de reescrever o livro até chegar em um ponto em que é satisfatório para mim. Trabalho a ansiedade fazendo outros projetos por separado e avançando ao meu ritmo, cada história deve ter o seu tempo de maduração.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende muito de cada projeto, na maioria das vezes reviso como quatro vezes quando são textos menores. Agora com projetos mais longos é outro processo que pode durar anos. Sim, geralmente mostro para amigos que sei que gostam desse estilo literário ou procuro leitores beta.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
É uma troca constante, desde que seja um lugar que eu possa escrever, eu irei escrever. As primeiras ideias, como pontos iniciais, eu costumo escrever em um caderno, já a história em si seria no computador. Também costumo escrever trechos no meu fiel caderninho para logo passar para o computador. O que noto é uma diferença ao escrever à mão e no computador, quando a escrita é mais palpável (à mão) sinto que as palavras saem mais poéticas ou até mesmo sérias, já no computador sinto que sou mais espontânea e posso acrescentar comentário mais divertidos e irônicos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As minhas ideias podem vir de diferentes lugares: sonhos, uma música que escutei, filmes que vi, situações que presenciei ou até mesmo ao observar um desenho que fiz. Lembro que uma vez fui à psicóloga e ela me pediu para desenhar algo, desenhei uma casa e logo ela pediu para que eu contasse quem vivia nessa casa e o que essa pessoa fazia. A partir disso surgiu uma nova história.
Para me manter criativa, costumo ler, participar de desafios criativos como os do Projeto Escrita Criativa (o qual eu sou uma das moderadoras), também assisto filmes ou simplesmente vou até uma praça e observo tudo ao meu redor.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Antes era algo muito mais impulsivo, a escrita era muito crua e eu deixava muito por parte da imaginação dos leitores, usava muitos diálogos em lugar de descrição, o que era um erro gigantesco, já que os diálogos não contribuíam para o desenvolvimento da história. Acredito que diria para a minha eu do passado ler os livros com mais atenção, com um olhar mais crítico em relação à estrutura e como o autor usou diferentes ferramentas para avançar na história, como foi a construção dos personagens e o uso que deu para os diálogos e descrições.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho a ideia de um livro que conta a história de várias mulheres e seus preconceitos, essa seria a ideia geral, mas ainda falta trabalhar mais na forma em que construirei e os pontos a serem abordados. Não faço a menor ideia de que livro gostaria de ler e que não exista, talvez um livro que conte uma história com um ponto de vista diferente ou com um personagem muito real que chegue a chocar-nos com essa grande dose de realidade, mas que ao mesmo tempo saiba trabalhar com pontos de fantasia.