Antonio Juraci Siqueira é licenciado pleno em Filosofia pela Universidade Federal do Pará.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sempre fui madrugador desde menino quando vivia às margens do rio Cajari, no Marajó, é precisava levantar cedo para trabalhar nos seringais. Na década de 80, já em Belém, trabalhando como açougueiro, a rotina começava às 4h e, entre um corte e outro, os poemas iam sendo rabiscados em folhas de papel de embrulho. Assim nasceram meus primeiros livros, molhados de suor e sangue. Hoje, na era das redes sociais e na pele de professor que precisa estar cedo na escola, acordo às 5h para atualizar e limpar conversas dos grupos de WhatsApp, postar alguma coisa no Facebook e, quando dá, escrevo algo no ônibus a caminho do trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor?
Escrevo a qualquer hora, mas prefiro as primeiras horas do dia.
Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Absolutamente nenhum. Pintou a ideia, prendo-a como posso, de qualquer jeito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não. Como falei acima: escrevo quando dá, já que a literatura para mim não é profissão mas a minha própria razão de ser e estar no mundo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meus escritos alimentam-se da memória e da imaginação e raramente lanço mão da pesquisa.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho esse tipo de “grilo”. Por não ter contrato nem compromisso com nenhuma editora, escrevo o que gosto e quando quero, que tanto pode ser um conto, uma crônica, um poema ou outro gênero qualquer. Escrevo e publico sem me preocupar com a crítica, escrevo pro mundo, quer ele leia ou não.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende. Tem texto que já nasce pronto sem carecer de ajustes, outros que precisam ser revirados pelo avesso para ser aproveitados e alguns são abandonados ao nascer. No início de carreira costumava mostrar para amigos, hoje muito raramente faço isso.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Antes escrevia tudo à mão. Tenho livros inteiros escritos em agendas. Hoje uso mais os blocos de notas do celular, como estou fazendo neste instante, dentro de um coletivo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
De situações reais ou imaginadas e sempre aumentadas para legitimar o dito de que “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Minhas criações são espontâneas e livres sem nada que as prendam a qualquer tipo de hábito.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Fora os recursos tecnológicos, praticamente nada. Nada diria a mim, apenas usaria os recursos atuais para ganhar tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sou o mais prático dos mortais e meu futuro é agora. Vivo cada instante como se fosse o último, pensamento expresso nesta trova:
Viva o hoje sem revolta,
o amor é o bem não dispense
que o ontem nunca mais volta
e o amanhã a Deus pertence.