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Como escreve Arisson Tavares

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Arisson Tavares é escritor, jornalista e cartunista.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Normalmente começo o dia ouvindo músicas motivadoras ou então assistindo o jornal para ter uma prévia de como está o mundo.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

De noite eu “funciono” melhor. Antes de sentar para produzir, costumo já explorar a ideia mentalmente durante o dia. Pego o notebook já com uma boa base do que vou produzir formulada para otimizar o tempo.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Nos dois primeiros livros, o ritmo foi mais lento por se tratar de crônicas. Um dia eu lia para relaxar, no outro estudava sobre os temas abordados, no dia seguinte escrevia, no outro revisava… Enfim, não tinha tanta obrigação pessoal. Já no terceiro livro, estipulei meta para conclusão e mergulhei no universo que criei por se tratar de um romance. Foram dias formulando a ideia e 30 dias de férias para escrever. As duas experiências deram muito certo.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

Graças a Deus, nunca tive nenhum bloqueio na hora de começar a escrever. É exatamente o contrário. Quando estou triste, escrevo para aliviar a alma e até mesmo dizer para mim mesmo o que preciso ler. Quando estou feliz, escrevo porque estou transbordando ao ponto de compartilhar um sentimento positivo com os leitores. Quando estou com raiva, escrevo para expor minha indignação. Respeito muito o meu tempo. Quando estou com sono ou cansado, faço algo para relaxar e volto firme para produzir mais. Como sou jornalista, a pesquisa está presente em todos os momentos da criação.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Quando vejo que não estou no clima de um projeto, começo a ler novamente os primeiros capítulos para estimular a mente e encontrar a essência da obra. Busco aquela chama que me fez iniciar a escrita. Além disso, esse processo me coloca no lugar do leitor durante a produção e reformulo ideias. No meu novo livro, por exemplo, quando achava que o capítulo estava indo para um caminho óbvio, dava uma reviravolta na história e tomava outro rumo na narração. Isso torna a obra bem mais dinâmica, mesmo você estipulando na mente o início meio e fim da ficção. É como escolher o destino, olhar no mapa e ir sem GPS. Não dá para ir reto. A estrada vai te conduzindo e você escolhe se vai entrar em uma rua ou em outra fugindo do engarrafamento. Pode dar uma volta, mas isso torna a aventura mais divertida.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Tenho alguns leitores que sempre envio os primeiros capítulos para saber se estou no caminho certo. Lembro-me de uma frase de um amigo escritor: nunca finalizamos um livro, só desistimos do projeto e entregamos para a impressão. Acaba sendo isso mesmo. Li várias vezes o original e mexi várias vezes. É normal. É como preparar uma festa surpresa para alguém e ficar aguardando dar a hora. Você sabe que está tudo pronto para o grande momento, mas sempre que olhar, vai querer mudar alguma coisa de lugar ou alinhar novamente um prato na mesa.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

Tenho todos os rascunhos dos dois primeiros livros, mas a maioria das minhas produções foi feita no notebook mesmo. Normalmente, uso o papel só como material de apoio, descrevendo os personagens, estudos e ideias. Faço as anotações necessárias para não me perder na narração.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

No meu caso, as ideias surgem de conversas com amigos, de fatos vividos ou de um questionamento ao ver algo. Enfim, para mim, escrever é colocar tudo isso no papel. Sou uma esponja que absorve muita coisa durante o dia a dia. Viver e conviver estimula muito a criatividade.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Amadureci muito por conta de fatos da minha vida. Hoje sou casado e pai de uma menina de três anos. Minha mente expandiu e acredito ainda mais na minha responsabilidade ao escrever. Se eu pudesse voltar no tempo e me encontrasse, ao invés de dizer algo, me abraçaria e agradeceria por tudo que minha persistência me proporcionou. Sou grato por olhar para trás e ver aquele moleque determinado.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Depois de ler vários livros para minha filha, pensei em produzir um livro infantil ilustrado. Quem sabe em breve… Em relação ao livro que ainda não existe, estou curioso para ler o que terá nos livros de história daqui a 50 anos sobre o cenário atual.

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o editor

José Nunes é editor da Colenda.

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