Antônio LaCarne é escritor, autor de “Salão Chinês” (Patuá, 2014), “Todos os poemas são loucos” (Gueto Editorial, 2017) e “Exercícios de fixação” (AR Publisher, 2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo sempre antes das seis da manhã, onde me organizo para cumprir o meu trabalho como professor. Essa rotina ocupa grande parte do meu dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
O meu trabalho literário realizo durante a noite. O ritual de preparação é instintivo, alguma ideia ou inspiração pode surgir a qualquer momento, mas é antes de dormir que me sinto realmente pronto para concatenar as impressões que tive durante o dia, através de notas, mas os textos costumam sair de uma vez só.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias, mas não há meta em termos de quantidade de material. Muitas vezes pode surgir uma frase de efeito ou simplesmente um texto maior onde, aos poucos, vou finalizando e transformando em um conto. Já os poemas surgem de uma vez, pois é na poesia que eu exerço as minhas subjetividades, sem qualquer julgamento prévio.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo é muito simples. Como maior incentivador de minha própria obra, não costumo exercer grande pressão sobre a produção dos meus textos. Considero a minha produção como híbrida, colcha de retalhos onde insiro diferentes temas e abordagens, contribuindo para o resultado final. A pesquisa se mistura à escrita num processo que, muitas vezes, vai se desenrolando às cegas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
As travas na escrita não costumam ser constantes, mas quando elas surgem, tento dar tempo ao tempo e “esperar” que o momento ideal surja. Como as expectativas são sempre pessoais, não considero algo negativo, pois é também na frustração e na tentativa de escrever algo que os meus textos se baseiam. A tentativa é o que me atrai mais.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Os textos são sempre revisados, com exceção dos poemas que surgem inesperadamente. Com o meu livro de contos “Exercícios de fixação”, pedi a opinião de alguns escritores, pois foi a minha primeira investida oficial na prosa, e eu precisava de um feedback mais técnico. Alguns contos surgem prontos, em outros há um trabalho exaustivo de revisão e análise.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia é papel fundamental no meu trabalho literário, pois me aproxima melhor do leitor e de outros escritores, poetas, pesquisadores. É através da internet que o texto alcança novos ares e posso divulgá-lo de forma mais consistente. Escrevo à mão e no computador. Ando sempre com cadernos para anotar impressões e tomar nota sobre alguma ideia que surge.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias surgem da própria vida, da minha relação com o mundo e com as pessoas. O hábito que eu cultivo é sempre me manter atento ao que me rodeia, ao que a sociedade proclama como certo ou errado, às minhas perspectivas de mundo e realidade. Ler também é uma grande inspiração.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Escrever é um exercício de descobrimento. Acredito que no decorrer do tempo tenho tentado fugir das zonas de conforto. Busco explorar ao máximo as minhas capacidades, e ao mesmo tempo acredito no meu próprio ritmo, pois não adianta correr além das pernas. Nos meus primeiros poemas, eu ainda era muito influenciado pela literatura confessional. Hoje em dia, essa influência ainda permanece, porém tento buscar a minha própria forma e método de contar uma história, fugindo de qualquer mimetismo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho planos para escrever um romance, principalmente após o incentivo de uma escritora que admiro, a Claudia Lopes Borio, que leu meu livro de contos e disse que o meu próximo passo deveria ser um romance. Não sei qual livro eu gostaria de ler, mas que não existe. Se você sente prazer e acredita na leitura como alimento, os livros certos chegarão às mãos na hora certa.