Antonio Marcos Abreu de Arruda é poeta e doutor de si mesmo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quando há sol entrando pela janela da alma é mais fácil despertar, ainda que seja desvirginar o subconsciente do sonho à realidade. Sim, o ato de perceber-se vivo é uma rotina que acontece às vezes ao meio-dia e meia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A qualquer lampejo de lucidez e razão proporcional ao tragicômico sonho anterior e ao lembrar que o papel em branco é sentença de morte, ou toda sorte de falta da libido. Prefiro meu silêncio mordaz posto na folha à ter que fazer apneia quântica.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sem meta, mas com a própria metodologia do caos criativo, por vezes há um temporal de prosas e versos e vice e versa, nem sempre o que versa na mente é concreto no branco papel.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Uma chuva de ideias correlatas com corriqueiras paródias ou emoções extraconjugais do vizinho facilita a dialética de todo axioma.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevo desde a tenra infância, aos oito poeminhas inocentes e um singelo diário despiam minha juventude. Hoje lido como com qualquer medo de gente viva a morte e a finitude dos meus escritos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso meu primeiro poema até hoje, quando na infância minha mãe tomou-me o diário passei alguns meses até retomar a escrita que veio a ser uma religião a deusa perfeita e cúmplice de toda verdade mesmo que banal.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Há um certo tempo escrevo mais em meu eletrônico, mas com o olhar viçoso de minha Olivette de 1994.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Quando estou entre sonos me ponho desperto por vezes, tomo nota do que se passa em minha mente e durante o dia ou ao retorno da noite costuro os retalhos até formar o tecido literário como faz naturalmente o bicho Seda.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Fiquei cada vez mais autocritico de mim mesmo, às vezes rabugento e exigente demais, quando era mais jovem era mais desprendido de verdades, hoje fujo de estereótipos ou estilos fixos, tudo é tão experimental na vida, não haveria regra mais certa na escrita que um bocado de incertezas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um romance não autoral, porém com alguns traços bibliográficos de um romance que não vivi.